Rory Kinnear em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Reprodução)

Créditos da imagem: Rory Kinnear em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Reprodução)

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Tom Bombadil | Quem é o novo personagem de Os Anéis de Poder?

2ª temporada introduziu figura marcante da mitologia de J.R.R. Tolkien

Omelete
5 min de leitura
05.09.2024, às 04H00.

ATENÇÃO: Spoilers de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder a seguir!

Os fãs de O Senhor dos Anéis finalmente tiveram a oportunidade de ver uma versão em live-action de Tom Bombadil, que estreou com o rosto do ator Rory Kinnear (Penny Dreadful) no episódio de hoje (5) de Os Anéis de Poder. Após ser cortado dos filmes de Peter Jackson, a marcante figura criada por J.R.R. Tolkien chega às telas bem no estilo envolto de mistério que marca a sua trajetória na literatura.

Mas afinal, quem é Tom Bombadil? Importante começar afirmando que ele é anterior a qualquer história escrita - Tom não é apenas a mais antiga criatura no universo de O Senhor dos Anéis, como ele dá a entender para o Estranho (Daniel Weyman) em Os Anéis de Poder, mas na verdade dentro da esfera pessoal da criatividade de Tolkien.

Na biografia do autor, descobrimos que o personagem foi baseado em um boneco holandês que pertenceu a um dos filhos de Tolkien, Michael.O boneco era uma figura carismática, com uma pena em seu chapéu - e acontece que John, irmão de Michael, não gostava do brinquedo e um dia o enfiou na privada.

No final das contas, Tom foi resgatado e sobreviveu para se tornar o herói de um poema de Tolkien, The Adventures of Tom Bombadil, que foi publicado na Oxford Magazine em 1934 (três anos antes de O Hobbit, e vinte anos antes de A Sociedade do Anel). Na poesia, ouvíamos sobre um homem que descia o rio e fazia amigos no caminho, conhecendo os serzinhos e criaturas da floresta.

Mas essa não seria, nem de longe, a última aparição do personagem. Em A Sociedade do Anel, o livro, os hobbits encontram Tom Bombadil após saírem do condado, logo na sequência da Floresta Velha. Frodo, Sam, Merry e Pippin estão em apuros quando, de repente, escutam uma cantoria se aproximando - nada mais, nada menos, do que nosso querido Tom Bombadil, que ajuda os pequenos a enfrentarem as desventuras da floresta.

Descrito com a aparência de um homem com longa barba marrom, brilhantes olhos azuis, um rosto vermelho como uma maça, vestindo um casaco azul e um chapéu com uma pena - e claro, uma expressão divertida e risonha - Tom convida os pequenos Hobbits para conhecer sua casa na floresta. Lá eles se encontram Goldberry, mulher do personagem, e ficam super felizes com a recepção calorosa dos dois, mas continuam cheios de dúvidas.

É aí que Frodo pergunta o que todos nós gostaríamos de saber: Quem é Tom Bombadil? E Goldberry responde: “Ele apenas é. Ele é como vocês o viram. Ele é o mestre da madeira, da água e da colina”. Uma resposta bem abstrata e não muito específica - e, quando Frodo repete a questão para o próprio Bombadil, ele dá uma réplica ainda mais enigmática: “Ué, você ja não sabe o meu nome?”.

Ele conta, no entanto, que existe há mais tempo que as árvores, plantas, lagos, elfos e homens. Fica claro que Tom não é um simple lenhador da floresta - de fato, o bosque parece escutá-lo e obedecê-lo - e, conforme a trama caminha, nós acabamos descobrindo que o Um Anel, o artefato mais poderoso da Terra Média,  não exerce nenhuma influência sobre ele.

E aí começam as teorias: é especulado que o Anel não pode afetar Tom Bombadil porque ele está fora de toda a questão do poder e da dominação. Tolkien usa Tom como uma alegoria de que mesmo com essa intensa luta entre “o bem e o mal” rolando, isso é apenas parte de todo o quadro da existência. Bem e mal não existe no plano de acontecimentos envolvendo Tom, não tem significado pra realidade dele - em termos mais práticos, é como se ele fosse uma sidequest de videogame. 

Inclusive, quando os personagens encontram ele, dá pra sentir que eles basicamente entram em um outro universo: o universo de Tom Bombadil. Eles passam um tempo lá, vivendo aquela realidade, alienados de todo o resto ao seu redor - e depois voltam.

E aí vem outra teoria: Tom Bombadil está fora da narrativa porque o próprio personagem foi concebido por uma situação adversa, envolvendo a vida real de Tolkien. É um universo completamente alternativo ao que conhecemos no restante de O Senhor dos Anéis. Sabe aquele episódio da mosca em Breaking Bad? Então, esse é o arco do Bombadil.

Quando estamos lendo a parte dele, não estamos mais diante do drama envolvendo a guerra do Um Anel, Sauron e a disputa entre o bem e o mal: estamos simplesmente diante do universo das aventuras de Tom Bombadil, um mundo secundário criado por Tolkien. Ele é um intruso de fora da história.

O que refuta essa teoria é o fato que Tom não estar completamente separado da narrativa principal. Nos livros, veja bem Éowyn não matou o rei bruxo dos Nazgûl sozinha - ele foi esfaqueado pela primeira vez por Merry, com uma faca feita anos antes, especificamente para quebrar os feitiços malignos da criatura. E aquela faca foi dada a Merry por Tom… ou seja, ele influencia diretamente em acontecimentos importantes da narrativa.

Tom Bombadil, enfim, simboliza de certa forma a natureza, o espírito do interior da Inglaterra de antigamente. Ele é uma força natural imutável ​​em um mundo que Tolkien viu mudar rapidamente após os horrores da Segunda Guerra Mundial, uma força não corrompida pela ganância e pelo ódio, inexplicável, acima do bem e do mal, que tem como ideia primordial ensinar e aprender sobre a tradição do mundo, jantando com sua mulher e interagindo com pequenos animais da floresta 

Também é muito bem aceita a sugestão de que Tom é um contraponto à narrativa de “bem contra o mal” em O Senhor dos Anéis, e simplesmente representa uma forma de natureza que não reconhece as construções humanas de valor. Mas agora fica o questionamento: Tom Bombadil é um mistério que devemos resolver? Ou será que ele é um mistério que nunca deveria ser resolvido?

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