Chegamos na semana do Oscar 2025. Uma das temporadas de premiação mais caóticas de todos os tempos enfim se aproxima de sua conclusão depois de incêndios, polêmicas e inúmeras reviravoltas, e depois que toda essa poeira abaixou e resultados começaram a sair, dois filmes surgiram como os favoritos. O Oscar de Melhor Filme, parece, será uma disputa entre Anora e Conclave.
O ano começou com o próprio Anora no posto de favorito, algo que mudou depois que o filme saiu de mãos abanando do Globo de Ouro e a indústria, novamente, supervalorizou a influência daquele prêmio no Oscar. 2025 mostrou mais uma vez que o Globo interfere nas indicações (basta ver Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui), mas não necessariamente no resultado. Emilia Pérez assumiu a pole até os tweets de Karla Sofia Gascón implodirem a campanha da Netflix e deixar o filme com apenas um prêmio (Atriz Coadjuvante para Zoe Saldaña) garantido.
Então aconteceram dois dos três principais precursores do Oscar: PGA Awards e DGA Awards. Ambos foram para Anora, que colecionou ainda prêmios de Melhor Filme no Independent Spirit Awards e no Critics Choice Awards, e o grande prêmio de roteiro original no WGA Awards. A festa parecia garantida para o filme de Sean Baker, até Conclave arrancar duas vitórias: Melhor Filme no BAFTA e Melhor Elenco no SAG Awards, a principal categoria do troféu dos atores.
Em suma: Anora e Conclave são os filmes mais premiados da temporada. Agora, qual dos dois tem mais chance de vencer o Oscar? Como podemos prever isso?
Anora vs. Conclave: Como entender quem é o favorito?
WGA tem um grau importância, mas a vitória de Anora lá era esperada, já que rivais como A Substância não podiam ser indicados. O mesmo pode se dizer da vitória de Conclave no BAFTA, já que o prêmio britânico historicamente prefere histórias europeias com elenco europeu e diretores europeus. O filme de Edward Berger preenche todos os três. Mesmo que consideremos essas vitórias, ainda teríamos um empate.
Mas a verdade é que, conforme a Academia que escolhe o Oscar se tornou mais jovem e mais internacional (hoje são 10 mil membros do mundo todo), boa parte dos precursores perderam parte do seu poder de previsão. O WGA Awards invalida a participação de roteiros escritos fora do acordo do Sindicato dos Roteiristas de Hollywood, e o próprio Conclave, favorito em Roteiro Adaptado no Oscar, saiu de mãos abandando do evento porque nem podia ser indicado. Apesar disso tudo, porém, três prêmios seguem como indispensáveis na hora de entender o Oscar: PGA, DGA e SAG.
SAG tinha muita força devido ao fato dos atores formarem a maior parte dos votantes da Academia. Foi a vitória lá, no comecinho de 2020, que fez o mundo começar a acreditar que Parasita poderia derrotar 1917, vencedor de ambos PGA e DGA, no Oscar. Sabemos o que aconteceu depois. Isso dá forças a Conclave, mesmo que Anora tenha conquistado a dobradinha de PGA e DGA, mas não o suficiente para virar o jogo.
Por que Anora ainda é o favorito ao Oscar
Há uma briga, disso não há dúvidas. Conclave pode muito bem ganhar o Oscar, e não se trataria de um choque. Duas coisas, contudo, sugerem que Anora ainda tem mais chances. Primeiro, a história: apenas um filme ganhou PGA, DGA e WGA e perdeu o Oscar (Brokeback Mountain, que perdeu para o vencedor do SAG daquele ano, Crash, no que é considerado um dos piores Oscars da história). É verdade que Conclave levou o SAG, o que abre portas para um repeteco histórico, mas isso pode não ser suficiente. Na era do voto prefencial, sistema usado pelo Oscar para decidir o grande vencedor, só um longa-metragem conquistou ambos BAFTA e o SAG, Três Anúncios Para um Crime. Este perdeu naquele Oscar para A Forma da Água, que, adivinhem: venceu PGA e DGA.
Se o passado dá forças a Anora, o presente também fortalece as chances do queridinho indie do ano. O braço dos atores na Academia não é a mesma coisa que já foi. Nos últimos anos, milhares de profissionais, muitos deles de outros campos ou atores internacionais sem associação ao SAG, entraram no rol de membros da organização, bagunçando as regras. Uma vitória no SAG Awards pode não ter o mesmo peso que tinha há cinco, 10 ou 20 anos.
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Novamente, não é que Conclave não tenha nenhuma chance. Para todo precedente, há exceções, e a maioria passa por uma vitória no SAG. Basta olhar para Crash e Parasita. O fato, entretanto, é que Anora não só tem um currículo mais confiável, como parece empolgar a indústria mais do que Conclave, um filme que até agora ganhou suporte mais por não ofender a ninguém, oferecendo um drama adulto com mais "cara de Oscar." Anora é energético, caótico, divertido, trágico. Ele tem força internacional, tendo vencido a Palma de Ouro do Festival de Cannes (algo que Parasita também fez) e Baker é queridíssimo dentro do meio.
Por todas essas razões, Anora segue à frente. Se ele confirmará o favoritismo, só descobriremos no domingo que vem.
