TikTok é berço de nova geração de roqueiros e headbangers - e podemos provar

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TikTok é berço de nova geração de roqueiros e headbangers - e podemos provar

“Estamos vendo uma revolução”, diz criador do ocaradometal sobre a cena no aplicativo

Omelete
2 min de leitura
11.08.2022, às 14H00.

*texto por Larissa Catharine Oliveira

As formas de se apaixonar pelo rock e metal já passaram por muitas mudanças com o tempo. Se há algumas décadas era preciso ter em mãos um vinil ou, mais tarde, um CD físico, para conhecer bandas inacessíveis e distantes, hoje existem outros meios, do Metallica em Stranger Things ao sucesso viral de Maneskin, banda vencedora do Eurovision em 2021. Mas você já pensou no TikTok como uma nova potência para o futuro do estilo?

Com quase três bilhões de downloads ao redor do mundo, a plataforma chinesa de vídeos já é uma das grandes transformações da forma como a indústria musical funciona: antes da era digital, os singles serviam para promover a venda do álbum vindouro, seguindo em turnê para alavancar as vendas de discos. Depois, a internet trouxe a era dos downloads digitais, renovando os desafios em driblar a pirataria com sites de transferência de arquivo como Napster, alvo de um processo do Metallica em 2000.

A chegada das plataformas de streaming trouxe uma nova fonte de renda para os artistas, apesar das justas críticas à remuneração baixa desses serviços, e uma nova lógica de playlists. Os singles se tornaram muito mais independentes e entrar em playlists de grande alcance se torna essencial, tornando o lançamento de EPs uma estratégia mais interessante para muitos gêneros musicais. 

Mas nada conseguiu o efeito surpreendente do TikTok, capaz de inverter a ordem natural de divulgação de álbuns e singles ao renascer hits do passado com força total nas paradas de sucesso e trazer qualquer assunto aos trends. Além de potencializador de discussões e disseminador de hits inesperados, o aplicativo se prova também como um berço promissor de uma nova geração de roqueiros e headbangers. Então, se você ainda pensa que TikTok só oferece dancinhas bobas, é hora de conhecer melhor…

Existe uma cena virtual crescente de criadores de conteúdo sobre rock e metal no TikTok - inclusive no Brasil. Com maior diversidade em relação aos veículos tradicionais sobre música pesada, seja em idade ou gênero, o aplicativo se tornou fonte de informação por meio de vídeos com curiosidades e humor sobre o tema, que trabalha espontaneamente e de forma orgânica para falar daquilo que mais gosta. 

Nesse movimento, o conteúdo de headbanger e roqueiros da plataforma foi capaz de alavancar o pós-punk de Molchat Doma, fortalecer o sucesso repentino de “Master of Puppets” após a cena icônica em Stranger Things e tornar o personagem headbanger esquisitão Eddie Munson como um novo crush da geração, dois trends capazes de acender o interesse de um público mais abrangente à estética e sonoridade do rock e metal. 

@ifrmaki new fav character unlocked #fyp #fypシ #foryou #foryoupage #strangerthings4#foryoupage #viral #eddiemunson #eddiemunsonedit #strangerthings #edit #trending ♬ som original - thay

Para citar alguns exemplos, todos na casa de um milhão de curtidas totais nos vídeos produzidos, temos Herica Farias com vídeos para desabafar sobre o preconceito contra mulheres fãs de rock e emular tretas de ídolos; o músico Raphael Casotto, que mostra as habilidades em vídeos bem humorados sobre “fãs de uma música só”; Pauline Stedile registra os dilemas, incoerências e manias dos headbangers em esquetes. Você consegue imaginar outra plataforma com tantas visualizações diárias sobre o tema em conteúdo feito pela juventude?

@hericafarias #rock #metal #metaleiro #rocktok #submundodorock #humor #pov #blacksabbath #gunsnroses #ledzeppelin ♬ som original - Herica Farias

E no caso do perfil ocaradometal, criado por Ian Garbinato, o projeto que ganhou força no TikTok se tornou uma banda e o levou ao mesmo palco de Yohan Kisser e Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, no festival Samsung Best of Blues, em Porto Alegre, em 15 de junho deste ano, e certamente ajudou na hora de convidar o baterista Aquiles Priester para participar de “This World”.

Formado em Produção Fonográfica pela Unisinos e estudante de Música na UFRGS, Ian chegou no TikTok de forma completamente intencional para a carreira musical. Já tendo passado por sete bandas antes, foi necessário parar e pensar em uma estratégia para conquistar seu público. Ao reparar a falta de “uma cara nova” entre os influenciadores da cena, como descreveu em entrevista ao Wikimetal para esta coluna, resolveu apostar na plataforma e rapidamente encontrou seu espaço - e os integrantes da banda. 

Ele já tinha gravado o single “O Hino das Pirigóticas”, mas ainda não tinha uma banda para aparecer no clipe. “Então fui num show de metal underground, uns meninos me reconheceram e eu falei do projeto e que, se eles tocassem bem, estariam dentro”, conta. Faltava apenas alguém para o backing vocal e foi pela parceria com Luana Cruz no TikTok que a questão foi resolvida: o que começou com colaborações para vídeos entre dois criadores de rock e metal da plataforma se tornou parceria musical e, pouco tempo depois, paixão e namoro. 

