Máquina Mortífera passou por maus bocados nos últimos meses. O programa beirou o cancelamento quando, em abril, Clayne Crawford (Martin Riggs) foi denunciado por comportamento tóxico no set. Nas semanas seguintes, o caso foi ficando cada vez mais podre - com Damon Wayans (Roger Murtaugh) lavando roupa-suja em público ao apoiar a saída do colega após desentendimentos, agressões verbais e um incidente causado por má direção do ator durante uma cena. Não deu outra: Crawford foi demitido - mas o programa precisava continuar.
Agora, a série retorna refletindo a confusão dos bastidores. A trama continua momentos após Riggs ser baleado - recurso pensado para deixar alternativas para a produção continuar. Como foi escolhida a demissão, o personagem morre no hospital, sem uma cena final ou despedida de peso. É o suficiente para jogar Murtaugh em uma jornada de luto, vingança e desespero.
Entre o drama pessoal do policial, surge um novo rosto: Wesley Cole. Interpretado por Seann William Scott, conhecido por viver o besteirol Stiffler na franquia American Pie. Ex-agente da CIA, o personagem vêm para assumir o posto de detetive-largado. Assim como Riggs, ele traz seus próprios traumas sendo apresentado durante uma missão em Alepo que dá errado, forçando-o a se recolocar como policial de trânsito em Los Angeles. A união de Murtaugh e Cole é necessária, considerando que os dois precisam de uma radical mudança de vida.
Scott traz peso ao papel ao acertar em cheio as cenas de ação, passando confiança nos movimentos e boas sequências de luta. Seu personagem tem jeito de herói de ação, tanto enfrentando mafiosos quanto na operação militar do início. Ainda que tenha apenas começado, é fácil dizer que o problema da dupla não será falta de talento do novo integrante - e sim da produção.
A dinâmica entre Cole e Murtaugh é truncada, repleta de humor inoportuno e piadas que não funcionam. Isso se dá por conta de um roteiro que não soube lidar com a mudança: as piadas e sacadas irônicas do detetive são claramente escritas para Riggs, e não soam naturais na boca de outra pessoa. Ainda que os problemas de bastidores tenham revelado um ator que não trabalha bem com os outros, Crawford tirava o papel de letra: sua atuação despretensiosa, combinada com diálogos sagazes, tornavam a série leve e divertida de assistir. Ainda há potencial para continuar dessa forma, mas será preciso repensar o texto para um novo coprotagonista.
Infelizmente as coisas se agravaram ainda mais desde a estreia do 3º ano nos Estados Unidos, com Damon Wayans afirmando que deixará o seriado para retornar aos palcos de stand-up. Sem Crawford já era difícil imaginar futuro para Máquina Mortífera, e agora sem Wayans é impensável que o programa ganhe uma quarta temporada. Dessa forma, é capaz que William Scott não tenha o espaço para mostrar o que é capaz de fazer com um roteiro pensado sob medida para ele.
Máquina Mortífera é transmitida no Brasil pelo canal pago Warner Channel toda segunda, às 21h40.