O Jogo que Mudou a História: como elenco lidou com cenas chocantes da série

O Jogo que Mudou a História está em exibição no Globoplay e, como dissemos nas nossas primeiras impressões, é uma das séries mais chocantes do ano. Logo em seu primeiro episódio, cenas com decapitação e estupro coletivo chamam a atenção pelos detalhes gráficos e deixam claro o tom que a obra idealizada por José Junior seguiria em seus capítulos seguintes.

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Um dos 12 protagonistas da trama de O Jogo que Mudou a História, Ravel Andrade estrela uma das cenas mais impactantes da série. Ele interpreta Egídio, jovem de classe média alta que acaba condenado e levado para o presídio de Ilha Grande após atropelar a filha de um general do exército em plena Ditadura Militar. Logo em sua chegada, o rapaz é surpreendido por membros de uma das facções locais e sofre um estupro coletivo.

Em entrevista ao Omelete, Andrade detalhou a sua preparação para a cena e como isso pode afetar o psicológico de uma pessoa durante os trabalhos no set. Mesmo para os que não se consideram um ator de método, que costumam "vestir a pele" do personagem quando não estão em cena, interpretar momentos tão grotescos como estes podem deixar resquícios.

"Foi um trabalho muito físico. Se você vai completamente para o mental em um trabalho como esse, você pode acabar machucado, traumatizado. São cenas muito pesadas, então em nosso caminho como ator, você tem que entender como trabalhar personagens de diferentes formas e entender o que eles pedem", explicou o ator.

Ravel destacou a sua experiência com personagens dramáticos. O ator admitiu já ter tido pesadelos após gravar cenas difíceis, mas que, com o tempo, aprendeu a separar melhor as coisas depois de deixar o trabalho. E ainda reforçou o papel que a ficção tem de fazer o espectador refletir sobre outros assuntos.

"E nós precisamos aprender a separar, né [ficção da realidade]. Quem é o personagem e quem sou eu? Eu acho que o personagem tem muitos traumas que ele leva na pele, mas no meu caso, o Ravel, eu levo para o lado da compreensão social da coisa. Como nós filmamos no presídio desativado, você sentia tudo aquilo. Mas quando chegava em casa, eu entendia esse lado social."

Consciência através da ficção

Para Ravel Andrade, O Jogo Que Mudou a História tem o poder de fazer a população refletir sobre os problemas do sistema carcerário no Brasil. Ao Omelete, o ator explicou que sua experiência na pele de Egídio o fez olhar com outros olhos não apenas para o destrato do governo com a população marginalizada, mas também para aqueles que viveram o inferno da vida no presídio.

"Esses personagens nos ajudam a ter um olhar mais atento para esse tipo de coisa, a ver a precariedade do sistema e de como os presidiários são tratados. O que eu posso fazer, como Ravel, para ajudar e fazer parte desta mudança? O trabalho [como ator] me ensinou muita coisa. E eu acho que O Jogo Que Mudou a História surge como um documento, uma referência no que diz respeito à realidade do sistema prisional do Brasil. Onde o Estado não chega, vai ter uma revolução de pessoas", pontuou.

Babu Santana, que vive o bandido Hoffman na série do Globoplay, corroborou com a opinião do colega de elenco. Na visão do ex-BBB, O Jogo Que Mudou a História tem como grande trunfo os relatos verídicos que inspiraram José Junior a escrever a trama.

"Não basta encarcerar o cara, né? E largar dentro de uma caixa. Você também não tem que ter pena, a pessoa não precisa estar em um hotel cinco estrelas. Mas ele precisa ter comida, água e a família ao seu lado para que ele se arrependa. Eu quero que as pessoas entendam que direitos humanos não é um artifício para defender bandido, mas para defender a espécie humana. Todos nós estamos sujeitos a cometer um crime. Eu espero sinceramente que as pessoas entendam a mensagem e que isso [a trama da série] foi a origem do caos que nós vivemos no Rio de Janeiro."

Os seis primeiros episódios de O Jogo que Mudou a História já estão disponíveis no Globoplay.