Mais séria do que parece, Pro Bono faz análise envolvente de ambições
K-drama com Jung Kyung-ho está interessado nas origens de seus escaladores sociais
Créditos da imagem: Jung Kyung-ho em Pro Bono (Reprodução)
Pro Bono marca a segunda vez neste ano em que o ator sul-coreano Jung Kyung-ho interpreta um advogado. Em maio, ele estrelou Meus Clientes Fantasmas, k-drama sobre um profissional do direito que passa a ver assombrações quando se especializa em defender vítimas de acidentes de trabalho. Tanto lá quanto aqui, os personagens de Jung (nome forte da TV sul-coreana desde Manual do Presidiário, de 2017) são apresentados, de certa forma, como vigaristas que se só se importam com o próprio sucesso. Tanto lá como aqui, as séries pedem que torçamos por eles mesmo assim, especialmente quando ambos são confrontados com uma fatalidade que os atira de volta à base da pirâmide de poder da advocacia.
O carisma de Jung é, obviamente, chave para que esse tipo de narrativa funcione. Em Pro Bono, ele é Kang Da-wit, um jovem e admirado juiz que faz de tudo para cavar um lugar para si na Suprema Corte – seja puxando o saco de superiores, cultivando uma base de seguidores sadia nas redes sociais, encontrando sempre a sentença mais popular para cada caso, ou fingindo simpatia com os funcionários que podem indicá-lo para a posição. Não que ele faça algo de flagrantemente ilegal, ou mesmo fundamentalmente desagradável, mas há um lado feio na ambição de Da-wit, que aparece por exemplo quando ele interage com uma advogada humilde (So Joo-yeon) que não tem nada para oferecer em prol de sua ascensão.
Jung, fundamentalmente, não foge dessa feiúra – mas busca transformá-la em comédia. O ator encontra, primeiro, uma fisicalidade que desconstrói o ideal de galã de k-drama, ou ao menos expõe a dificuldade de sustentá-la em um contexto real. Nas mãos dele, Da-wit ziguezagueia pelo mundo com um dinamismo inegável, uma dissimulação desavergonhada que muitas vezes voa na cara da própria fachada de humildade que ele tenta vender. A comédia nasce de observar como ele consegue enganar (quase) todo mundo com uma encenação tão transparente, especialmente numa cultura que valoriza tanto a discrição e, de certa forma, a modéstia.
Outro talento importante para Pro Bono é o diretor Kim Seung-yoon (Itaewon Class), que estabelece para a série um estilo mais sóbrio e observador do que o esperado. Embora a comédia (de Jung e do texto) tenha seu espaço, o diretor Kim se certifica de manter o nosso olho também nas jogadas dramáticas que importam. Quando conhecemos o passado de Da-wit, em flashbacks incluídos já no primeiro episódio para explicar e suavizar os seus empreendimentos carreiristas, Kim pinta essas cenas de cores escuras, sem se render à nostalgia. E, quando o protagonista finalmente enfrenta a sua queda de prestígio, Pro Bono se transforma em um thriller político genuinamente tenso.
Os detalhes dessa intriga ficam para quem escolher apertar o play na série, claro, mas o fato é que Pro Bono não se contenta com a comédia de observação, ou com a historinha de peixe fora d’água. Ela é também um drama arguto de escalada social, um suspense cheio de segredos para revelar, e uma imersão nos corredores de poder, onde cada diálogo é uma troca de vantagens e desvantagens. Que ele consiga fazer tudo isso ao mesmo tempo é um testamento aos trabalhos musculares que sua equipe faz atrás e na frente das câmeras.
*Pro Bono já está disponível para streaming na Netflix, com novos capítulos lançados semanalmente, aos sábados e domingos. A série terá 12 episódios ao todo, e segue em exibição até 11 de janeiro.
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