Detalhe da capa de O Clube do Pesadelo (Reprodução)

Créditos da imagem: Detalhe da capa de O Clube do Pesadelo (Reprodução)

HQ/Livros

Entrevista

Livro teen brasileiro é “filho de Stranger Things com Scooby-Doo”, dizem autoras

O Clube do Pesadelo nasceu como fanfic da série da Netflix, mas cresceu para além disso

Omelete
9 min de leitura
30.05.2025, às 06H00.

O Clube do Pesadelo nasceu de um desejo muito comum entre os fãs de Stranger Things: JUSTIÇA POR EDDIE! Como as autoras Bianca da Silva e Denise Flaibam contam ao Omelete, o livro que chega às prateleiras hoje (30) pela Editora Rocco começou como uma fanfic da série da Netflix: “Ficamos indignadas, de coração partido por conta do Eddie [Munson, personagem de Joseph Quinn, que morre no final da quarta temporada]. E aí a gente começou a conversar sobre isso, pensando no que a gente faria diferente. Foi se formando uma história ali”.

Troque os anos 1980 pelos anos 1990, a cidadezinha ficcional de Hawkins, Indiana (EUA) pela cidadezinha ficcional de Enseada dos Anjos, Santa Catarina (Brasil), e você tem a base de O Clube do Pesadelo mas só a base, mesmo. Conforme vai contando a história de um grupo de adolescentes, um deles capaz de “caminhar” pelos sonhos alheios, o livro vai ganhando um sabor nostálgico inteiramente brasileiro, e um climinha de Sessão da Tarde delicioso - mesmo que os personagens prefiram assistir ao Disk MTV do que à faixa de filmes vespertina da Rede Globo.

00:00/01:00
Truvid
auto skip

A seguir, Silva e Flaibam contam ao Omelete de onde vieram as inspirações para a trama noventista, se veremos uma continuação de O Clube do Pesadelo tão cedo, e como é escrever terror para adolescentes no mercado brasileiro. Confira!

OMELETE: Oi gente, sou o Caio. Prazer em conhecer vocês e parabéns pelo livro!

SILVA: Obrigada!

OMELETE: A primeira coisa que eu queria perguntar é sobre as inspirações de vocês para esse livro, porque a partir da sinopse eu estava esperando uma coisa meio Rua do Medo, anos 1990, mistérios. E aí eu encontrei algo um pouco diferente, mais foco nos personagens, elementos sobrenaturais. Quais foram as inspirações de vocês?

SILVA: É que, na verdade, essa história começou com uma fanfic de Stranger Things. A gente estava assistindo a quarta temporada juntas, e chegamos naquele fim, e ficamos indignadas, de coração partido por conta do Eddie. E aí a gente começou a conversar sobre isso, pensando no que a gente faria diferente. Foi se formando uma história ali, de tal forma que acabamos decidindo começar a escrever como fanfic mesmo - fazia muito tempo que a gente não escrevia uma, mas vamos lá.

Acontece que, enquanto a gente planejava essa história, com todos os elementos que a gente queria, como a gente queria homenagear o Eddie, a gente também percebeu que tinha muito potencial para ser uma história original, porque a gente estava colocando muita coisa original ali. E aí tudo começou a mudar, buscamos inspiração em outras mídias que a gente gostava muito também, fomos bem fundo na nossa infância - eu fui pro Scooby-Doo, pro Goosebumps. Eu sou muito fã da série dos anos 1990 de Goosebumps, a Denise gosta muito de A Hora do Pesadelo, do RPG Ordem Paranormal. Foram muitas inspirações para criar uma coisa que fosse nostálgica, que homenageia tudo isso que a gente mais gosta no terror, na comédia de terror.

FLAIBAM: É, a gente seguiu bem a vibe de Stranger Things. Por exemplo: quando eles criaram o Vecna, eles se inspiraram no Freddy Krueger [vilão da franquia A Hora do Pesadelo, interpretado por Robert Englund], então a gente ficou pensando: como é que  podemos criar uma coisa que é inspirada em algo que já foi inspirado em outra coisa, mas do jeito mais original possível? Tentamos pegar tudo que a gente gosta e criar um amálgama ali de homenagens.

