10 HQs para rir durante a quarentena

Como o isolamento social é a forma mais indicada para lidar com o coronavírus, muitos países pelo mundo adotaram uma quarentena para que milhões de pessoas fiquem em casa até a pandemia ser controlada. Com uma nova rotina quase toda em confinamento, é possível que esse período seja um pouco duro para aqueles que não estão acostumados. Para ajudar a passar o tempo de forma divertida, listamos abaixo 10 HQs perfeitas para quem quer rir e se divertir em casa:

Não é segredo para ninguém que o Gavião Arqueiro nunca foi um herói muito popular dentro do panteão da Marvel, ganhando mais destaque como parte de equipes como os Vingadores. Surfando na popularidade que Clint Barton ganhou nos cinemas, a Casa das Ideias lançou em 2012 uma HQ solo do personagem escrita por Matt Fraction. O que parecia um caça-níquel se tornou um dos melhores quadrinhos da última década ao colocá-lo em aventuras cheias de ação humor.

Consciente de que o grande público - e mesmo os leitores de quadrinhos - estão mais acostumados a acompanhar Clint Barton em missões ao lado dos Vingadores, a equipe parte da premissa de mostrar o que ele faz “quando não está sendo um Vingador”. Isso inclui churrascos com os moradores de seu prédio, adotar um cachorro e combater a máfia russa que extorque seus vizinhos. Com esse ponto de partida, o herói e sua parceira Kate Bishop, a Gaviã Arqueira, protagonizam uma das HQs mais empolgantes dos últimos anos, unindo uma ação frenética, grande foco na narrativa ágil e um texto hilário - mesmo em seus momentos mais dramáticos.

Gavião Arqueiro de Matt Fraction foram publicados no Brasil pela Panini.

“Um lutador chamado Protagonista entra num torneio de artes marciais no Bronx para se vingar daquele que arruinou a sua vida: o Antagonista”. A descrição de HQ de Briga não poderia ser mais simples e completa que isso. Escrita e desenhada por Silva João, a webcomic brinca com os clichês dos mangás e filmes de luta, em que o herói precisa passar por diversos desafios mortais até finalmente ter a chance de ter a tão prometida vingança. Livre para se aproveitar e rir das regras desse gênero, o quadrinista criou uma sátira empolgante e divertida.

Além do roteiro, o quadrinho se destaca pela arte de Silva João, que utiliza traços simples para criar uma narrativa fluida. Para criar combates empolgantes, o quadrinista experimenta na diagramação das páginas, cenários, poses e habilidades especiais. Com personagens que equilibram estereótipo e características marcantes, o quadrinho cativa, empolga e, em questão de poucos quadros, faz com que o leitor se pegue torcendo pelo sucesso do Protagonista.

A HQ, que pode ser lida online, foi publicada de forma independente por Silva João.

De vez em quando surgem quadrinhos com premissas tão absurdas que ficam na tênue linha entre incrível e terrível. É o caso de Motoqueiro Fantasma Cósmico, HQ que imagina uma realidade alternativa em que Frank Castle, o Justiceiro, fez um pacto com o diabo e se tornou o Motoqueiro Fantasma, para depois ainda se tornar um arauto de Galactus, de quem recebeu poderes cósmicos. Com uma origem no mínimo bizarra, o quadrinho fica ainda mais maluco quando revela que a motivação do herói é voltar no tempo e matar Thanos ainda criança para impedir que o Titã Louco cresça e se torne uma grande ameaça (plano citado, inclusive, em Vingadores: Ultimato). Porém, quando o momento chega, o Motoqueiro decide tentar uma coisa diferente e adota o futuro vilão em uma tentativa de criá-lo longe de violência. Pois é…

Contrariando toda e qualquer expectativa, o quadrinho de Donny Cates é excelente e consegue como poucos segurar o tranco com uma história tão absurda que chega a fazer sentido. Retomando o Motoqueiro Fantasma Cósmico, personagem criado como coadjuvante no período em que escreveu a revista do Thanos, o roteirista cria situações hilárias com a constante tentativa de Frank Castle de evitar que o pequeno bebê roxo testemunhe eventos violentos para protegê-lo da maldade. Todo o desenrolar da história, apresentando uma espécie de “Thanos Justiceiro”, é completamente hilariante e absurda, se valendo de Deus Ex Machinas, clichês e diversas referências ao Universo Marvel em um pacote tão satisfatório quanto bizarro.

