Em novembro do ano passado, no meu review do Happy, primeiro álbum solo do cantor sul-coreano Jin, falei sobre como a faixa de abertura do disco, “Running Wild”, não representava em nada as canções que a seguiam. De fato, o Happy só melhorava e encontrava seu espaço depois de tirar da frente o aborrecido single em inglês, escrito para o integrante do BTS pelo popstar britânico Gary Barlow, do Take That. Pois bem: em Echo, segundo disco de Jin, acontece justamente o contrário.
Selecionada como single de trabalho do álbum e também sua canção de abertura, “Don’t Say You Love Me” prova que é possível compor baladas pop rock dinâmicas, joviais e sonicamente interessantes para o cantor - mesmo que elas venham de fontes ocidentais. Após os acordes doces de um violão na abertura, a faixa cai em instrumental cristalino, levado por uma linha de baixo providencial e colorido por teclados sintetizados de inspiração cósmica, enquanto Jin estica seu tom expressivo para agudos ofegantes que rimam bem com a melodia suplicante escrita por Nathan Fertig e Wyatt Sanders: “Não diga que me ama porque é o que dói mais/ Você tem que me deixar ir”.
Cheia de boas viradas de percussão e sem o cheiro de naftalina que exalava da composição de Barlow, “Say You Love Me” promete um Jin emotivo e contemporâneo, mas também mais leve - uma pena que ele não apareça durante todo o disco. Isso porque já a faixa seguinte, “Nothing Without Your Love”, dá um susto em quem embarcou na levada gostosa da antecessora. Enterrando Jin por baixo de um pacote de cordas pesado e filtros de voz ainda mais sufocantes, a canção faz par com “Background” como as duas faixas de romantismo piegas que arrastam o Echo para baixo de uma forma que as outras elaborações pop contidas nele não mereceriam.
Veja “Loser”, por exemplo, parceria de Jin com YENA, a ex-integrante do Iz*one conhecida pela energia descontraída de seus lançamentos solo. Com guitarras ardidas que acompanham a melodia repetitiva do refrão, a faixa emula com prazer óbvio uma fase muito específica do pop rock ocidental, que veio para dar tintas mais leves ao emocore, com Avril Lavigne e The Ting Tings ditando os coros de líder de torcida como a tendência mais quente do mercado. Que a canção venha colada com “Rope It”, ainda mais ousada na sua entrega às particularidades de um nicho (dessa vez, Jin faz a sua melhor Shania Twain em meio a rabecas e guitarras perfeitas para o line dancing), é testamento de um artista cheio de energia inventiva.
Adicione nessa conta também “In the Clouds”, escrita em colaboração com o japonês Yojiro Oda, da banda de rock Radwimps (fãs de anime vão reconhecê-los pelas trilhas de Your Name e outros filmes de Makoto Shinkai). Em um testamento à sua paixão pelo j-rock, essa é a segunda vez que Jin chama um nome forte do gênero para seus projetos solo - no disco anterior, foi o frontman da One Ok Rock -, e também a segunda vez que ele aplica sua paixão interpretativa a uma canção que incorpora totalmente as revoluções de ritmo e tempo que definem a forma de fazer música dessas bandas. Imprevisível e cheia de voos poéticos, “In the Clouds” escapa espertamente da pieguice de outras baladas do álbum.
Na dualidade desses acertos e erros, Echo se sai um álbum bem mais irregular que o Happy. Suas entregas à narrativa musical inofensiva que as gravadoras sempre preferem para seus maiores astros são mais significativas, e o artista no centro de tudo parece ter menos espaço para se mostrar - mas ele ainda está aqui, e é um prazer ouvi-lo quando ele aparece.
Echo
Jin
Ano: 2025
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