Por dentro da mente de Nagabe: mangaká revela inspiração para suas histórias

Mangás e Animes

Entrevista

Por dentro da mente de Nagabe: mangaká revela inspiração para suas histórias

Criador de A Menina do Outro Lado vem ao Brasil para a Bienal do Livro

Omelete
7 min de leitura
Pedrinho
09.05.2025, às 14H22.

O mangaká Nagabe esteve no Brasil pela primeira vez em novembro de 2024, quando participou de um evento organizado pela DarkSide Books para a divulgação de sua obra-prima, A Menina do Outro Lado. Na ocasião, o contato com os fãs o fez perceber a força do mangá entre o público brasileiro e especialmente como sua história é querida no país. Agora, ele retorna para participal da Bienal do Livro do Rio 2025, mas antes disse, bateu um papo com o Omelete sobre os bastidores de sua criação.

Nagabe nasceu na capital japonesa, Tóquio, em 1993 e cursou artes visuais pela Universidade de Musashino, para aperfeiçoar sua paixão pelo desenho que ele nutre desde a infância. Ainda durante sua graduação estreou como autor de mangá com a obra A Menina do Outro Lado, que se tornou um grande sucesso com mais de 1,1 milhão de cópias vendidas ao redor do mundo.

A Menina do Outro Lado é uma fábula sobre a criação do afeto e o amor entre duas criaturas tão diferentes, mas com muito a compartilhar. Uma trama atual sobre a condição do diferente e da falta de aceitação. Sobre largar seus medos e enfrentar a vida com um novo olhar. Mas o que o inspirou a criar uma história tão sentimental e profunda?

“Não houve nenhum acontecimento em especial”, diz ele em entrevista ao Omelete. “Mas posso dizer que ela é resultado do acúmulo de experiências do dia a dia. Gosto muito de ver ilustrações e pinturas, e quando eu era estudante visitava muito os museus, e eu queria transmitir as sensações e emoções que sentia ao ver as obras através do meu trabalho, e foi assim que passei a trabalhar com mangás”.

Na Bienal do Livro do Rio, haverá sessões de autógrafos com Nagabe e a participação dele em painéis. A agenda do autor na Bienal será montada em parceria com a organização da Bienal e será divulgada em breve. Confira abaixo a conversa completa entre o Omelete e o autor:

Omelete: Para começar, poderia nos contar um pouco sobre o momento em que você percebeu que queria seguir a carreira de mangaká?

Nagabe: Eu desenho desde a infância, e na faculdade decidiu se profissionalizar e criar uma história mais robusta.

Omelete: Houve algum evento específico que influenciou A Menina do Outro Lado?

Nagabe: É uma pergunta difícil. No meu caso, não houve nenhum acontecimento em especial que tenha me motivado a construir a história ou o universo da minha obra, mas posso dizer que ela é resultado do acúmulo de experiências do dia a dia. Gosto muito de ver ilustrações e pinturas, e quando eu era estudante visitava muito os museus, e eu queria transmitir as sensações e emoções que sentia ao ver as obras através do meu trabalho, e foi assim que passei a trabalhar com mangás.

Seus trabalhos, por mais que tenham cenários comuns, têm uma atmosfera, ambientação/clima na relação entre personagens que é bem distinta e sai do lugar-comum do gênero do mangá. Existe algum projeto, algum direcionamento ou uma demografia que gostaria de trabalhar no futuro? Comédia ou ação, por exemplo.

Bom, tenho desejo de me desafiar em vários temas dentro do universo do mangá, e um deles é o que você citou, a ação, que eu gostaria muito de adotar no meu mangá. Por outro lado, gosto de abordar coisas arraigadas à vida cotidiana, as pequenas alegrias e dramas que encontramos no dia a dia. Tenho vontade de explorar outros temas, mas também quero poder continuar a retratar paisagens que trazem uma certa nostalgia.

Gostaria de saber se tem algum conselho para alguém que gostaria de iniciar o mangá agora?

