Já faz um bom tempo que todos os álbuns de Taylor Swift se apresentam de formas totalmente distintas para os ouvintes. Para o público mais casual, a musicalidade e os refrões são o que mais importa; para os fãs mais aficionados – que não são poucos –, cada novo trabalho da cantora traz pequenos vislumbres de sua vida pessoal. Não é diferente com The Life of a Showgirl, que, nessa segunda visão, já parte de uma promessa falida em sua concepção: escancarar o que acontece quando as cortinas se fecham.

Referências e indiretas nada discretas para namorados, rivais e empresários estão na discografia de Swift desde muito cedo em sua carreira, e ainda que se venda assim, o novo álbum não traz novidades nesse sentido. Claro, as teorias sobre uma rixa com Charli XCX já pipocam pela internet, e as referências a futebol americano não deixam dúvidas sobre quem algumas letras estão falando, mas já estamos acostumados com essa pessoalidade há bastante tempo.

É possível argumentar que o próprio The Tortured Poets Department dava uma visão mais inédita sobre Swift com “I Can Do It With a Broken Heart”, que soava como um desabafo em meio ao ritmo insano da The Eras Tour. A faixa-título de The Life of a Showgirl até se posiciona de forma similar, mas não chega a ser tão profunda.

Tematicamente, o 12º álbum da cantora é recebido da mesma forma que, no mínimo, os dois últimos: com teorias sobre narrativas que já eram pré-estabelecidas. A questão das Taylor’s Versions e a briga pela posse de suas músicas, o noivado com Travis Kelce e até a traumática morte de Jeff Lang, colega de escola de Taylor, eram todas de conhecimento do público.

Musicalmente, o panorama muda. Retomando a parceria com os produtores Max Martin e Shellback, envolvidos com alguns dos maiores hits do 1989, e com a guinada ao eletrônico em Reputation, Taylor consegue criar uma versão mais madura do pop comercial que já marcava os dois álbuns citados.

Esse crescimento se traduz em vocais afiados, que se alternam entre o aveludado e os agudos, e até na marcação de ritmo, como na rápida ponte da última faixa. Ele também aparece na instrumentação, com a guitarra de “Actually Romantic” e “CANCELLED!” – ainda que esta última deixe um gostinho de quero mais nos refrões, quando inverte as expectativas e abraça o eletrônico.

O pop atual está de braços abertos para experimentações desse tipo, afinal, o gênero não tem sido nada homogêneo nos últimos anos. Nomes como Olivia Rodrigo, Sabrina Carpenter, Chappel Roan e Charli XCX atingiram o estrelato emprestando elementos de outros campos, e Taylor se aproveita do mesmo recurso aqui.

Não à toa, as faixas menos memoráveis de The Life of a Showgirl são, também, as mais confortáveis. A impressão é de que houve um carinho maior ao produzir as letras que apresentam mensagens mais profundas, enquanto as outras receberam um tratamento mais genérico, como “Honey” e “Wi$h Li$t”.

The Life of a Showgirl, enfim, não cumpre a missão narrativa que se propõe, mas não deixa de mostrar a evolução de Taylor Swift como artista. Ainda que, tematicamente, o novo disco passe longe de trazer algo inédito, ele não deixa de ser fruto de uma excelente compositora – que aqui, aparece apenas em lampejos.

The Life of a Showgirl

Taylor Swift

2025

Produção: Max Martin, Shellback, Taylor Swift