Séries e TV

Entrevista

Omelete Entrevista: Damon Lindelof

Cocriador de Lost fala sobre as expectivas, o legado que a série deixará e o fim do programa

02.02.2010, às 19H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 02H00

Desde a estreia de Lost, em 2004, os mistérios da ilha geraram alguns dos debates mais acalorados da história da televisão. Agora o gran finale já se aproxima e os fãs querem respostas para os mistérios ainda pendentes. Foi nesse clima de expectativa que nossos parceiros do Collider conversaram com Damon Lindelof, cocriador da série, sobre as expectivas, o legado que Lost deixará na televisão e o fim do programa.

Como você está se sentindo com o fim da série?

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Damon Lindelof: Pessoalmente, estou sentindo uma tremenda gratidão. A ideia de que vamos terminar isso enquanto as pessoas ainda se importam e enquanto todos ainda se amam, ao invés de todos dizendo "Já estava na hora", é uma oportunidade que acontece uma vez na vida e na carreira. É um tremendo presente a emissora nos deixar terminar esse seriado. Estou sentindo uma coisa parecida com "Não acredito que eles realmente vão deixar a gente se safar com essa".

Quando você realmente decidiu como a série iria acabar?

Se você tiver algumas ideias, nós temos a mente aberta.

É difícil pensar numa resolução para a história que seja diferente do que todos estão pensando?

Minha esperança é que com certeza, na hora que chegarmos ao final, muitas pessoas já vão estar pensando nisso e elas se sentirão bastante satisfeitas porque adivinharam certo.

Você já viu alguém que adivinhou certo por enquanto?

Eu acho que algumas pessoas com certeza decifraram peças significativas daquilo que queremos fazer na última temporada, mas eles não tinham informação suficiente ainda. Nós guardamos algumas evidências chaves, então, se você está tentando adivinhar quem matou o Professor Black, nós nem te mostramos que o castiçal é uma possível arma do crime ainda. Não dá para descobrir. Quando a temporada estrear, as pistas que faltam para entender onde vamos terminar a série vão começar a se encaixar. Nós já demos as perguntas, mas nós ainda não demos informações suficientes para decifrar as respostas.

Como você se sente em ganhar do Presidente Obama a data de 2 de fevereiro, às 20 horas, para a estreia?

O que é incrível é que você percebe como a sua afiliação política é fraca. Eu fui Democrata minha vida toda, mas quando eu ouvi que eles estavam considerando 2 de fevereiro, falei "Aquele filho da puta!". Só estou sendo sincero.

De que maneira esta última temporada vai se relacionar com a primeira temporada?

Para nós, como escritores, é inerente ao processo de terminar alguma coisa pensar sobre o começo. Aliás, a história da sexta temporada precisa especificamente voltar ao começo para examinar muitas coisas, ver como nossos personagens começaram quando os conhecemos e para onde eles foram. Quando você pensa num personagem como o Sawyer, esse cara foi basicamente o xerife da Iniciativa Dharma em 1977. Se você tivesse dito que esse seria eventualmente o caminho dele há cinco anos, ia parecer o maior absurdo do mundo. Mas o levamos até lá, um passo de cada vez.

Uma das coisas que estamos tentando fazer na sexta temporada é mostrar para os espectadores o passado, para que eles tenham uma noção de quem eram os personagens antes e quem eles são agora. Você realmente vai ter uma noção da trajetória daquela pessoa. E, obviamente, o processo de fazer isso - em termos de roteiro - realmente faz com que você se sinta do mesmo jeito que na primeira temporada.

A plateia já viu o final, com os flash forwards e flashbacks?

Não, vocês ainda não viram o final.

Ben mover a ilha já fazia parte do plano na primeira temporada, ou vocês pensaram isso mais tarde?

Entre a primeira e a segunda temporada, nós começamos a criar a mitologia mais profunda da ilha e começamos a discutir a Física da ilha, como ela funcionava, por que ninguém conseguia encontrar a ilha, quem tinha estado lá antes, qual era a história dos Outros e há quanto tempo eles já estavam lá. Nessas conversas, começamos a discutir sobre a roda e a ideia de que a ilha estava se movendo não apenas no espaço, mas também no tempo. E aí era apenas uma questão de quando iamos usar esse recurso. Eu sinto que a gente sempre soube que ia usar viagem no tempo no programa, e estávamos preparando terreno para isso já na segunda temporada.

