Mötley Crüe, drogas e groupies: 6 verdades e mentiras no filme The Dirt

Créditos da imagem: Divulgação

Música

Mötley Crüe, drogas e groupies: 6 verdades e mentiras no filme The Dirt

Cinebiografia da banda traz verdades absurdas e histórias simples mal contadas na Netflix

Omelete
9 min de leitura
08.12.2022, às 17H53.
Atualizada em 09.12.2022, ÀS 16H28

Texto por Larissa Catharine Oliveira

No caso de bandas de rock como Mötley Crüe, as histórias mirabolantes alimentadas pelo vício em bebidas, drogas e sexo se tornam partes tão (ou mais) importantes do que a própria música. Um dos principais nomes do glam, a banda de Los Angeles eternizou uma fábula sobre a glória e as tragédias da carreira no filme The Dirt, lançado em 2019.

Ao contrário de sucessos de bilheteria como Bohemian Rhapsody, cinebiografia do Queen, ou Rocketman, sobre Elton John, o filme The Dirt não foi aos cinemas e, com uma classificação indicativa de 18 anos, nem seria vantajoso investir nas telonas com o longa, que encontrou o público ideal enquanto original da Netflix. Apesar de não ser um queridinho da crítica, com apenas 36% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme foi bem abraçado pelo público e recebeu uma avaliação positiva de 94% dos telespectadores. 

Nas plataformas de streaming de música, o interesse pela banda teve picos altíssimos. De acordo com o Deadline, os plays do Mötley Crüe aumentaram 570% no Spotify, 669% no Deezer, 900% na Apple Music e impressionantes 2027% na Amazon, com o livro The Dirt retornando aos destaques de venda nas semanas seguintes ao lançamento.

Neste registro com ares de grandiosidade e uma história tão maquiada quanto Nikki Sixx, Tommy Lee, Vince Neil e Mick Mars no final dos anos 1980, a cinebiografia do Mötley Crüe conseguiu conquistar fãs antigos e apresentar o conto de grandiosidade da banda para uma nova geração com bom casting e irreverência, mas nem tanta verdade assim.

Apoiado em uma narração alternada dos quatro protagonistas, o filme é honesto ao confessar com bom humor que alguns pontos foram alterados para favorecer o roteiro, mas é evidente que isso não acontece em cada mentira ou meia verdade contada. Existem linhas gerais que foram romantizadas ou resumidas para o filme, como o vocalista da banda antes de Vince Neil, e como foi bem mais demorado para recrutar o cantor, além dos obstáculos para a banda conseguir um contrato, já que, na vida real, nada flui tão rapidamente assim.

Mas alguns pontos chamam mais atenção pela extravagância ou gravidade, das overdoses e tragédias pessoais aos absurdos misóginos e abuso de drogas. Por isso, o Wikimetal selecionou momentos importantes de The Dirt para separar fatos de ficção.

Declínio da banda com John Corabi

John Corabi se tornou vocalista do Mötley Crüe após a saída de Vince Neil da banda, entre os anos 1992 e 1996. Substituir um vocalista estabelecido logo após o auge do sucesso de uma banda nunca é tarefa fácil, especialmente na década em que o grunge colocou a relevâncias de bandas de glam e hard rock em cheque. Esses fatores unidos tornaram o disco Mötley Crüe (1994) um fracasso comercial e os shows da banda já não lotavam a capacidade máxima das casas.

Porém, The Dirt exagera de forma injusta ao insinuar que a banda foi assistida por poucas dezenas de pessoas em alguns shows daquela turnê - e John Corabi se sentiu humilhado pela representação que recebeu no longa. “Eles fizeram parecer que eu estava muito bravo quando [os caras da banda] basicamente entram no ginásio de uma escola e encontram umas oito pessoas. Desculpa, mas, independente de como era a venda de ingressos quando eu estava no Mötley Crue, elas nunca foram tão ruins assim. Eu meio que levei como um elogio sarcástico, mas nem foi um elogio; foi um insulto. Eu fui insultado”, disse o cantor ao The Metal Summit após ver o filme.

A morte de Razzle

Um dos eventos mais traumáticos da história da banda foi o acidente de carro que matou o baterista Nicholas “Razzle” Dingley, da banda Hanoi Rocks, aos 24 anos de idade, e encerrou as atividades do grupo.

