Bruce Springsteen tem um alvo em sua nova turnê: o governo Donald Trump. Em Road Diary, documentário dirigido por Thom Zimny, lançado em 2024, o cantor de 75 anos disse que só abandonará os palcos quando descansar pela eternidade. Acostumado aos shows de mais de duas horas - alguns com mais de três - o “Boss” mostrou em seu último disco, Letter to You, que não está de olhos fechados para a finitude. A perda de companheiros atuais e do passado refletem em suas últimas canções. Entretanto, Springsteen também deixa claro que não tem medo da reta final e continua seu processo de se manter influente tanto na música, quanto fora dos palcos, especialmente na política.
Apoiador dos Democratas, fez campanha para Joe Biden, para Kamala Harris e tem projetos com Barack Obama. Seu posicionamento político nunca foi surpresa. Ao contrário do que desavisados possam achar, álbuns como Born in the U.S.A., que estampa a bandeira do país na capa, trazem canções que narram o patriotismo junto com as dificuldades da classe operária e desilusões da “terra da liberdade". O cantor nunca escondeu sua proximidade com Nova Jersey e foi considerado pioneiro em um subgênero do rock - o heartland rock - dedicado àqueles que cantam sobre classes trabalhadoras e mensagens de cunho social. The Rising, por exemplo, é dedicado às vítimas dos ataques de 11 de setembro e também uma reflexão sobre a sociedade norte-americana após os atentados.
Nas últimas semanas, o cantor começou a Land of Hope & Dreams Tour, uma série de shows que vai encerrar a turnê atual de Springsteen, com 16 shows e cerca de 700 mil pessoas esperadas em público. Logo de cara, na primeira apresentação em Manchester, no Reino Unido, em 14 de maio, Bruce mostrou mais uma vez que usará suas canções como manifestação do pensamento político e abriu a música título da turnê - que em tradução livre significa “Terra da Esperança e dos Sonhos” - com um discurso contra o atual presidente dos EUA e sua administração, a qual chamou de “corrupta, incompetente e traidora”.
“A poderosa E Street Band está aqui esta noite para invocar o poder justo da arte, da música, do rock ‘n’ roll, em tempos perigosos. Em minha casa, a América que amo, a América sobre a qual escrevi e que tem sido um farol de esperança e liberdade por 250 anos, está atualmente nas mãos de uma administração corrupta, incompetente e traidora. Esta noite, pedimos a todos os que acreditam na democracia e no melhor da nossa experiência americana que se levantem conosco, levantem suas vozes contra o autoritarismo e deixem a liberdade soar.”
A manifestação de Springsteen se transformou num EP com quatro canções, apresentadas ao vivo, e duas introduções. A segunda, antes de My City of Ruins, canção de The Rising, também traz outro discurso do Boss contra Trump, no qual ele comenta os ataques do presidente contra aliados históricos, universidades e contra o próprio povo, afirmando que Donald Trump e sua administração estão "perseguindo pessoas por usarem seu direito à liberdade de expressão e expressarem sua discordância". Ele diz ainda que o país está cortando a ajuda aos pobres, revertendo proteções de direitos civis e deportando pessoas sem o devido processo legal.
“A maioria dos nossos representantes eleitos não conseguiu proteger o povo americano dos abusos de um presidente incompetente e de um governo desonesto”, disse Springsteen. “Eles não têm a mínima preocupação ou noção do que significa ser profundamente americano.”
As declarações, claro, renderam bravatas e posts em redes sociais do presidente, chamando Springsteen de "um roqueiro 'ameixa ressecada’ (sua pele está toda atrofiada!)". Ele ainda disse que o cantor deveria ficar calado até sua volta aos EUA e pediu uma investigação contra o cantor e outras celebridades que sempre aparecem em seu radar, como Oprah Winfrey, Beyoncé e Bono Vox.
Goste Trump ou não, Bruce Springsteen ainda terá muito tempo de atenção dos fãs e da mídia ao longo da turnê pela Europa. Após isso, no segundo semestre, ele começará outra tour: a de lançamento de Deliver me From Nowhere, sua cinebiografia, que será estrelada por Jeremy Allen White. E se o Boss tem seu próprio palco e uma legião que o segue durante os shows, Donald Trump pode se preparar no seu palco, dentro do Salão Oval, já que continuará sendo alvo também nos tapetes vermelhos e possíveis festivais que o filme poderá ser exibido e que acontecem próximos das eleições legislativas dos EUA.
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