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Feud | Vale a pena ver a nova série do criador de American Horror Story?

Antologia inédita de Ryan Murphy questiona, confunde e diverte em seu piloto

12.03.2017, às 13H07.
Atualizada em 12.03.2017, ÀS 14H02

A Era de Ouro do cinema norte-americano, classificada entre as décadas de 1920 e 1960, viu inúmeras obras entrando para a história e, respectivamente, colocando seus intérpretes no holofote. Com espaço para ser reconhecido, há disputa, brigas megalomaníacas de ego e intrigas. Foi nesse contexto que a relação turbulenta das atrizes Bette Davis e Joan Crawford cresceu e ganhou a atenção da mídia da época e, agora, do produtor Ryan Murphy, que aborda o caso em sua nova antologia: Feud.

Feud

O seriado poderia muito bem retratar o conflito com um viés exageradamente cômico ou dramático, mas o criador de American Horror Story e American Crime Story utiliza um ângulo interessante que discute um problema muito maior do que uma simples treta: as condições que tornavam o mercado tão competitivo para atrizes de idade.

Acontece que, durante os anos 1950, tanto Crawford, vivida aqui por Jessica Lange, quanto Davis (Susan Sarandon), já eram consideradas estrelas do passado. Em uma jogada de mestre, ambas decidiram então unir-se sob a direção de Robert Aldrich (Alfred Molina) para adaptar para às telas o romance O Que Aconteceu com Baby Jane?, colocando suas diferenças de lado para uma segunda chance que eventualmente conquistaria as bilheterias, premiações e daria vida nova às suas carreiras. Mas não foi um processo fácil.

O piloto estabelece ambas como personagens muito diferentes: Crawford é o rosto bonito de palavras simpáticas enquanto Davis é a mulher que se vê - e é vista - ligeiramente abaixo dos padrões de beleza de sua concorrência, o que ela compensa com vasta inteligência e uma boca tão afiada quanto seu cérebro. Mesmo com traços desiguais, as atrizes têm em comum o tratamento de serem desvalorizadas em uma indústria cujo o medo de arriscar e o enorme poder sob seus funcionários fazia com que intérpretes, especialmente as mulheres de idade avançada, fossem dispensados ou colocados de lado com assustadora rapidez.

Jessica Lange e Susan Sarandon em Feud

Murphy toma isso como ponto de partida para levantar diversas questões a respeito das condições e preconceitos que as atrizes enfrentaram - e ainda enfrentam -, tema discutido durante toda a vida das versões reais das personagens retratadas na série de TV. É uma abordagem interessante e capaz de segurar uma temporada inteira, mas que chega ao seu potencial máximo no capítulo de estreia.

Susan Sarandon como Bette Davis

Feud não sabe no que focar. Mesmo com indagações pertinentes, o tom frequentemente passa de comédia para drama, chegando até mesmo a encostar no gênero documental com diversas entrevistas de celebridades da época dando seus pitacos na rivalidade. É como se o produtor ainda estivesse tentando descobrir como contar tal história, e o resultado final acaba confundindo e pode tornar-se um problema no decorrer dos próximos episódios.

Felizmente, o seriado encontra uma forma de compensar no seu excelente elenco. Lange segura facilmente a barra e Sarandon captura perfeitamente toda a ousadia de Bette Davis e rouba os holofotes, até mesmo literalmente em uma cena do piloto. Sua performance é digna de destaque, mesmo ao lado de outros grandes nomes como Stanley Tucci, Kathy Bates, Judy Davis, Catherine Zeta-Jones e, é claro, a tradicional Sarah Paulson, presente em quase todos os trabalhos de Murphy.

Caso encontre seu tom, Feud pode dar bastante conteúdo para pensar sobre a indústria audiovisual em uma série de qualidade. Todos os elementos estão lá: um elenco de respeito, a produção de alto nível, um tema complexo e a liberdade criativa da emissora que se alimenta há alguns anos do público trazido por Murphy semanalmente. É um bom piloto, que pode marcar o começo de uma nova franquia de peso, mas ainda há detalhes para serem trabalhados no decorrer das próximas semanas.

Feud chega ao Brasil no dia 12 de março pelo canal pago Fox1, às 22h. Um dia após a exibição, os capítulos entram para o catálogo do serviço de streaming Fox Play para os donos de uma assinatura premium.

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