• Leia a crítica de Thanos Vence, HQ que apresentou o Motoqueiro Fantasma Cósmico

Motoqueiro Fantasma Cósmico foi publicado no Brasil pela Panini.

Se o assunto é HQ hilária com premissa absurda, existe um lugarzinho reservado para Úlcera Vortex. O quadrinho começa com o genial cientista Loépio de Deus tendo sucesso com a Máquina de Encolher, invento responsável por curar o câncer de mais de 900 mil pessoas. Mesmo com o reconhecimento gerado pela máquina, que lhe rendeu o Prêmio Cadu Moliterno Science (você não leu errado), ele se sente rejeitado por conta de seu mau-hálito crônico. Para curar-se do mal, ele faz uma fórmula que retira o mau cheiro, mas acaba criando uma úlcera que é um buraco negro interdimensional infestado por criaturas que querem passar para o outro lado e conquistar a Terra. Para impedí-los, Loépio entra em contato com Adriano Gás, o entregador de gás do bairro, que pode conter a invasão com suas habilidades tecnológicas e de kung-fu.

Escrita e desenhada por Victor Bello, Úlcera Vortex é uma jornada de ficção científica permeada por um humor absurdo, nonsense e por vezes escatológico. Com uma gama de personagens cativantes e asquerosos, o quadrinho é repleto de referências inusitadas que, na mesma medida, homenageiam e riem de clássicos da cultura pop, especialmente por adicionar traços brasileiros à clichês de obras internacionais. Com uma arte engenhosamente tosca, Bello entrega um dos quadrinhos mais divertidos dos últimos anos.

Úlcera Vortex foi publicado pela Escória Comix.

Laerte Coutinho é uma das maiores quadrinistas do Brasil, com uma extensa bibliografia que vai desde tirinhas em grandes jornais do país, até uma importante participação em clássicas revistas como Circo e Chiclete com Banana. Em mais de 40 anos de carreira, a artista deu vida à personagens icônicos como os Piratas do Tietê, Lola, a Andorinha e Hugo Baracchini. Com uma produção tão extensa era até difícil saber por onde começar a ler a obra da autora, até que no início de 2020 teve início Laerte Total, uma coleção reunindo todas as tirinhas e HQs da artista.

O primeiro volume, chamado O Condomínio, reúne todas as tiras da série homônima, que começou a ser publicada no Jornal do Brasil em 1986. As histórias acompanham o cotidiano de um condomínio que tem como moradores o desligado Zelador, o sempre irascível Síndico, o mafioso Don Luigi e até mesmo o famoso casal Gato e Gata. Com tirinhas que, em grande parte, estavam fora de catálogo há anos, a publicação ilustra bem a evolução de Laerte na década de 1980, tanto em seus traços quanto no desenvolvimento de roteiros cada vez mais ousados e hilários.

Laerte Total está em publicação pela Z Edições.

Scott Pilgrim é um adolescente comum que sonha em fazer sucesso com o Sex Bob-Omb, sua banda de rock independente. A vida do rapaz muda quando ele conhece Ramona Flowers, uma garota nova na cidade que desperta sua atenção quase imediatamente. O que parecia ser o início de um belo romance na verdade se tornou uma trabalhosa jornada já que para, ficarem juntos, Scott precisa derrotar a Liga dos Ex-namorados do Mal de Ramona, grupo composto por sete antigos amores da garota de cabelos coloridos.

Escrito e desenhado por Bryan Lee O'malley, o quadrinho é uma empolgante jornada que se inspira nas mais variadas áreas da cultura pop, indo dos videogames aos mangás com um pézinho na música. Nessa jornada, que é essencialmente uma história de amor cheia de porradaria, os personagens ganham vida com camadas desenvolvidas em situações cotidianas. Scott, por exemplo, consegue ser um completo babaca em diversas oportunidades, mas seu grande carisma prende o leitor, que inevitavelmente torce para que ele derrote o passado de sua namorada. Porém, além da parte amorosa e da ação empolgante, o quadrinho está cheio de um humor que varia entre o sarcasmo e o pastelão, criando uma leitura totalmente divertida.

Scott Pilgrim Contra o Mundo foi publicado no Brasil pela Cia. das Letras.