OMELETE: Legal! Quando a gente fala de anos 1990, anos 2000, tem alguns elementos muito específicos que mexem com a nossa geração - ali nos primeiros capítulos do livro, confesso que a referência ao Disk MTV me pegou. Quando vocês estavam escrevendo, fizeram uma listinha das coisas que vocês queriam incluir? Como foi esse processo?

FLAIBAM: Sim, foi exatamente isso! [Risos] Inclusive, a gente foi pesquisando as referências com muito cuidado, porque ficávamos confusas se foi nos anos 1990 ou depois. A nossa maior indignação foi quando pesquisamos sobre o ET Bilu [suposto extraterrestre que apareceu no Domingo Espetacular, programa da Record, com sua emblemática frase “busquem conhecimento”], porque queríamos incluir uma referência ali, mas descobrimos que tudo com ele aconteceu em 2010. Ficamos tristes com isso, mas daí trouxemos o ET de Varginha, que é realmente cultura dos anos 1990.

A partir daí vieram várias coisas, tentamos colocar o Chupacabra, a lenda urbana da boneca da Xuxa que era possuída pelo demônio, o boneco do Fofão que tinha faca na cabeça, tudo que a gente lembrava. TV Colosso também, a Bianca não viveu muito isso, mas eu cresci com um pouco de medo daquele programa. Fomos fazendo a listinha juntas e pesquisando para ter certeza que a gente estava na década certa.

SILVA: E até as descrições dos ambientes entravam nisso. A gente lembrava que nos anos 1990 muitas casas tinham um bar, então a gente mencionava, no quarto da Mabê tem aquela poltrona transparente que era febre, a Dominique usa um anel do humor. Tudo que a gente lembrava da época, a gente ficava tentando encaixar, encontrando um espaço para mencionar. Queríamos que [o livro] trouxesse mesmo aquela sensação de nostalgia que a gente tem quando lembra dessas coisas.

OMELETE: Massa! E essa coisa da história de colegial está sempre em alta, mas acho que tem tons e tons para abordar - nós vimos uma abordagem mais séria recentemente com o Adolescência, mas também tem inúmeros exemplos de produtos mais descontraídos ou novelinhas, como a nossa Malhação. Quando vocês decidiram escrever para esse público, como vocês conversaram sobre o tom? Qual foi o equilíbrio que vocês quiseram encontrar?

SILVA: Olha, O Clube do Pesadelo é o terceiro livro que a gente escreve juntas, então já temos ciência que a gente não consegue ser muito séria. Querendo ou não, a gente começa a escrever uma coisa séria, de repente já tá puxando uma piada, algo assim. Então, quando a gente foi escrever esse, decidimos de cara que ia ser uma comédia de terror - a gente queria causar o medo, mas também queria trazer esse tom leve de comédia, porque os nossos personagens sempre têm esse lado. A gente não consegue escrever sem deixar transparecer um pouco da quinta série. [Risos] Então, pra gente era importante que ele tivesse esse tom de comédia tanto pra quebrar a tensão, isso simplesmente faz parte do que a gente é como autoras.

FLAIBAM: Exatamente, tem que ter uma piada para quebrar o nervoso.

OMELETE: Me identifico! E adorei também como o livro vai nos envolvendo na vida desses adolescentes, mostrando as dificuldades que cada um enfrenta, abordando vários temas delicados. Quando vocês estavam construindo os personagens, conversaram bastante sobre os temas que queriam trazer? São tópicos importantes para vocês, pessoalmente?

FLAIBAM: É, quando a gente foi compondo os personagens, decidindo como queríamos que fosse a personalidade deles, naturalmente as fragilidades foram aparecendo junto com as forças. Por exemplo, o Fábio está lidando com um luto há muito tempo, o que é um tema mais pesado, que tentamos desenvolver de forma mais delicada - sempre tentamos ter mais cuidado quando falando sobre ele, sobre o trauma dele. Enquanto isso, a Mabê tem a coisa de tentar esconder a habilidade paranormal dela, porque tem medo de como vai ser encarada se as pessoas descobrirem que ela não é aquela garota perfeita que aparenta ser.

Mas, em todos os personagens, a gente tentou construir adolescentes que se parecem com os adolescentes da vida real, que estão lidando com os hormônios à flor da pele, as emoções à flor da pele, e estão tentando entender o lugar deles no mundo.

