A primeira temporada de Sandman da Netflix é um sucesso indiscutível e parece ser apenas uma questão de tempo para que sua renovação seja anunciada. Para acalmar os nervos dos fãs mais ansiosos, o streaming liberou hoje (19), de surpresa, um episódio bônus que adapta duas das mais elogiadas histórias escritas por Neil Gaiman durante a publicação original da graphic novel. E para quem curtiu a versão desenvolvida pelo autor ao lado de David S. Goyer e Allan Heinberg, “Sonho de Mil Gatos/Calíope” reforça todos os pontos que tornaram a série tão emocionante. Assim como “O Som de Suas Asas”, sexto episódio da temporada de estreia, o novo capítulo pega duas edições separadas de Sandman (mais especificamente, os números 17 e 18 da revista) e as transforma em uma empolgante hora de televisão.
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Primeira história adaptada no episódio, “Sonho de Mil Gatos” usa sua animação 3D como forma de recriar a sensação de descobrir Sandman. Através da perspectiva de gatos, a série reapresenta seu mundo e alguns de seus conceitos, como o efeito dos sonhos no mundo real, de uma maneira completamente diferente, introduzindo uma sensação de novidade bem-vinda, especialmente para quem optou por maratonar a produção. Reflexivo, o conto da Profeta (Sandra Oh) expõe como os seres humanos, enquanto espécie dominante, usam seu poder de forma egoísta, submetendo, mesmo que inconscientemente, outras criaturas à dor e desespero.
Por mais que adaptar “Sonho de Mil Gatos” como animação tenha sido uma escolha prática, a mudança repentina de mídia conversa com o próprio estilo quase antológico dos gibis, em uma troca que surpreende e prende a atenção do público. Independentemente se o espectador leu ou não a HQ original, a história propõe uma reavaliação não só de Sandman enquanto narrativa, mas dos sonhos em si como força motriz de nossas ações.
A segunda parte do novo episódio, “Calíope”, também traz questionamentos à nossa noção de humanidade. Aqui, Ric Madoc (Arthur Darvill), um autor sofrendo com bloqueio criativo, se torna o novo mestre da musa grega Calíope (Melissanthi Mahut) e abusa dela para “se inspirar” e escrever o mais celebrado livro de sua carreira. De volta ao live-action, a história critica a ambição e a crueldade humana, dissecando quanto sofrimento aqueles que se acham poderosos estão dispostos a infligir às pessoas à sua volta para se manter no topo.
Em sua maioria, a primeira temporada foi narrada do ponto de vista de Sonho (Tom Sturridge), mas é em “Calíope” que todo seu nojo e pavor da humanidade se justifica. A facilidade com que Madoc abandona seus princípios para violar a musa é aterrorizante, assim como sua tentativa de aliviar sua consciência ao “incluí-la” em seu sucesso. Se nos gibis Sandman nunca teve vergonha de se encaixar no terror, é em seu capítulo bônus que a série mais chega perto do gênero, mostrando o quão assustadoras são as ações humanas, mesmo ante a entidades sobrenaturais.
Mais do que mais uma ótima adaptação das páginas de Sandman, “Sonho de Mil Gatos/Calíope” é um presente para os fãs dos quadrinhos e da série, que há 15 dias mantém a produção entre as mais assistidas da Netflix. Reforçando a relevância da história criada por Gaiman, o episódio bônus encerra a primeira temporada com gosto de “quero mais” e deixando o público ainda mais ansioso por um segundo ano.