Criar um mangá tem suas dificuldades. Você precisa criar um personagem, um roteiro… tem vários elementos que compõem um mangá. É um pouco mais complexo do que simplesmente desenhar ou escrever uma história até conseguir finalizar uma obra. Você pode começar prestando atenção no seu dia a dia, nas coisas que você se interessa e por qual motivo essas coisas despertam o seu interesse. Acho que a criação começa dentro da sua própria vivência e experiências. Praticar desenho é importante, mas quando você foca na sua área de interesse e analisa o que gosta e o que não gosta, você começa a pensar também no que deseja transmitir para os leitores com seu mangá e nas reflexões que espera ter com eles. Por isso, a princípio recomendo esse exercício de olhar para o seu próprio cotidiano.

Essa não vai ser a primeira vez no Brasil, então gostaria de saber a primeira impressão que teve da cultura na primeira passagem.

Bom, posso dizer que quando estive no Brasil pela primeira vez senti uma energia muito potente das pessoas. Tive essa impressão tanto dos participantes de eventos como quando fiz os passeios pela cidade de São Paulo e me levaram a um bairro onde havia grafites. Lá, os estilos artísticos são bem diversos, é bem colorido, há vários desenhos e artistas no local, não tem nenhum desenho igual ao outro e aqueles que desenham se expressam de maneira muito livre. Isso era novidade para mim e foi uma energia potente e positiva que eu absorvi.

Gostaria de saber quais são as suas expectativas para esta edição da Bienal na cidade do Rio, que é uma cidade litorânea, um cartão postal e, claro, esse reencontro com o público leitor no Brasil.

Tenho conhecimento de que a Bienal do Livro do Rio é uma feira de livro muito grande e significativa para o Brasil e isso me traz grandes expectativas e estou ansioso para conhecer o evento. Com certeza vou querer me divertir bastante com essa participação. Quando estive nos eventos em São Paulo pude encontrar muitas pessoas que gostam de desenhar e que além disso têm uma atitude bem positiva e aberta em relação à arte. Como eu trabalho com desenho, gosto muito de conversar sobre o ato de desenhar e criar, e fico na expectativa de poder fazer esse intercâmbio cultural com os brasileiros.

A bienal do livro tem dado a oportunidade de aproximar o público de autores na Bienal do Rio. Junji Ito-sensei também participou na Bienal e agora vai ter presencialmente Nagabe-sensei, e gostaria de saber se considera importante esse contato físico, a conversa olho no olho com o público brasileiro, se isso facilita a conversa e se o inspira como artista.

Bem, não sei se sou apenas eu, mas acho que os mangakás não têm tantas oportunidades de estar cara a cara com os leitores e conversar com eles, o que é muito valioso. E eu fico bastante ansioso em encontrar e ver a reação dos leitores com meus próprios olhos. Por outro lado, como eu não tenho costume de encontrar os leitores e conversar, confesso que estou um pouco tenso imaginando como eu devo me portar e o que devo falar. Então fico na expectativa de que as pessoas sejam receptivas e gentis comigo para eu não ficar muito nervoso no encontro.

Como você enxerga as mídias mainstream e quais são os filmes favoritos, livros e músicas que costuma escutar, e se acompanha os animes e mangás que são populares no Japão atualmente?

Para ser sincero, não tenho tantas oportunidades de assistir a obras audiovisuais, como filmes ou animes. Recorro mais a plataformas de vídeo como YouTube e são os vídeos de mídia que acabo vendo mais. Na verdade, eu não vejo muito os animes pelo conteúdo em si, mas procuro ver as tendências de animes e filmes que estão sendo transmitidos no momento, observo a sakuga, vejo como é a animação, a composição de cores e o trabalho artístico, portanto presto mais atenção nos elementos visuais. Dessa forma, fico pesquisando essas coisas que possam ter relação com meus desenhos.

Mais do que a animação em movimento, eu costumo focar nas imagens estáticas para ver como o desenho dos personagens foi editado. Os estilos de desenho também seguem tendências e há coisas que os criadores vão incorporando. E eu costumo fazer pesquisa de tendência através disso.

Você já fez pesquisas sobre tendências que trouxessem para as tendências do Brasil, e se já teve interesse em buscar sobre a cultura, a música ou o folclore brasileiros?

Ainda não consegui chegar às tendências e culturas do Brasil. Por enquanto acabo focando apenas nos trabalhos japoneses e nas obras que estão em voga. Mas nessa ocasião da visita ao Brasil, se for possível, gostaria de explorar essa parte, e quero ouvir sugestões para tentar me aprofundar nesses tópicos.

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