O acidente aconteceu quando Vince Neil resolveu comprar mais bebidas para uma festa e chamou Razzle para acompanhá-lo, em 08 de dezembro de 1984. Apesar da pouca distância, o estado de embriaguez tornou o vocalista do Mötley Crüe um motorista perigoso e o acidente aconteceu no trajeto de volta, atingindo outro veículo.

Segundo Andy McCoy, guitarrista da extinta banda de hard rock, a festa não era grandiosa como se mostra no filme: "Você sabe o que realmente aconteceu? Estávamos em um apartamento de dois quartos. Tinham cinco pessoas lá. Quando vi o filme, ou trechos do filme, eu pensei ‘Não quero ver isso na íntegra’. Isso é baboseira de Hollywood. (…) O filme é apenas pura mentira e mais baboseira. E não consigo engolir esse tipo de porcaria, quero a verdade sendo dita”, disse em entrevista ao programa Waste Some Time With Jason Green (via Ultimate Guitar).

Um fato deixado de lado com frequência nesse trágico acontecimento é que houveram outras vítimas no outro carro: Lisa Hogan, com 18 anos na época, entrou em coma após o acidente, e Daniel Smithers, que tinha 20 anos. Ambos ficaram com danos cerebrais permanentes. 

“Essas pessoas ficaram feridas pelo resto de suas vidas. Quando eu os vi, dava para perceber que eles estavam muito fodidos. Isso provavelmente foi mais impactante do que ir para a cadeia. Provavelmente não; definitivamente foi”, escreveu Neil na autobiografia Tattoos & Tequila (via Ultimate Classic Rock).

Demissão de Doc McGhee por causa da mãe de Nikki Sixx

No filme, o empresário Doc McGhee é demitido de impulso após tentar reaproximar Nikki Sixx da mãe, com quem o músico tinha um relacionamento conturbado e distante desde a infância. Um encontro surpresa do músico com a mãe em um lobby de hotel revolta Sixx, que demite o manager ali mesmo.

Na vida real, porém, o motivo foi muito diferente. De acordo com a Rolling Stone, a demissão aconteceu por negócios ao invés de questões familiares, quando McGhee organizou o festival Moscow Peace, em 1989, com as bandas Bon Jovi, Scorpions, Ozzy Osbourne e Mötley Crüe, e informou que os shows seriam rápidos e sem grande produção.

Quando Sixx e companhia chegaram ao festival, porém, a banda ficou insatisfeita de ser a primeira da noite a se apresentar e ver que Bon Jovi teria uma um set inteiro com pirotecnia, ao contrário do que foi combinado. A demissão aconteceu no dia do evento. 

Ozzy Osbourne, formigas e urina

Uma das cenas mais nojentas do filme envolve uma história louca demais para ser verdade, e envolve Ozzy Osbourne, que teria cheirado uma fila de formigas na falta de cocaína durante uma turnê com Mötley Crüe. A situação insana ainda piora: o Príncipe das Trevas aparece urinando ao lado da piscina do hotel onde estava hospedado e lambe o próprio xixi, desafiando Nikki Sixx a fazer o mesmo, mas… Ozzy lambe a urina do colega musical também. 

Esse fato é mais difícil de determinar como verdadeiro ou falso se você levar em consideração apenas os protagonistas da cena nojenta, como a Vanity Fair aponta, já que Ozzy afirmou publicamente que não se lembra de nada disso. Porém, no livro The Dirt, Nikki Sixx garante que a passagem foi real. 

Existe ainda outra testemunha: Jake E. Lee, guitarrista na turnê de Ozzy naqueles tempos. De acordo com ele, existe apenas um pequeno erro na descrição de Sixx, uma vez que o Príncipe das Trevas teria cheirado uma pequena aranha ao invés de uma carreira de formiguinhas. 

E a parte da urina, bem… Realmente aconteceu. “Começou como uma competição entre Nikki e Ozzy, eles estavam na piscina e fizeram uma corrida; Ozzy perdeu, claro. Eles fizeram uma competição de flexão e, mais uma vez, Ozzy perdeu. Ele estava cansado de perder e elevou o nível do jogo, lembro que Ozzy estava sentado com uma cara esquisita. Ele estava sentado no concreto e xixi começou a fluir debaixo dele. E ele obviamente estava tomando muitas vitaminas, porque [a urina] estava verde limão. Então Sixx mijou na garota que estava com ele”, contou Lee ao Tone-Talk (via Blabbermouth). “Foi aí que Ozzy se curvou e começou a lamber o próprio xixi verde. Foi nesse ponto que falei, ‘Ok, vou embora daqui’, porque tinham famílias do outro lado da piscina”. 

