Como a Mulher-Maravilha de Gal Gadot entrou para a história

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Como a Mulher-Maravilha de Gal Gadot entrou para a história

Acerto da personagem em Batman Vs Superman iniciou um novo capítulo para as heroínas nas telas

21.10.2019, às 16H30.
Atualizada em 28.10.2019, ÀS 13H18

Batman Vs Superman: A Origem da Justiça dividiu público e crítica (leia aqui) na sua trajetória nos cinemas. Um elemento do filme, porém, foi quase unanimidade: a Mulher-Maravilha de Gal Gadot.

Quando a ex-miss, ex-recruta do exército Israel, ex-modelo e ex-estudante de Direito foi escalada para o papel, as reações foram de desconfiança. Como uma atriz com o corpo esguio, “de modelo”, e inexperiente - cujos créditos se resumiam a franquia Velozes e Furiosos, papéis na TV israelense e um par de comédias de ação - poderia dar vida a um dos maiores ícones dos quadrinhos? Uma personagem que, assim como seus colegas Superman e Batman, transcendera as páginas das HQs, tornando-se um símbolo, reconhecido mesmo por quem nunca chegou perto de um gibi.

Criada em 1941 por Moulton Marston e H. G. Peter,Mulher-Maravilha antecedeu a situação social criada pela entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial. Quando os homens foram para o front na Europa, as mulheres assumiram trabalhos em fábricas de navios, aeronaves, veículos e armamentos, além de dirigir caminhões e máquinas pesadas. Ao transformar os paradigmas da época, a Amazona da DC Comics se tornou um dos símbolos do feminismo, da mesma forma que a campanha "We Can Do It!" (“Podemos fazer isso!"), encomendada pela Westinghouse Electric para motivar a sua nova força trabalhadora.

Apesar do impacto cultural, a heroína demorou para chegar às telas. Enquanto Superman e Batman tiveram seus filmes seriados ainda na década de 1940, a Mulher-Maravilha ganhou a sua primeira tentativa em live action em 1967, em um piloto nunca exibido estrelado por Linda Harrison. Em 1974, outra tentativa de piloto estrelada pela loira Cathy Lee Crosby mostrava uma versão bastante distante nas HQs (no visual e na história). Confiando no potencial da série, a ABC investiu em mais em um projeto no ano seguinte. Com Lynda Carter no papel, a Amazona finalmente ganhava o seu próprio espaço além das revistas em quadrinhos (tendo aparecido antes também na série animada dos Superamigos).

Após o término da série de TV com Carter, em 1979, a personagem ficaria sem uma versão em live action até a recente encarnação de Gadot. Tentativas não faltaram. Em 1996, Ivan Reitman (Os Caça-Fantasmas) foi ligado à produção e possível direção de um filme da heroína. Em 1999, foi a vez do roteirista Jon Cohen (Minority Report) trabalhar em uma adaptação, com Joel Silver (Matrix) como produtor e Sandra Bullock em mente para o papel da amazona. Entre 2001 e 2003, o mesmo roteiro passou pelas mãos de Todd Alcott, Becky Johnston, Philip Levens e Laeta Kalogridis até ser descartado. Em 2005, o trabalho foi para Joss Whedon, contratado para roteirizar e dirigir o longa. Depois de dois anos, porém, a produção permaneceu estagnada, sem sair dos primeiros estágios do roteiro, levando à saída definitiva de Whedon, que reclamou da falta de entusiasmo da Warner Bros. pelo projeto.

Em 2008, Joel Silver contratou Matthew Jennison e Brent Strickland, que já haviam vendido um roteiro sobre a Mulher-Maravilha na Segunda Guerra para o produtor, para escrever um script situado em dias atuais. O longa, porém, continuou no limbo, ao lado de planos para filmes de Flash, Aquaman e Liga da Justiça (que teria Megan Gale como a amazona). A heroína ganhou uma nova chance na TV em 2011, quando Adrianne Palicki estrelaria a série produzida por David E. Kelley, mas o projeto não passou do piloto. Foi só em setembro de 2013, quando começaram a circular os primeiros rumores de uma presença feminina em Batman Vs Superman, que a esperança de ver uma nova Mulher-Maravilha nas telas ganhou força (leia aqui). Em dezembro do mesmo ano, Gadot foi anunciada como a personagem (veja mais), superando Elodie Yung e Olga Kurylenko nos testes de elenco.

