Minha Namorada é o Cara tira sarro dos pudores mais bobos dos k-dramas
K-drama do Viki se diverte exatamente o quanto deveria com sua premissa absurda
Créditos da imagem: Imagem promocional de Minha Namorada é o Cara (Reprodução)
Park Yoon-jae (Yoon San-ha) e Kim Ji-eun (Arin) se beijam bastante no primeiro episódio de Minha Namorada é o Cara. É uma inversão de expectativas e tanto para quem conhece o formato clássico dos k-dramas românticos, nos quais os casais principais começam como desconhecidos, se tornam inimigos e, só lá pela entrada do terceiro ato, resolvem dar as mãos enquanto andam na rua - beijo, mesmo, só acontece no último episódio (se você tiver sorte!). É claro que a diferença entre esses k-dramas e a nova produção original do Rakuten Viki é, antes de qualquer outra coisa, morfológica: a trama, assinada por Lee Hae-na a partir de um webtoon sul-coreano absurdamente popular, não é sobre como Park e Kim se apaixonam. Quando a história começa, eles já estão loucos de amor.
De fato, os dois parecem um casal perfeito no primeiro capítulo de Minha Namorada é o Cara. Park é um namorado dedicado e carinhoso, que constantemente surpreende a ambiciosa e fofa Kim com flores, presentes e cuidados. Todos ao redor do casal imaginam que eles estão se encaminhando para o casamento, e nenhum deles se espanta quando veem os dois trocando carícias no meio da calçada, ou planejando uma viagem de pernoite juntos - a irmã perenemente solteira de Kim (Choi Yoon-ra) vive os convidando para se pegarem dentro de casa, onde está mais quentinho; e a amiga escritora do casal (Park Ju-won) surpreende Kim com um presente providencial antes da viagem: uma camisinha.
São dois exemplos da atitude debochada que Minha Namorada é o Cara assume diante dos pudores do gênero em que se encontra, e da sociedade que retrata. Nomes conhecidos do k-pop com suas carreiras no ASTRO e no Oh My Girl, respectivamente, San-ha e Arin acertam o tom da interação carinhosa entre os personagens, e também da comédia pueril que o roteiro acha em cada um de seus hábitos - mas acertam, especialmente, ao expressar sem exageros o constrangimento que eles encontram ao se mover por um mundo que não mais subscreve à polidez rigorosa de fingir que este casal não está transando. A brincadeira é deliciosa e sustenta muito do primeiro episódio da série… mas aí vem a reviravolta.
Minha Namorada é o Cara, afinal, é sobre o que acontece quando Kim Ji-eun acorda um belo dia com um corpo masculino - e, especialmente, como isso afeta sua relação com Park. Sai de cena Arin (com a exceção de flashbacks e visões do protagonista), entra Yoo Jung-ho, um jovem ator que há alguns anos tem enfileirado papéis coadjuvantes em k-dramas de sucesso como O Preço do Silêncio e Senhora Durian. Esta talvez seja, então, a melhor chance que Yoo vai ter para sair do time-B dos k-dramas, e ele sem dúvida se aproveita disso. Do momento em que aparece na tela adiante, o ator domina Minha Namorada é o Cara com uma abordagem delicada, mas também desavergonhadamente cômica, do chavão da mulher presa no corpo masculino.
Ele dá o tom para essa segunda fase da série, que ainda deita e rola nas possibilidades que se abrem com sua aproximação perpendicular do boys love (gênero de mídia asiática focado em relações homoafetivas). Por ser, no fim das contas, uma história de amor entre duas figuras com fisicalidade masculina, Minha Namorada é o Cara cruza caracteres de masculinidade e feminilidade, comédia e romance, sem muita cerimônia - mas muita consciência. Uma das cenas do terceiro ato, em que Park ensina Kim a se barbear, começa zoando o absurdo da situação e termina ressignificando os indicadores do k-drama romântico com sua câmera lenta, música sonhadora e toques carregados entre os personagens. É uma brincadeira que mantém muito bem, nesse segundo momento, o pique do começo do episódio.
Com abordagem surpreendente, humor bem calibrado e elenco entrosado, Minha Namorada é o Cara mostra ter impulso criativo de sobra. Se esse ritmo vai se resistir bem por 12 episódios, é outra história.
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