Mick Mars santinho?

Mick Mars é retratado como o integrante mais ponderado do Mötley Crüe em The Dirt. Mais velho e experiente, o guitarrista sofre de problemas de saúde e geralmente usa o álcool como uma escapatória para dores físicas, sem protagonizar cenas de devassidão no longa.

Em uma cena, o músico parece quase pró-feminismo ao explicar porque não participa dos bacanais ao lado dos colegas. "Acontece que tenho respeito por mim e pelas fêmeas de nossa espécie, diferente de vocês, animais", diz com os braços cruzados e ar de reprovação. 

O próprio guitarrista aprovou a representação no filme, como contou ao LA Weekly. “Ele é exatamente como eu era, sentado sozinho, assistindo aos outros caras fazendo loucuras”, disse Mick. 

Como o site Grunge lembra bem, o comportamento misógino e hedonista ao extremo dos colegas de banda facilitaram a fama de Mick Mars como o mais responsável da banda, mas isso não o tornava um santo. “Não deixe Mick Mars te enganar, vou te dizer isso. Ele teve sua parcela na devassidão”, garantiu Nikki Sixx em entrevista à Louder

Em 1985, o guitarrista confessou seu amor por groupies em uma entrevista à Georgia Straight. “[Elas] são uma benção, eu amo groupies. Sem groupies, meu Deus, eu provavelmente não seria um músico. Provavelmente iria pra casa e seria um fazendeiro, algo assim”, contou na época. 

A primeira morte de Nikki Sixx

Em 22 de dezembro de 1987, o baixista estava em uma festa e sofreu uma overdose de heroína. Quando o socorro chegou, Sixx foi encontrado sem batimentos cardíacos ou respiração e chegou a ser declarado clinicamente morto no local. 

A notícia chegou a ser veiculada entre artistas e algumas rádios, mas um paramédico aplicou uma segunda dose de adrenalina no coração de Sixx, salvando o músico da morte. No filme, a cena do socorro e recuperação de Nikki é resumida em menos de um minuto com mais humor do que seria ideal diante de uma situação tão grave. 

Curiosamente, na vida real, essa noitada aconteceu com algumas figuras icônicas do hard rock (e conhecidas por excessos também), como Slash e Steve Adler, do Guns N’ Roses, e Robbin Crosby, do Ratt, personagens que foram completamente apagados do filme.

Conforme relatado no documentário Live Through This, a namorada de Slash na época foi essencial para os primeiros socorros, pois tentou acordar Nikki Sixx com água e iniciou o procedimento de respiração boca a boca, enquanto orientou os demais presentes a chamar uma ambulância.

WIKIMETAL RECOMENDA

Mötley Crüe e Def Leppard passarão pelo Brasil em breve com a turnê conjunta The World Tour. O show único acontece em 07 março de 2023 e os ingressos já estão à venda pela Eventim para essa combinação imperdível, com valores a partir de R$180.

A turnê com as duas grandes bandas teve início em junho sob o nome The Stadium Tour. No exterior, ela foi uma super turnê unindo Mötley Crüe, Def Leppard, Poison e Joan Jett and The Blackhearts. 

PARA OUVIR

O Knotfest, festival com curadoria do Slipknot, virá ao Brasil pela primeira vez no dia 18 de dezembro. Ocupando o Sambódromo do Anhembi, o evento terá grandes nomes do rock nacional e internacional. Os ingressos estão à venda na Eventim

Judas Priest, Bring Me The Horizon, Pantera, Sepultura e Trivium são alguns desses grandes nomes que ocuparão o lineup do evento, que também traz nomes não tão conhecidos. Aqui, listamos cada uma dessas bandas e te contamos um pouco sobre cada uma delas para você ir ao evento preparado!

Ouça a playlist do Wikimetal para apresentar as bandas que participam do festival, disponível no Spotify e também no Deezer.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.