Não dá para dizer que há muitas surpresas no Happy Burstday, quinto disco completo da carreira do Seventeen. Lançado para comemorar os dez anos desde a estreia do grupo de k-pop - com o EP 17 Carat, em maio de 2015 -, o álbum entende o espírito de celebração justamente como desculpa para trafegar em ideias e sonoridades que consagraram a sua trajetória, numa tentativa de atualizá-las para o contexto da maturidade dos integrantes. E não é uma compreensão injusta do conceito, inclusive, mas é interessante observar que o Happy Burstday também chega em um momento de certa estagnação criativa para o grupo - embora as vendas sigam mais saudáveis do que nunca, na Coreia e no mundo -, que tem aparecido, a cada comeback, mais asfixiado pelas expectativas depositadas nele.
É claro que ficou para trás o Seventeen jovial e brincalhão de “Left & Right” e “Very Nice”, dois dos maiores hits do grupo na primeira metade da carreira, mas parece que nos últimos anos o integrante Woozi - principal compositor e produtor do grupo desde o começo de sua trajetória - está se debatendo para encontrar um caminho sofisticado ou assertivo o bastante para o seguimento do grupo. Para o seu crédito, ele normalmente encontra o caminho nos singles de cada álbum, como acontece aqui com o eletro deliciosamente sujo de “THUNDER”. Comprometido com um assobio estridente, um refrão que é pura embromação (“Alo, alo, T-H-U-N-D-E-R”), e um tom de atrevimento que se mantém mesmo enquanto os vocais se revezam entre os 13 integrantes do grupo, a canção promete um Happy Burstday clubber que nunca se materializa.
Falando francamente, parte da asfixia experimentada pelo Seventeen talvez tenha a ver mesmo com a confiança quase irrestrita em Woozi. Apesar de talentoso e apaixonado pelo seu ofício, o rapaz claramente foi empurrado pelo ritmo alucinante de uma carreira no k-pop para um tipo de produtividade que nenhum compositor pop seria capaz de replicar sem cair na mesma anestesia criativa. Aqui, enquanto ele aparece de novo como letrista e produtor da maioria das faixas, é fácil identificar as exceções - como o synthpop etéreo “Skyfall” (solo de The8, escrito por ele, Vernon e Robb Roy) e o pop rock enérgico “Shining Star” (solo de Vernon, em que ele repete a parceria com Roy) -, porque elas são também as canções mais elásticas do disco.
Uma vez que o disco mergulha no pique de dar a cada um dos integrantes o seu solo, outro gimmick utilizado para marcar os 10 anos do grupo, vão inclusive aparecendo composições bastante engessadas. Quando aborda a música eletrônica a partir de tons de sintetizador mais mudos, tentando evocar uma suavidade que não é sua, Woozi sai com a esquecível “Fortunate Change” (solo de Joshua), enquanto deixa o pobre Jeonghan com a balada mais curta e burocrática do disco, “Coincidence”. O próprio solo do integrante, intitulado “Destiny” (em uma escolha emblemática, Woozi prefere deixar a composição de sua própria música nas mãos do parceiro criativo Bumzu), é mais forte como número meloso da vez, embora não se encaixe nem um pouco no tom esganiçado do seu vocalista.
Boa mesmo é “Raindrops”, em que o vocalista Seungkwan toma conta também da composição, e mostra saber se inserir exatamente no tipo de número acústico com toques de soul que favorece sua voz impressionantemente elástica. Ou ainda “Happy Virus”, em que o cantor DK é creditado como co-compositor de Woozi, injetando no be-a-bá pop do colega de grupo algo descontraído e contagiante que lhe tem faltado. Como qualquer álbum pop, enfim, o Happy Burstday é melhor quando está nas mãos de artistas que o guiam para uma direção que faz sentido para se expressarem dentro do território que lhe foi designado na indústria. E é quando estão sozinhos, falando por si mesmos, que eles parecem melhores do que falando em conjunto, sob a batuta de Woozi.
O que isso significa para o Seventeen, cuja sobrevivência como grupo no k-pop, após essa marca dos 10 anos e cercados de competidores mais jovens e mais dispostos, é menos garantida do que nunca? Bom, isso é conversa para outra hora. Por enquanto, os fãs ganham um disco que, pelo menos, é mais simpático do que a média.
Happy Burstday
Seventeen
Ano: 2025
Produção: Vindver, Babe Truth, IOAH, BuildingOwner, Park Ki-tae, Virgin Kim, Park Se-jun, Pdogg, GHSTLOOP, El Capitxn, Bumzu, Woozi, Pharrell Williams, Mike Larson, Timbaland, Nicolkeem, Ohway!, Numbernine, Vendors, Shin Seung-ik
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