No caso de Lu, como a gaúcha de 20 anos é conhecida por mais de 150 mil seguidores no app, a produção de conteúdo “pra valer” começou em 2021 e com um objetivo que dialoga diretamente com essa renovação da base de fãs de música pesada. “Meu intuito sempre foi trazer mais pessoas para a cena, já que era muito difícil de encontrar aqui onde eu moro e até mesmo na própria plataforma”, disse. “O legal da plataforma é poder trazer explicações e histórias de artistas e bandas com diferentes formatos de vídeo e dessa forma, conseguimos trazer entretenimento e informação para todos os gostos. Sem dúvidas, o TikTok está sim, trazendo benefícios e chamando mais pessoas para a cena”. 

@lu_cruzzzz #rocknroll #axlrose #vinceneil #trend ♬ som original - Luana Cruz

E assim como a exposição do rock e metal no mainstream, seja com bandas jovens como Greta Van Fleet ou a guinada de estrelas pop como Miley Cyrus para o estilo, o poder de influência dos chamados TikTokers é inegável e não passa despercebido para Ian, que chegou na plataforma quando esse tipo de conteúdo ainda tinha poucos perfis dedicados ao assunto. 

“Estamos construindo juntos a nova geração do metal brasileiro, a maioria das pessoas que consome nosso conteúdo não é especialista, muitos escutavam uma ou outra banda por causa dos pais e agora são fãs, muitos não conheciam absolutamente nada, muitos já curtiam e agora curtem mais ainda porque se sentem acolhidos no meio”, explica. “Agora existe uma infinidade de jovens headbangers criadores de conteúdo sobre rock e metal na plataforma. Estamos realmente vendo uma revolução aqui, estamos fazendo história”.

Você ainda acha que TikTok é modinha de poser?

No Wikimetal, estamos sempre refletindo sobre o futuro do rock e heavy metal. Não porque acreditamos na “morte” da música pesada, pelo contrário, sabemos que o legado é eterno, como Daniel Dystyler pontuou na nossa última coluna, questionando sobre o que acontecerá quando o Olimpo do metal não estiver mais na Terra. Talvez seja pelo trabalho diário com os comentários de uma parcela resistente às novidades do público e que insistimos nessa tecla: é preciso uma mudança de atitude de quem ama música pesada para manter essa cena viva e passando bem, ao invés de se tornar um nicho limitado, uma previsão triste, mas vista como muito provável para muita gente

Falando sobre pautas interessantes do TikTok, não é raro ler comentários de demérito aos produtores de conteúdo da plataforma, geralmente entendidos como fúteis ou “posers”. Sem dúvidas, ocaradometal não escaparia disso, geralmente reduzidos a “uma banda de TikTok” e nada mais. “Na minha opinião, só um imbecil pensaria que ter uma conta em uma plataforma automaticamente te torna pior. Uma plataforma é apenas um meio, não é um indício de qualidade, desafio todos os que me questionam a olharem meu conteúdo e mostrarem saber mais sobre rock e metal do que eu. Desafio todos os que me questionam a um duelo de guitarra, vocal e teoria musical, quero ver se eu realmente sou inferior por usar uma plataforma”, diz Ian. 

E como já abordamos no podcast #346, existe a necessidade de uma reforma da cena do metal para se tornar verdadeiramente acolhedora, não apenas aos novos fãs, ao contrário do que aconteceu com alguns recém-chegados à família Metallica, mas também considerando toda a diversidade por vezes marginalizada em um movimento de outsiders. 

Com a nova geração, existe uma renovação de pensamento em uma cena dominada por homens brancos por tempo demais, com casos lamentáveis de racismo, misoginia e até neonazismo em algumas bandas. “Certamente o público da plataforma defende as minorias. Uma quantidade bem grande do nosso público faz parte de alguma minoria social ou étnica”, analisa Ian pela experiência com os seguidores. “Acho que a cena hoje em dia está melhor do que nunca nessa questão, tanto com o pessoal mais velho quanto mais novo. Mas não significa que a luta pelo fim do preconceito esteja finalizada, sempre lutaremos para melhorar a cena o máximo possível”.

PARA OUVIR

Você gosta de conhecer novas bandas e artistas de rock, metal e todos os subgêneros de música pesada? Então conheça a curadoria do Wikimetal na playlist Descobertas de Rock e Metal, atualizada semanalmente com as melhores faixas recebidas por artistas do mundo inteiro no Groover. Quem sabe sua nova banda favorita não está aqui? A playlist está disponível no Spotify e Deezer.

Lembrando que, se você gosta de receber os lançamentos de rock e metal em uma playlist única, todas as novidades da semana são reunidas na nossa playlist Lançamentos rock e metal, que também inclui novos artistas da curadoria. 

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O evento, que chega em sua 14ª edição, trará mais de 30 bandas de metal extremo para a capital paulista e para você ir preparadíssimo no festival, o Wikimetal apresentou todo o line-up quatro listas: veja aqui a primeira parte, a segunda, a terceira e a quarta

Os ingressos do Setembro Negro 2022 já estão à venda no site do Clube do Ingresso. Os valores vão de R$250 a R$1.400 – sendo o último um combo dos três dias no camarote.

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Fundado em 2011, o Wikimetal se tornou o maior portal de conteúdo próprio do segmento de rock e heavy metal do país. Atualizado diariamente com notícias, quizzes, enquetes, textos, entrevistas e cobertura de shows, o portal busca informar o público sobre o mundo musical além de apresentar uma visão sobre como a música se coloca em nossa sociedade.

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