A estreia de Jeon Jong-seo como atriz foi uma estreia de gala: em 2018, ela estrelou o elogiadíssimo Em Chamas, de Lee Chang-dong, um épico de 2h30 no qual era objeto da disputa entre Yoo Ah-in e Steven Yeun. Impelida ao panteão de superestrelas do país, ela logo foi absorvida pelo ecossistema dos k-dramas, encarnando a Tóquio do remake La Casa de Papel: Coreia e aterrisando este ano em Casamento Impossível, que cimentou o seu lugar de destaque também na telinha.
Em entrevista ao Omelete, Jeon confessou que se considera sortuda por trabalhar em um momento no qual as barreiras entre as duas mídias estão se dissolvendo: “Se você comparar com a literatura, acho que filmes são poesia, e séries de TV são romances… mas, no passado, os assuntos abordados nas séries de TV e nos filmes eram distintamente diferentes. Desde o advento das plataformas de streaming, os limites foram muito quebrados e os atores podem oferecer atuações mais flexíveis”.
Um sinal claro dessa diversificação de temas é a forma como Casamento Impossível trata uma questão que ainda é tabu nos canais tradicionais de TV da Coreia: a homossexualidade. Na trama, Jeon interpreta uma atriz em busca de trabalho, que topa um casamento de fachada com o seu melhor amigo, um jovem herdeiro que esconde a sua sexualidade, quando a pressão sobre ele aumenta após o patriarca da família indicar que deseja apontá-lo como sucessor no comando dos negócios.
“Eu não tenho preconceitos pessoais sobre esse assunto”, comentou a atriz ao Omelete. “Todos temos o direito de ser livres quanto às nossas preferências. Acho que o ator Kim Do-wan, que interpretou Do Han na série, fez um lindo trabalho retratando esse aspecto”.
O elogio ao colega de elenco é oportuno: Kim Do-wan assume o papel do herdeiro gay em momento chave de sua carreira, após ganhar espaço com personagens coadjuvantes em k-dramas de sucesso como Meus Dezoito Anos, Apostando Alto e, mais recentemente, Doona!, exibido na Netflix. É um passo ousado, sim, mas também mostra que, aos poucos, personagens LGBTQIA+ está se tornando menos “coisa de nicho” no terreno da TV sul-coreana - enquanto antes eles só existiam nas produções do gênero boys love, normalmente lançadas por plataformas de streaming e canais menores, agora eles começam a aparecer no mainstream.
Jeon, inclusive, fez um balanço dessa contradição em nossa entrevista, indicando que ela pode estar no coração do que faz a cultura sul-coreana ser tão bem sucedida ao redor do mundo: “Penso que existe um sentimento único na Coreia. Por vezes, é um país muito conservador - e, no entanto, pouco convencional. Nós, sul-coreanos, vivemos nosso dia a dia nessa lacuna, e acho que ela provoca a imaginação dos criadores de histórias”.
“Nutro imenso respeito aos inúmeros artistas, músicos e atores que criaram o caminho para que pudéssemos atingir o público internacional, através de intensa consideração”, continuou. “As obras deles já foram amadas por tantas pessoas, e acho que foi assim que a cultura sul-coreana se tornou popular”.
De qualquer forma, ela garantiu que consegue se relacionar perfeitamente com as angústias de sua própria personagem na série: “Milagrosamente, já dei sorte no meu primeiro filme, ao contrário do que acontece com Na Ah-jung. Então, embora o meu começo tenha sido diferente do começo dela, me identifico totalmente com a paixão que a personagem expressa em relação à arte de atuar, e com como ela se esforça e supera todas as dificuldades para alcançar seus desejos”.
Casamento Impossível está disponível para streaming pelo Rakuten Viki.