Hell No! conta a história de Lúcio, um garoto filho de uma humana com o próprio Diabo. Por sua natureza de semi-demônio, o garoto frequenta a escola no inferno, onde precisa lidar com Bel (diminutivo de Belzebu) e Satã (diminutivo de Satanás), seus meio-irmãos que fazem de tudo para que o garoto não se sinta à vontade no reino que um dia governarão. Seu único amigo é Bafinho, o Bafomé Junior, um demônio nerd que sofre bullying na escola por ser fã da Bíblia.

Escrita e desenhada por Léo Finocchi, Hell No! faz uso do imaginário satânico na cultura pop em uma sátira bem-humorada. Lúcio é um protagonista cativante por enfrentar problemas facilmente relacionáveis, como a adolescência e a vida escolar, até alguns mais “infernais”, como ser vítima de pegadinhas e perseguição por ser meio-humano.

A HQ, que pode ser lida gratuitamente no site Tapas, foi publicada pela Balão Editorial.

Em 2019, o quadrinista Camilo Solano lançou O Fio do Vento, quadrinho com uma premissa inusitada. A história tem combina o tema assobio com uma narrativa que “caminha como o vento”, cheia de eventos inesperados que modificam seu rumo de forma inesperada. Nesse contexto, o quadrinho não tem um protagonista específico. Quem chega mais próximo disso é Adelson, que ganhou o apelido de “lábios de mel” graças ao seu grande talento em assobiar. Porém, através de uma sequência de eventos desastrosos, o rapaz se envolve em situações no mínimo incomuns.

Apresentando personagens que poderiam facilmente ser velhos conhecidos do cotidiano do leitor, O Fio do Vento aborda laços como amizade e família por eventos cômicos e inusitados. Ao longo de 100 páginas o quadrinho dá voltas inesperadas em uma narrativa ágil, divertida e por vezes comovente.

O Fio do Vento foi publicado pela editora Veneta.

Dias Gigantes acompanha Susan, Daisy e Esther, garotas que se tornaram amigas logo após entrar para a faculdade. Narrando o cotidiano do trio, o quadrinho aborda com bom-humor a transição para a vida adulta pela perspectiva de personagens muito diferentes. Passando por situações que vão desde um resfriado, até questões mais sérias como término de relacionamento, bullying e machismo, o trio cativa ao balancear simplicidade e carisma.

Com roteiro de John Allison e arte de Lissa Treiman, Dias Gigantes encanta pela união de um roteiro simples e certeiro com uma arte envolvente. Se o texto confere camadas às suas personagens com diálogos rápidos, os desenhos cartunescos e expressivos dão identidade às personagens, muitas vezes traduzindo seu estado de espírito através de detalhes como a postura corporal ou os olhares. O quadrinho faz tanto sucesso que venceu o Prêmio Eisner, o Oscar dos quadrinhos, nas categorias Melhor Série e Melhor Publicação de Humor em 2019.

No Brasil, Dias Gigantes foi publicado pela Devir.

Mayara e Annabelle formam uma dupla dinâmica, que meio que se odeia, mas trabalha muito bem contra as forças do mal. Após quase ser exonerada da Secretaria de Controle de Atividades Fora do Comum de São Paulo por se meter onde não devia, Mayara foi transferida para o Ceará, onde precisa lidar com Annabelle, Assessora Técnica em Magia local que queria mesmo era um estagiário para preencher seus formulários. Dividindo um escritório que vira um barril de pólvora prestes a explodir, elas precisam deixar as diferenças de lado para combater uma antiga ameaça que não surgia há quase duas décadas.

Com arte de Talles Rodrigues e roteiro de Pablo Casado, Mayara & Annabelle traz uma ótima combinação entre humor e ação frenética. Altamente cativante pela relação disfuncional entre as protagonistas, que fazem o melhor estilo “amigas rivais”, o quadrinho empolga também pelos mistérios em torno da dupla, que ficam no ar desde o início com a quase expulsão de Mayara da corporação. Com traços dinâmicos e textos afiados, o quadrinho é uma ótima pedida para quem curte porradaria e buddy-cop, nome dado a comédias policiais estreladas por duplas improváveis.

Mayara & Annabelle, que pode ser lida online no site Tapas, foi publicada de forma independente pelos autores.