Cena de O Espetacular Homem-Aranha

Créditos da imagem: Sony Pictures Entertainment/Divulgação

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O Espetacular Homem-Aranha faz 10 anos: O que deu certo e o que deu errado

Reboot estrelado por Andrew Garfield e Emma Stone trouxe boas ideias em execução mista

Omelete
1 min de leitura
03.07.2022, às 16H15.

Nascido do abandono da Sony a Homem-Aranha 4, dirigido por Sam Raimi, O Espetacular Homem-Aranha (2012) ofereceu ao mundo um reboot sustentado em muitas marcas bastante particulares aos anos 2010. Dirigido por Marc Webb, então uma sensação em Hollywood depois do sucesso de 500 Dias Com Ela (2009), o filme bebia muito da modernização do mito do Teioso proposta pelos quadrihnos Ultimate da Marvel e a misturava com skate, Coldplay, angústia adolescente e a promessa de um mistério inovador.

O resultado foi misto: houve sucesso na bilheteria, o que garantiu uma sequência só dois anos depois, e os astros Andrew Garfield e Emma Stone se tornaram um dos casais mais amados pelos jovens, à época; dentro e fora das telonas. Mas havia, já nesse primeiro filme, um forte ar de cansaço por parte do público com a repetição de uma história de origem. Além disso, o que seria o grande diferencial dessa nova saga — um mergulho no passado de Peter Parker e na relação que ele teve com seus pais — passou longe de interessar o público.

10 anos depois do lançamento do filme, listamos abaixo quatro coisas que funcionaram e quatro coisas que não deram tão certo assim em O Espetacular Homem-Aranha. Relebre com o Omelete:

Deu certo: O Homem-Aranha

Ágil, longilíneo, falastrão e super-expressivo fisicamente, o Teioso interpretado por Garfield era como o filho materializado dos mais dinâmicos painéis do personagem, nos quadrinhos, e suas melhores aparições nos desenhos animados. Com um domínio de cena muito mais seguro do que tinha o estóico Aranha de Tobey Maguire, ou que teria o estabanado personagem na interpretação de Tom Holland, esse era de longe o maior chamariz dessa nova versão do personagem; e seu maior trunfo.

Deu errado: Peter Parker

Por outro lado, a identidade secreta do herói sofreu na interpretação de Garfield, mas não por causa do ator; querendo se distanciar da visão mais tradicionalista que Raimi deu ao personagem em sua trilogia (fortemente inspirada na Era de Ouro de Stan Lee e Steve Ditko), os roteiristas James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves criaram um Parker isolado mais por sua depressão do que por sua falta de desenvoltura social; o que, de certa forma, permitia uma abordagem humanisticamente interessante, mas que foi muito mal conduzida pelo diretor Marc Webb. O resultado foi um Peter cool e descolado demais para criar uma dualidade envolvente com o Escalador de Paredes.

Deu certo: O romance com Gwen Stacy

Onde o Peter sem graça de Garfield encontrou algum carisma foi na química inegável que o ator americano (radicado no Reino Unido) encontrou com sua colega de cena, Stone. A conexão foi tamanha que, a exemplo de todos os três Peter Parkers e seus interesses amorosos nas telonas, até hoje, o casal transcendeu as telas e foi por alguns anos um dos mais badalados de Hollywood. Não à toa: sob as lentes calorosas de Webb, craque em retratar romance com leveza, ambos conseguiram construir uma apaixonante, ainda que trágica, relação de cumplicidade e confiança.

Deu errado: A tal da “história não contada”

Em mais uma escolha mal desenvolvida pelo trio Vanderbilt, Sargent e Kloves, O Espetacular Homem-Aranha decidiu investir em descobertas sobre o passado dos pais mortos de Parker, pulverizando a emoção da jornada “gente como a gente” que fez com que o personagem se tornasse um ícone tão amado. Adaptando uma linha narrativa dos quadrinhos onde o jovem descobre que seu pai e sua mãe eram agentes do governo americano, o filme sugeria que a transformação do garoto do Queens em um herói foi um plano arquitetado muitos anos antes de acontecer. Péssimo!

Deu certo: A ação

Se o grande mistério que deveria mover adiante o roteiro do filme não era lá essas coisas, ao menos o espetáculo tinha de dar conta, e deu! Apesar de um orçamento mais modesto que anteriormente disposto a Raimi e sua trilogia (o que era visível), o reboot conseguiu criar boas soluções visuais para embates deste Aranha mais ágil e veloz. A luta com Lagarto na biblioteca, com uma das melhores participações de Stan Lee em um filme em todos os tempos, é o melhor dos exemplos dessa inventividade.

Deu errado: O próprio Lagarto

É uma pena que esse esmero visual tenha se estendido ao design tosco e altamente genérico dado ao vilão (Rhys Ifans) em si. Um tipo de Voldemort escamoso e bombadão, ele ficou perto demais dos Koopas de Super Mario Bros. (1993) para ser levado a sério como uma ameaça amedrontadora para o Aranha. Pior ainda foi seu desenvolvimento na história: capenga do início ao fim, ele fazia com que imediatamente se pensasse na atuação infinitamente mais humana e envolvente que entregou Dylan Baker em meras pontas nos filmes de Raimi.

Deu certo: A relação com Nova York

Personagem quase tão importante para o mito do Teioso quando o próprio Peter Parker, a cidade de Nova York cumpre muito bem seu papel em O Espetacular Homem-Aranha. Seja quando o herói opta por entregar sua máscara a um menininho que quer salvar, para dar a ele coragem para lutar, ou na famigerada cena das gruas que o permitem chegar até o prédio da Oscorp (brega e potencialmente tosca, mas bem motivada e muito típica de Histórias em Quadrinhos), temos a sensação de uma cidade viva que gradativamente abraça seu mais improvável defensor.

Deu errado: A falta de responsabilidade

No final das contas, entretanto, o que faz um grande filme do Homem-Aranha é o entendimento que a jornada desse herói em particular reza sobre os dilemas trazidos pela responsabilidade. Mais do que ter de ter a tal frase dos “grandes poderes” (o que O Espetacular Homem-Aranha não tem, pelo menos literalmente), é essencial fazer o herói lidar com o peso de suas escolhas; algo que não rola em um filme onde a dura promessa que ele precisa fazer para crescer é quebrada na cena seguinte àquela em que foi feita. Erro feio e rude que derruba demais o nível da produção.

Posto tudo isso, é inegável que os 10 anos que se passaram, desde o lançamento do filme, não o fizeram deixar de ser um dos piores do Homem-Aranha até hoje. Ainda assim, é inegável que ele guarda motivos de sobra para fazer valer seu lugar na maratona de qualquer fã do personagem — e isso se tornou ainda mais real graças ao fechamento emocional sensível e emocionante que o Parker de Garfield pôde ter em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021).

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