A questão do tubarão foi a mais debatida?

Claro. Eu acho que a série já pulou a questão do tubarão provavelmente uma dúzia de vezes, no mínimo. Sorte para nós, os roteiristas, mas azar para a grande audiência, com certeza. Houve uma época em que haviam 23 milhões de pessoas assistindo Lost. Esse tempo passou. Cada vez que essa série se arrisca e se declara mais evidentemente, haverão pessoas que vão dizer "Eu não estava assistindo um programa sobre viagem no tempo. Eu não gosto desse programa. Não quero mais assistir isso". Nós temos que contar a história que prometemos, e espero que a audiência se mantenha conosco, mas realmente não podemos comprometer a história.

As emissoras hoje em dia medem a paixão tanto quanto a audiência?

Eu sinto que estamos numa emissora onde séries como Chuck ou Friday Night Lights podem sobreviver e ter sucesso mesmo com uma audiência mínima, mas tremenda paixão, não só dos fãs mas também dos críticos. Eu realmente sinto que o retorno crítico é o que faz a diferença para avançar dentro da emissora.

Coisas auxiliares, como DVDs, ajudam?

Claro. Obviamente para Lost, o modelo econômico de licenciamentos não existe. Você pode assistir um episódio de Friends ou Law & Order e simplesmente entender a trama, mas com Lost você não consegue chegar no meio da temporada 4, episódio 5. Seria como pegar um livro do Harry Potter e abrir num capítulo qualquer. Você precisa ler do começo até o fim. Então eu acho que os DVDs provavelmente foram um negócio muito lucrativo para eles, e que a marca em si provavelmente nos ajudou também.

Por que você não contou nada ao Terry O'Quinn sobre o Locke na verdade estar morto e que ele iria interpretar outra pessoa?

Foi uma daquelas coisas em que o ator leu o roteiro e decidiu o que ele precisaria, para atuar na cena. Nós estávamos completamente disponíveis para responder qualquer pergunta. Mas eu sinto que a diversão desse programa, para nós roteiristas e produtores, é mandar esses roteiros para o Havaí e aí ver o que recebemos de volta, ao invés de tentar um micro-gerenciamento. Se nós tivéssemos ligado para o Terry durante as filmagens de "The Life and Death of Jeremy Bentham", que é mais ou menos o sexto episódio da última temporada, e dito, "Olha Terry, nós não queremos te confundir mas o John Locke que você agora está interpretando na ilha não é mais o mesmo John Locke porque milhares de anos atrás...", ele diria, "Para". Mas ao invés disso, você coloca no roteiro "Tem alguma coisa em relação ao John Locke que está um pouco diferente", e o Terry vai interpretar o Locke um pouco diferente. Você simplifica e confia nos seus atores. Funcionou maravilhosamente bem para nós.

O que você pode falar sobre a volta da Elizabeth Mitchell?

Nós podemos dizer que ela estará no programa algumas vezes nesta temporada, mas obviamente, por causa do sucesso de V, e porque ela está gravando no Canadá nós estamos um pouco limitados em relação a quanto podemos usá-la. Mas a boa notícia é que ela tem sido incrível ao deixar a gente fazer nossa versão do programa com ela. Foi algo que apresentamos para ela, dissemos "Olha, você vai cair num buraco e sofrer ferimentos significativos, e temos alguns planos para você na próxima temporada que vão permitir que você faça outra série, mas esperamos que você ainda fique com a gente mais um pouquinho". E ela foi incrível.

Você tem um momento ou episódio favorito, de todas as temporadas?

Existe uma ponte que conecta o lugar onde os roteiristas trabalham, na propriedade da Disney, ao lugar onde ficam os escritórios dos executivos da ABC. Nós começamos a escrever o programa por volta de junho ou julho, Carlton e eu temos que atravessar a ponte e nos reunir com um grupo de executivos da ABC para basicamente apresentar a eles o que vamos fazer na próxima temporada de Lost. Tivemos várias conversas na ponte do tipo "Ok, então vamos finalmente mostrar para eles essa fornada". E, no ano passado, lembro que Carlton e eu estávamos falando um para o outro "Existe outro jeito de dizer 'viagem no tempo' sem dizer 'viagem no tempo'? Podemos dizer 'se movendo através do tempo' ou 'justaposição de roteiro'?". Mas, todas as vezes que fomos até lá para aquela reunião, a resposta que recebemos e a fé que recebemos foi incrível. Então você pode olhar para todas as 104 horas de Lost e tudo que você já assistiu, e olhar para as coisas que conseguimos fazer no programa.

