O cantor Thom Yorke, do Radiohead e da banda The Smile, publicou um comunicado nesta sexta-feira (30), sobre os ataques de Israel a Palestina, além de também criticar o grupo terrorista Hamas pela não libertação de reféns.
A publicação vem depois de um problema que o cantor teve no ano passado com um fã que estava na plateia durante um show em Melbourne, em que foi cobrado sobre um posicionamento quanto ao conflito. Na época, Yorke quis fazer o rapaz subir ao palco para falar sobre a Palestina, retrucando.
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"Não fique aí parado como um covarde, venha aqui e diga. Quer estragar a noite de todo mundo? Ok, faça isso, até mais", continua Yorke, antes de pegar sua guitarra e interromper seu show. Sua saída ocorreu quando o provocador repetiu o chamado e acrescentou: "quantas crianças mortas serão necessárias".
Na publicação, Yorke diz que ficou "chocado" que as pessoas encararam o seu silêncio como complacência e que estava achando dificuldades em encontrar uma forma para expressar sua opinião de uma forma adequada. No texto, Yorke se posiciona de forma direta contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e sua base de apoio político. "Netanyahu e seu grupo de extremistas estão completamente fora de controle e precisam ser detidos", escreveu. Para ele, a justificativa de autodefesa "já se esgotou" e foi substituída por um desejo explícito de tomar o controle permanente de Gaza e da Cisjordânia.
O cantor também falou sobre os atos do dia 7 de outubro do Hamas, os chamando de "verdadeiramente horríveis" e afirmou que o grupo "escolhe se esconder por trás do sofrimento do seu próprio povo de forma cínica". Ele ainda também criticou a postura das pessoas nas redes sociais.
"Entendo totalmente a vontade de 'fazer algo' ao assistir tanto sofrimento nas telas todos os dias", disse. "Mas acreditar que repostar ou escrever uma ou duas frases condenando alguém tem algum efeito real é uma ilusão perigosa", continuou o cantor. Confira abaixo na íntegra a publicação:
Um cara gritando comigo no escuro no ano passado, quando eu estava pegando uma guitarra para cantar a última música sozinho na frente de 9 mil pessoas em Melbourne, não parecia exatamente o melhor momento para discutir a catástrofe humanitária em andamento em Gaza.
Depois disso, permaneci em estado de choque pelo fato de que meu suposto silêncio estava sendo, de alguma forma, interpretado como cumplicidade, e lutei para encontrar uma maneira adequada de responder a isso e continuar com o restante dos shows da turnê.
Esse silêncio — minha tentativa de demonstrar respeito por todos que estão sofrendo e por aqueles que morreram, e de não banalizar isso em poucas palavras — permitiu que outros grupos oportunistas usassem intimidação e difamação para preencher as lacunas, e me arrependo de ter lhes dado essa chance. Isso teve um peso enorme na minha saúde mental.
Espero que, para qualquer pessoa que já tenha escutado uma nota da música da minha banda ou qualquer coisa que eu tenha criado ao longo dos anos, ou olhado para as artes visuais ou lido alguma das letras, seja evidente que eu jamais poderia apoiar qualquer forma de extremismo ou desumanização do outro. Tudo o que vejo em uma vida inteira de trabalho com meus colegas músicos e artistas é a tentativa de se opor a essas coisas, de criar obras que transcendam o que significa ser controlado, coagido, ameaçado, sofrer, ser intimidado... e, em vez disso, incentivar o pensamento crítico além das fronteiras, a comunhão do amor, da experiência e da livre expressão criativa.
Parece piegas... mas é verdade. Para os outros, deixem-me preencher as lacunas agora, para que tudo fique bem claro. Acho que Netanyahu e sua turma de extremistas estão completamente fora de controle e precisam ser detidos, e que a comunidade internacional deve exercer toda a pressão possível para que cessem. A desculpa deles de autodefesa já se esgotou há muito tempo e foi substituída por um desejo transparente de controlar permanentemente Gaza e a Cisjordânia.
Acredito que essa administração ultranacionalista se escondeu atrás de um povo aterrorizado e enlutado e os usou para desviar qualquer crítica, explorando esse medo e essa dor para avançar sua agenda ultranacionalista com consequências terríveis, como vemos agora com o bloqueio horrível à ajuda humanitária em Gaza.
Enquanto nossas vidas seguem normalmente, milhares e milhares de almas humanas inocentes continuam sendo expulsas da Terra... por quê? Ao mesmo tempo, o refrão inquestionável do "Free Palestine" (Libertem a Palestina) que nos cerca não responde à pergunta simples de por que todos os reféns ainda não foram devolvidos? Por qual possível razão?
Por que o Hamas escolheu os atos verdadeiramente horríveis de 7 de outubro? A resposta parece óbvia, e acredito que o Hamas também escolhe se esconder atrás do sofrimento de seu povo, de forma igualmente cínica e com seus próprios objetivos.
Também acho que há um ponto adicional e extremamente importante a ser feito. As caças às bruxas nas redes sociais (nada de novo) de ambos os lados, pressionando artistas e quem mais acharem conveniente naquela semana a fazer declarações etc., fazem muito pouco além de aumentar a tensão, o medo e a simplificação excessiva de problemas complexos que merecem um debate adequado, cara a cara, entre pessoas que realmente desejam o fim dos assassinatos e a construção de entendimento.
Esse tipo de polarização deliberada não serve aos nossos semelhantes e perpetua uma mentalidade constante de "nós contra eles". Isso destrói a esperança e alimenta a sensação de isolamento — exatamente as coisas que os extremistas usam para manter sua posição. Facilitamos que eles se escondam à vista de todos quando assumimos que os extremistas e as pessoas que dizem representar são uma só coisa, indivisíveis.
Se o nosso mundo algum dia for capaz de seguir em frente desses tempos sombrios e encontrar a paz, isso só acontecerá quando redescobrirmos o que temos em comum, e os extremistas forem enviados de volta para a escuridão de onde vieram.
Tenho total simpatia pelo desejo de "fazer alguma coisa" quando testemunhamos tanto sofrimento horrível em nossos dispositivos todos os dias. Faz todo sentido. Mas agora penso que é uma ilusão perigosa acreditar que repostar ou escrever uma ou duas frases tenha algum significado real — especialmente se for para condenar outro ser humano. Há consequências não intencionais.
É gritar do escuro. É não olhar as pessoas nos olhos ao falar. É fazer suposições perigosas. Não é debate e não é pensamento crítico.
Mais importante: está sujeito a todo tipo de manipulação online, tanto mecânica quanto política.
Qual é a alternativa? Não consigo responder isso facilmente. Sei que, em comunidades ao redor do mundo, esse assunto agora é perigosamente tóxico e estamos em águas desconhecidas. Precisamos voltar atrás.
Tenho certeza de que, até aqui, o que escrevi não vai de forma alguma satisfazer aqueles que escolhem me atacar ou atacar quem trabalha comigo — eles vão gastar tempo procurando falhas e razões para continuar. Somos uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, sem dúvida, por qualquer um dos lados.
Escrevi isso com a simples esperança de que eu possa me unir aos muitos milhões de outros que oram para que esse sofrimento, esse isolamento e essas mortes acabem — orando para que possamos, coletivamente, recuperar nossa humanidade, dignidade e capacidade de alcançar o entendimento... para que, um dia em breve, essa escuridão tenha passado".
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