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Séries e TV
Entrevista

“Reboot é roast amoroso da comédia”, define criador Steven Levitan

Depois de Modern Family, o produtor volta às sitcoms com um olhar metalinguístico para a indústria e, consequentemente, para sua própria carreira

Omelete
5 min de leitura
MC
12.11.2022, às 10H00.
Rachel Bloom e Paul Reiser em Reboot

Créditos da imagem: Reboot/Star+/Reprodução

Steven Levitan conhece muito bem os pormenores das sitcoms. Durante mais de 10 anos ele esteve à frente de Modern Family, produção que revitalizou o formato ao trazer um olhar, à época, inusitado para as comédias familiares americanas. Logo, quando ele se propôs a fazer uma série sobre os bastidores da TV, na qual o ponto de partida é a vontade de uma roteirista de resgatar uma sitcom de sucesso dos anos 1990, não apenas ele conhecia na pele o dia-a-dia dos seus protagonistas, como sabia as punchlines pertinentes para a atual onda de Hollywood. Afinal, como ele mesmo definiu Reboot, “é um roast amoroso sobre um negócio que tem sido muito bom para mim”.

Antes do lançamento da sitcom no Star+, o Omelete entrevistou Levitan sobre a ascensão e a queda das sitcoms enquanto formato, a influência dos streamings na comédia e, claro, como sua experiência particular vazou para a sala de roteiristas fictícia de Reboot; confira abaixo:

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OMELETE: Em Reboot, vemos a experiência das sitcoms clássicas em um ambiente moderno, algo que não é mais tão popular como há 20 anos. Por que você acha que aconteceu essa mudança?

STEVEN LEVITAN: Acho que quando os reality shows começaram a ganhar popularidade, as sitcoms multicâmera ficaram parecendo um pouco mais encenadas, falsas. Não soavam tão autênticas. E, como acontece com a música e a moda, a comédia muda. E essa geração, que cresceu assistindo realities e vídeos no Youtube, gosta de coisas que tendem a ser um pouco mais reais. Mas de modo algum estou dizendo que as sitcoms multicâmera morreram ou que é impossível fazer uma boa, porque eu acredito que dá. Mas é um pouco mais difícil hoje em dia fazer uma que seja relevante e que supere o formato em si mesmo.

Bom, vocês fizeram isso em Reboot, mas pudemos ver um pouco também em WandaVision, que recriou a estética de I Love Lucy e tudo mais. Você viu a série? O que achou?

SL: Foi interessante de assistir. Demorei para entender o que estava acontecendo, mas gostei. As atuações e o roteiro estavam muito bons. E, sabe, talvez seja algo que volte. Basta uma ótima série. Digo, veja como é popular. Mas é estranho, porque Friends, Seinfeld, Frazier e Cheers são muito populares nas re-exibições. E não tem um hit de multicâmera em tanto tempo que talvez fique uma sensação de nostalgia.

As sitcoms influenciaram muito a maneira como o público entendia ser famílias bem ajustadas, um ponto que vocês tocam em Reboot. E essa ideia da mãe ficar cuidando da casa, enquanto o pai vai trabalhar se desfez consideravelmente nas últimas décadas. Como alguém que literalmente cocriou uma série sobre família, você diria que a TV influenciou essas mudanças sociais ou foi o contrário?

SL: Sobre esses comportamentos que você mencionou, diria que seria o contrário, estamos simplesmente refletindo o que está acontecendo no mundo. Acredito que onde pudemos ter alguma influência foi com a história do Mitchell (Jesse Tyler Ferguson) e do Cameron (Eric Stonestreet). Talvez o público tenha mudado um pouco sua percepção quando viu que esses dois homens gays se importavam tanto com sua filha, que eram amáveis e queriam fazer as coisas certas. Então, acho que a influência pode acontecer dos dois lados. Às vezes, ao mesmo tempo.

Reboot é sua primeira série no streaming, não é? Para você, como esse tipo de lançamento impacta o jeito como você, os roteiristas e até o público compreendem e consomem comédia?

SL: Estou adorando a liberdade de linguagem e não ter que me preocupar com as vendas ou que alguém vai interpretar algo como puritano demais. Mas acho que a maior mudança é a flexibilidade com a duração. Sabe, em Modern Family, os episódios tinham 21 minutos e 30 segundos, e precisávamos espremer a trama para caber nisso. Então não tinha espaço para respirar, brincar com a trilha sonora ou só assistir às caras dos personagens por um tempo. Estou realmente gostando que a história pode ser tão longa quanto precisa ser.

Na série, os personagens da Rachel Bloom e do Paul Reiser vivem um embate entre criar algo mais dramático e se manter na tradição das sitcoms. Você e seus roteiristas tiveram uma dinâmica parecida?

SL: Bom, sou fã de comédias que colocam em primeiro lugar fazer as pessoas rirem, mas que também têm um coração. É o que eu gosto de fazer. Então, essa era a missão e todo mundo embarcou junto. Mas foi interessante, porque tivemos roteiristas muito jovens, com vinte e poucos anos, e aconteceu um choque cultural na sala de roteiristas que, de certa forma, inspiraram muitos momentos para a gente. Essa ideia de ver que o que uma geração acha engraçado, a seguinte acha ofensivo, e como isso é visível em um ambiente protegido como é a sala de roteiristas. Isso é algo muito real que está acontecendo na TV hoje em dia, e adoro brincar com isso em tela.

Você mencionou agora a indústria como um todo, mas fiquei curiosa para saber sobre sua experiência pessoal, como alguém que há tantos anos trabalha com sitcoms americanas. Teve algum momento nesta primeira temporada que te fez refletir sobre sua própria trajetória e enxergá-la a partir de outra perspectiva?

SL: Muitos momentos, porque eu tento sempre extrair da minha experiência pessoal. Quero que a série seja o mais real possível. E o jeito de fazer isso é brincar com o modo como elas acontecem. Existem momentos que eu olho para trás e tenho orgulho, e outros que não. E Reboot me deu a oportunidade de fazer isso. Mas, sabe, no geral esta série não tem um olhar cínico para a comédia na TV ou o que se tornou padrão. Para mim, é uma carta de amor à comédia. Talvez, no máximo, um roast amoroso sobre um negócio que tem sido muito bom para mim.

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