SILVA: E acho que isso veio muito lá de quando a história ainda era uma fanfic. Porque lá atrás a gente também traçou arquétipos que a gente queria estabelecer, para depois poder quebrar. A Mabê é toda patricinha, mas secretamente gosta de rock, está desafiando os pais na surdina. Então a gente quis dar essa viradinha também - porque, quando a gente fala com adolescente, sempre tem essa coisa de “eu sou muito diferente de todo mundo". E quando a gente pensa assim, se sente muito único, mas também se sente muito isolado. Acho que ter personagens que são muitas coisas dentro de uma só ajuda o leitor adolescente a se sentir mais confortável, a entender que existe alguém como ele.

OMELETE: Sem dúvida. Olha, eu vi que na bibliografia de vocês tem muitas duologias, trilogias - inclusive As Bruxas de Lugar Nenhum, que vocês escreveram juntas. Já tem um plano para continuar O Clube do Pesadelo? Tem mais histórias para contar nesse universo?

SILVA: Então… [Risos] A gente fala que ele é um livro único. Porque ele tem começo, meio e fim, essa é a história que a gente queria contar. Só que, querendo ou não, ele se passa em  um universo que tem muitas possibilidades - então a gente nunca diz nunca, mas no momento não estamos planejando uma continuação.

FLAIBAM: O que eu vou dizer é que, em A Hora do Pesadelo, eles sempre derrotam o Freddy no final. Mas depois, no próximo, ele voltou! Então assim, existe a possibilidade - se a história surgir, a gente tá aí. Mas o livro é fechadinho, tudo se encerra nele.

SILVA: O Clube do Pesadelo X, O Clube do Pesadelo no Espaço! Vai saber…

OMELETE: O Clube do Pesadelo vs. As Bruxas de Lugar Nenhum! Taí uma ideia… Mas a gente está falando aqui sobre escrever para adolescentes, escrever fantasia, escrever terror. Vocês que trabalham nesse gênero, como veem a popularidade desse tipo de literatura no Brasil? Ainda falta mais reconhecimento?

FLAIBAM: Curioso que a gente estava falando sobre isso esses dias, sobre como parece que o terror tem os seus momentos, e parece que agora é um momento que as pessoas estão querendo mais terror. A gente vê isso no interesse em outras mídias - filmes de terror, séries de terror -, as pessoas estão procurando. Sempre que a gente posta TikTok, no Instagram, sobre produtos de terror, as pessoas se interessam muito justamente por ser dentro desse gênero.

E eu acho também que é um bom momento para explorar histórias diferentes, porque a literatura brasileira está crescendo muito, está ganhando muita atenção e está trazendo muitas histórias bem diversas. Como autoras, a gente está se sentindo confortável nesse momento para lançar um terror fantástico, meio comédia meio galhofa, e dizer para as pessoas: “Vocês querem conhecer?”. A gente sempre fala que o livro é como se Stranger Things e Scooby-Doo tivessem um filho.

SILVA: É, querendo ou não o terror é nicho, né? É um nicho que ele está sempre ali, se você gosta de terror sempre vai ter alguma coisa, mas é só em alguns momentos que ele realmente assume o mainstream. E eu sinto também que, com essa coisa do TikTok, voltamos um pouco naquilo do adolescente querer ser diferente dos outros. Então, se está todo mundo falando de romantasia, por exemplo, ele vai querer ler algo mais de terror, algo mais pesado, que se distancie daquilo.

OMELETE: Perfeito. Pessoal, muito obrigado e parabéns pelo livro de novo. Estou devorando ele aos poucos aqui em casa.

FLAIBAM: Ai, que bom!

SILVA: Ficamos felizes, viu? Obrigada pela oportunidade!

Comentários (0)

Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.

Login

Criar conta

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Meus dados

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

Redefinir senha

Crie uma nova senha

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Esqueci minha senha

Digite o e-mail associado à sua conta no Omelete e enviaremos um link para redefinir sua senha.

As senhas devem ser iguais

Confirme seu e-mail

Insira o código enviado para o e-mail cadastrado para verificar seu e-mail.

a

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.