Heath Ledger e Joaquin Phoenix como Coringa em O Cavaleiro das Trevas e Cpronga (2019)/Warner Bros

Créditos da imagem: Warner Bros./Divulgação

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Oscar 2020 | Por que a Academia é fascinada pelo Coringa

Joaquin Phoenix é o segundo ator a ser indicado à estatueta por sua interpretação do Palhaço do Crime

Omelete
5 min de leitura
03.02.2020, às 19H03.

Criado em 1940, baseado na aparência do ator Conrad Veidt em O Homem que Ri, o Coringa foi introduzido aos quadrinhos pouco menos de um ano após a estreia de seu arqui-inimigo, o Batman, surgir nas páginas da revista Detective Comics. Na ocasião, o vilão, produto do trabalho de Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson, seria morto em sua primeira história, mas uma exigência do então editor Whitney Ellsworth faria com que Finger mantivesse o Palhaço do Crime vivo em um quadro adicionado de última hora. O desenho de Kane, relutante em ressuscitar o vilão, fazia pouco sentido no contexto da HQ, mas mudou a cultura pop para sempre.

Com as grandes mudanças sofridas pela indústria dos quadrinhos nos anos seguintes, como o surgimento da Comics Code Authority, em 1954, os crimes do Coringa passaram de assassinatos em série para roubos, armadilhas e pegadinhas, influenciando, então, a famosa adaptação televisiva estrelada por Adam West nos anos 1960.

Embora Cesar Romero seja lembrado até hoje por ter dado vida à versão galhofa do personagem na série e no filme inspirado no programa, a interpretação de Jack Nicholson no primeiro longa-metragem de grande orçamento do Cavaleiro das Trevas, lançado em 1989, foi a primeira aparição live-action do Palhaço do Crime a chamar a atenção de Hollywood. Inspirado na longa e violenta sequência de histórias que mostravam uma personalidade mais doentia e psicótica do vilão (O Cavaleiro das Trevas, Morte na Família, A Piada Mortal), Nicholson deu ao Coringa de Batman ares de um dos clássicos gângsters e mafiosos de filmes como O Poderoso Chefão ou Bons Companheiros, uma mudança drástica se comparada ao Palhaço de Romero.

Chocados não só com a belíssima interpretação do ator, mas também com o perfil completamente novo do Coringa traçado pelo diretor Tim Burton, Nicholson e pelos roteiristas Sam Hamm e Warren Skaaren, os votantes de premiações como Globo de Ouro e BAFTA incluíram o astro entre seus indicados. Para a Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, responsável pelo Oscar, porém, a performance passou despercebida. A complexidade do personagem, até então nunca explorada com tanto afinco e profundidade fora dos gibis, abriu precedente para que, 20 anos após o lançamento de Batman, um ator fosse premiado por levar o Coringa às telas.

As imprevisíveis versões do Coringa

Mais uma vez, as HQs do Batman seguiam mudando – propositalmente – a personalidade do Coringa. O sucesso do personagem no filme de Burton e na aclamada animação produzida pela Warner, lançada em 1992, deram a Heath Ledger – até então conhecido por suas participações em comédias românticas e, como exceção, seu trabalho em O Segredo de Brokeback Mountain - um enorme material para explorar os cantos mais obscuros da mente do criminoso.

A chegada de Ledger ao papel deixou diversos fãs e críticos receosos com o futuro do personagem nas telonas. Afinal, o australiano teria não só que trazer uma mudança em relação ao que já fora mostrado por Romero e Nicholson, mas também superar a interpretação de um dos atores mais indicados da história do Oscar. Mas a personalidade quase esquizofrênica do vilão nas HQs, mais uma vez, foi a carta na manga de Ledger e do diretor Christopher Nolan para criar uma nova versão do Coringa completamente diferente de qualquer outra já vista. Seu trabalho, que só seria visto pelo público após a morte do ator, seria premiado com troféus póstumos no Globo de Ouro, BAFTA e Oscar de 2009.

Embora a trágica e precoce morte de Ledger sirva, às vezes, para mistificar sua interpretação, o ator, assim como Nicholson, usou o vasto e inexato caminho percorrido pelo Coringa na DC para criar sua própria versão do personagem, caminho que poucas adaptações cinematográficas daquela década conseguiram fazer.

Enquanto filmes como Superman: O Retorno, X-Men: O Confronto Final e Homem-Aranha 3 falharam em entreter e em renovar alguns dos personagens mais clássicos dos quadrinhos, pela segunda vez seguida um ator coadjuvante chamava para si o protagonismo de um blockbuster de super-herói com seu jeito de interpretar o Palhaço. E mais: redefinia o significado de um personagem que, na época, já existia há quase 70 anos. Criou-se, então, uma grande imprevisibilidade em relação à maneira como o vilão seria representado, fosse na TV, em que Cameron Monaghan seria celebrado por sua versão na série Gotham, ou nos cinemas, em que a atuação exagerada do premiado Jared Leto criaria uma onda de críticas negativas.

Os vários perfis criados para o Coringa ao longo destas oito décadas dão uma gama quase infinita de caminhos a serem percorridos por aqueles que aceitam o desafio de levar o antagonista do Cavaleiro das Trevas para os cinemas e a versão mais recente talvez seja a prova definitiva de que, para bem ou para o mal, toda interpretação do personagem chamará os holofotes para si.

Em meio a diversas polêmicas relacionadas ao conteúdo violento de Coringa, Joaquin Phoenix calou qualquer discussão ao trazer uma performance hipnótica, descontrolada e absolutamente imprevisível do personagem-título. O ator, que se autointitula um dos mais chatos de Hollywood por causa da sua preparação e seu comportamento durante as filmagens, traçou com o diretor Todd Phillips todo caminho que levaria seu personagem, um homem pobre que sofria de distúrbios mentais, a se tornar um dos vilões mais influentes da cultura pop.

Repetindo o caminho de Ledger, Phoenix já foi reconhecido no Globo de Ouro e no BAFTA por sua interpretação no longa de Phillips. Novamente, membros da Academia foram surpreendidos pela representação maníaca do personagem e se viram incapazes de ignorar o trabalho do ator, que vem dominando a temporada de premiações de 2020. Embora tenha dito que se apoiou nos ombros de Heath Ledger para criar a sua versão do Coringa, Phoenix será mais um a remodelar a forma como o vilão será representado daqui para a frente.

Existe uma enorme expectativa toda vez que algum ator aceita interpretar o personagem. Cada versão é única e dificilmente o vilão será vivido da mesma forma duas vezes. Sua complexidade natural, resultado de um legado de histórias que fará 80 anos em 2020, chamará sempre a atenção de fãs e curiosos e sua imprevisibilidade, atrelada ao talento de atores dispostos a explorar a psique fraturada do Coringa, será sempre motivo de fascínio quando o vilão ressurgir nos cinemas.

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