As críticas iniciais apontavam a sua falta de músculos, e até de seios, para encarnar a heroína. Tudo rebatido com elegância em Batman Vs Superman: A Origem da Justiça. A Mulher-Maravilha de Gal Gadot é menos “parruda” que muitas versões das HQs, mas não menos badass. Zack Snyder atingiu um equilíbrio entre delicadeza e força, mantendo-a feminina, sem apelar para a sua sexualização. Mesmo nos diálogos com Bruce Wayne, quando facilmente poderia ser reduzida a uma femme fatale qualquer, ela se mantém no mesmo nível do Homem-Morcego - “Não acho que você tenha conhecido uma mulher como eu".

Linda Harrison, Cathy Lee Crosby, Lynda Carter, Megan Gale e Adrianne Palicki.

Reprodução

A importância desse acerto, em meio a qualquer controvérsia que ronde BvS, é fundamental. Há anos o cinema ensaia igualdade, com avanços significativos no protagonismo de franquias infanto-juvenis como Jogos Vorazes e na discussão sobre a diferença de salários entre homens e mulheres em Hollywood. Star Wars, que já contava com a Princesa Leia (Carrie Fisher) entre os seus personagens principais, criou um novo patamar em O Despertar da Força com Rey (Daisy Ridley), uma heroína capaz de enfrentar o lado negro e os estereótipos de gênero. Assim como Furiosa (Charlize Theron), que transformou a franquia Mad Max. Os derivados dos quadrinhos, porém, permaneciam atrasados, com as personagens de X-Men subaproveitadas e a Viúva Negra (Scarlett Johansson) tendo espaço entre os Vingadores, mas não nas prateleiras das lojas de brinquedos.

As séries de TV saíram na frente, com Agent Carter, Agents of SHIELD, Jessica Jones e Supergirl mostrando diferentes possibilidades com suas protagonistas. Natasha Romanoff ganhou depois a companhia de Gamora (Zoe Saldana) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) no universo cinematográfico da Marvel, mas o primeiro filme protagonizado por uma heroína da editora, Capitã Marvel, só chegou aos cinemas em 2019. A DC, portanto, foi pioneira mais uma vez, com uma Mulher-Maravilha devidamente apresentada em Batman Vs Superman e reconhecida no seu filme solo, dirigido por Patty Jenkins (Monster: Desejo Assassino, 2003), lançado em 1º de junho de 2017- leia a crítica. Com mais de US$ 821 milhões somados mundialmente, o filme foi a décima maior arrecadação mundial de 2017 e a quarta maior bilheteria do ano nos EUA (somando US$ 412 milhões, a maior arrecadação da atual safra da DC no país). O sucesso levou a encomenda de uma continuação, repetindo a parceria entre Jenkins e Gadot em Mulher-Maravilha 1984, que estreia em junho de 2020, e passará a ser uma franquia própria, sem amarras aos outros filme da editora. 

O êxito na representação de uma heroína tão importante nas telas levou a um novo impacto cultural. A velha barreira entre meninos e meninos nas prateleiras das lojas de brinquedos aos poucos vem sendo quebrada e as princesas deixaram de reinar absolutas entre as aspirações infantis, dando espaço também para as guerreiras. A Amazona já ganhou a companhia de Ms. Marvel, Capitã Marvel, Viúva Negra, Batwoman e Batgirl, entre outras, na busca por representatividade/diversidade nos quadrinhos, mas o filme da Mulher-Maravilha transformou alguns conceitos em novos padrões. Mais do que nunca, "We Can Do It!".

 

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