Em janeiro de 2021, o mundo sofria com a pandemia, mas a internet se tornou um ótimo escape com a estreia de WandaVision. Não só o momento era ruim no geral, mas, para o fã de heróis que tinha acompanhado o ápice do gênero dois anos antes com Vingadores: Ultimato, parecia que tudo iria ruir aos poucos — e a fase prometida para aquele futuro nunca se concretizava como previsto. Os filmes não chegavam nos cinemas, e a única esperança parecia ser o streaming. A Disney entendeu que essa era a saída e dobrou as apostas nas séries, tendo o primeiro grande sucesso neste romance entre Wanda e Visão, numa ilusão criada pela Feiticeira Escarlate de Elizabeth Olsen. O que começou como uma simples paródia sitcom se tornou o berço de teorias infinitas, que começavam na junção dos X-Men com os Vingadores, passavam pela aparição de Reed Richards e terminavam no famigerado Mefisto*, o capiroto do universo da Marvel.
*Como esquecer quando a teoria era que Al Pacino interpretaria o tinhoso?
Em todos os episódios, uma enxurrada de vídeos surgia para dizer que o personagem estava na série — e nada nunca foi confirmado, nem sequer referenciado de verdade até ali. A popularidade dele, porém, foi tão grande que a própria Marvel começou a brincar com a aparição, mas nunca deu sinais reais de que aquilo aconteceria. Veio Doutor Estranho: Multiverso da Loucura, Thor: Amor e Trovão, Shang-Chi Eternos, um Homem-Aranha com três Homens-Aranhas, uma nova Pantera Negra, um Kang (que já foi embora), Novos Vingadores, Quarteto Fantástico e até o anúncio Doutor Destino com o rosto do Homem de Ferro— e nada, nada do Coisa Ruim.
Eis que, em Coração de Ferro, seriado sobre Riri Williams (Dominique Thorne), o sete-pele aparece, interpretado por Sacha Baron Cohen (algo reportado lá trás em 2022, então nem há o fator surpresa do ator). Mais de quatro anos depois das primeiras teorias. É lógico que o hype não é mais o mesmo. Se quatro anos seriam muita coisa nos anos 1990, hoje, com a ansiedade como ordem de consumo, parece que tudo aconteceu na década passada.
É justo dizer que o atraso não acontece por pura e simples vontade do estúdio. Nesse meio-tempo, o presidente da Disney mudou, o gênero de heróis sofreu muito e, principalmente, a indústria do entretenimento viu o streaming se tornar algo que dá prejuízo — enquanto o cinema não volta à forma. E agora, qual é a saída? Para a Marvel, a decisão foi dividida em dois momentos: reforçar seus heróis principais, recomeçar a linha narrativa do Multiverso com antigos conhecidos como Robert Downey Jr. e os Irmãos Russo em um novo Vingadores, e cancelar ou remodelar projetos que estavam na prateleira — Coração de Ferro entra nesta última opção. A série foi anunciada em 2020, começou a ser produzida em 2021 e só viu a luz do dia em junho de 2025, após ser adiada e reeditada um punhado de vezes, além de ter sido jogada no Disney+ em apenas duas semanas — algo parecido com o que fizeram com Echo e What If…? na última temporada.
É fácil ler nas entrelinhas das falas de Bob Iger, chefão da Disney, quando ele diz que “o foco é qualidade, e não quantidade”. Apesar de querer agradar o fã e o investidor, o executivo quer dizer que cancelamentos virão — e que erros graves foram cometidos. O problema é que todo o remédio que a Marvel está tomando chega atrasado, e o cinema foi o primeiro a sentir isso com Capitão América: Admirável Mundo Novo e Thunderbolts. Este último, por sinal, bem recebido pela crítica e pela maioria dos fãs, se tornou um dos piores desempenhos da marca nas bilheteiras. Por desgaste? Por qualidade? Talvez, mas principalmente por falta de timing.
A Marvel virou um meme de si mesma ao forçar referências e piadas sobre seu universo em momentos sem impacto. Aconteceu com “Os Novos Vingadores” em Thunderbolts (apesar da ótima estratégia), e agora acontece com a aparição de Sacha Baron Cohen como o Rabo de Seta em Coração de Ferro. O estúdio soube usar bem o hype da internet para mostrar o Senhor Fantástico em Multiverso da Loucura e os três Aranha em De Volta Para Casa, independente do resultado final — o objetivo era levar a internet e os fãs para a materialização do fan service. Já no caso do Caps Lock, do Mochila de Criança, do Noronha... não existe nenhuma razão para entusiasmo, pois nem a própria companhia parece se importar tanto assim com tudo que acontece no streaming hoje em dia — a não ser com Demolidor. A jornada de Riri é a última página de uma Marvel que será lembrada por ter tentado de tudo para se renovar, mas acabou emulando de um jeito disforme uma fórmula de sucesso que envelheceu muito mais rápido do que ela pôde acompanhar.
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