Como você se sente com o fato de que Lost não foi recebido com muito afeto nos Emmys?

É um milagre que a série ganhou um Emmy no primeiro ano. Estou sendo político ao dizer isso, mas quantos programas podem dizer que eles receberam um Emmy de melhor drama? Então, o fato de que recebemos algumas indicações desde então tem sido muito gratificante. Contar a história de um jeito diferente para torná-la acessível para pessoas que não acompanham a série seria um erro crucial, porque aí alienaríamos as pessoas que realmente acompanham a série. E aí não seríamos indicados para nada, porque seria uma série horrível.

Você já falou sobre a preocupação de construir o fim da série e como, não importa o que você fizer, sempre haverão pessoas que nunca ficarão satisfeitas. Como você se sente em relação a isso agora, comparado a como você se sentia quando determinaram a data de término para o programa?

Com a monumental mudança de informações que eu tive naquela época, eu achei que seria melhor me garantir e prever para todos uma porcaria de final para Lost. Agora que você realmente vai assistir ao final de Lost, tudo que podemos dizer é garantir que fizemos o nosso melhor. Nós sentimos que o pior fim possível que poderíamos entregar, para todos que investiram todo esse tempo e energia assistindo a série, seria o fim seguro, algo do tipo "O que vai ser mais atrativo para o maior número possível de pessoas?". Chega um ponto em que você não pode mais arriscar só por arriscar, seria trair a si mesmo.

Felizmente para nós, já estamos discutindo como a série vai acabar desde que recebemos a data do fim, há três anos. Nós realmente não temos nenhuma desculpa para nada além do fato de que esse é o final que queremos fazer, da maneira como quisemos fazê-lo. Nós tivemos muito tempo para pensar nele. Agora, com certeza existe uma esperança, em todos nós, que todo mundo universalmente ame o final que vamos fazer. Eu acho que não seria Lost se não houver um debate ativo entre as pessoas que assistem a série, discutindo se foi ou não um bom final. Se for para fazer uma previsão, eu diria que vai ter gente de um lado dizendo que é o pior final na história da televisão, e aí espero que para balancear, minha mãe vai estar no outro lado dizendo que é o melhor final, apesar dela não entender o programa.

Já que Lost é mais que só uma série de TV, que tipo de legado você acha que ela vai deixar para a televisão?

Nós falamos sobre o que achamos que será o legado de Lost. Na semana depois que o final for para o ar, as pessoas só vão falar sobre o final. É quase impossível ter alguma perspectiva sobre as 125 horas que antecederam o final. Da mesma maneira que estávamos falando sobre o final de A Família Soprano esses dias, e nós nos lembrávamos de cada tomada da cena do jantar e aí o corte para uma tela preta. Mas aí, com o passar do tempo, você pensa nos Sopranos como uma série, ao invés de pensar só no final. Então haverão dois legados diferentes, e tudo que eu espero é que o legado que realmente importa, o da série como um todo, é de que as pessoas sintam que a experiência de assistir Lost foi incrivelmente recompensadora e que eles se sintam felizes em terem dedicado tanto tempo e energia para o programa.

Quais finais de séries você amou?

Eu acho que The Shield foi um final de série incrível. Com certeza Newhart é um dos meus preferidos. Mas meu final de série preferido de todos os tempos é M*A*S*H*. Eu lembro de assistir isso com meus pais, me lembro de todos na nossa rua estarem assistindo. Eu me lembro do Hawkeye dizendo, "Era um bebê! Não era uma galinha, era um bebê!". E eu me lembro de como foi emotivo quando o helicóptero finalmente foi embora e o Klinger ficou para trás. São essas as coisas que ficaram comigo para a minha vida. Terminar uma série que as pessoas ainda gostam e dar aos personagens resolusões incrivelmente dignas - M*A*S*H* é o ponto de referência para aquilo que queremos atingir. Dito isso, M*A*S*H* não era uma série de mistério, e nós temos que responder todos os nossos mistérios e dar aos espectadores aquelas conclusões satisfatórias para os personagens. Eu gostaria de dizer, oficialmente, que nosso grau de dificultade é muito alto.

O AXN exibe a sexta temporada no Brasil a partir do dia 9 de fevereiro - apenas uma semana após a estreia na ABC dos Estados Unidos.

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