Durante a Summer Game Fest 2025, joguei Digimon Story: Time Stranger, e o jogo me surpreendeu positivamente. Confesso que não esperava tanto, e talvez justamente por isso, a experiência bateu mais forte. Mesmo com uma demo curta, ficou claro que esse é o projeto mais ambicioso da franquia Digimon até hoje. E, mais do que isso, parece ser o jogo que prova que a fórmula de RPG de monstros ainda tem muito espaço para evoluir, e eu adoraria ver Pokémon seguindo a mesma linha.
O que é Digimon Story: Time Stranger?
Desenvolvido pela Media.Vision e publicado pela Bandai Namco, Time Stranger é um RPG com lançamento marcado para 3 de outubro de 2025, disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC (Windows). O título marca a estreia da série nos consoles Xbox e traz, pela primeira vez, dublagem oficial em inglês.
Na história, você assume o papel de um agente da organização secreta ADAMAS, que após um incidente misterioso em Shinjuku, viaja no tempo para oito anos antes de uma explosão catastrófica. A missão: entender o que causou o colapso do mundo, transitando entre o mundo real e o Mundo Digital, chamado Iliad. É uma premissa ambiciosa, com foco narrativo forte, viagens temporais e múltiplas linhas de realidade. E sim, tem Digimon pra caramba.
Uma cidade viva como o gênero raramente mostra
A primeira coisa que me saltou aos olhos é como o mundo de Time Stranger é vivo. Pela primeira vez em um jogo da franquia, me senti realmente imerso em uma cidade habitada por Digimon. Eles não estão só parados esperando para batalhar: estão dormindo, conversando, trabalhando, reagindo ao ambiente. É uma sociedade funcionando dentro do jogo. Isso por si só já traz uma diferença gigantesca pra quem cresceu com o anime ou jogou outros jogos da série.
O mais curioso é que, diferente de Pokémon, esses Digimon falam. Você pode conversar com eles como se fossem NPCs importantes de um JRPG, e muitas vezes, são mesmo. Isso cria uma dinâmica que te instiga a explorar cada cantinho, não só por loot ou combate, mas pra ver o que aquele Digimon tem a dizer, qual é a dele, o que ele está fazendo ali. É um tipo de interação que transforma o mapa em algo muito mais do que um “cenário com encontros aleatórios”.
Visualmente, a cidade também se destaca. Tem variedade de regiões, clima de metrópole digital com áreas coloridas, outras mais sóbrias, e até pontos de interesse narrativo que parecem conectados ao enredo maior. Mas o diferencial mesmo é que tudo isso faz sentido como um ecossistema vivo, e não apenas como um conjunto de mapas isolados. Parece que cada região abriga Digimons que pertencem àquele contexto, e isso muda completamente a forma como você enxerga o mundo.
Poucos jogos desse gênero (monster tamer) se preocupam tanto com dar vida ao ambiente entre as batalhas. Em Time Stranger, a cidade é mais do que cenário: é parte ativa da experiência. Você não tá só indo do ponto A ao B pra grindar, você tá imerso em um mundo digital que quer ser explorado com calma, curiosidade e respeito. E isso, pra um fã de Digimon ou de RPGs em geral, é um baita presente.
Combate com múltiplas camadas, e respeito ao seu tempo
Se você já cansou da estrutura simples de vantagem e desvantagem elemental, aqui vai se encontrar. O sistema de combate em Time Stranger vai além: cada Digimon tem duas variáveis estratégicas principais, sua natureza fixa (como Vírus, Vacina ou Dados) e os elementos dos ataques. A combinação entre elas define multiplicadores, resistências e fraquezas que tornam cada confronto um quebra-cabeça diferente. Não é só "usar água contra fogo". É pensar como numa partida de xadrez elemental com dois tabuleiros sobrepostos.
E o melhor: não se perde turno para trocar Digimon nem usar itens. Sim, o jogo te permite manter o ritmo das batalhas mesmo quando você precisa se adaptar. Isso torna tudo mais fluido, menos punitivo, e transforma até chefes mais difíceis em lutas que exigem raciocínio, e não só repetição.
As batalhas também contam com eventos dinâmicos: um aliado pode chegar no meio do confronto, ou um diálogo importante pode acontecer ali mesmo. Isso quebra a rigidez que costumamos ver em RPGs por turno e ajuda a contar uma história viva, sem pausas.
Evolução com liberdade, e sem punição
A árvore de digievoluções é outro destaque. Você pode seguir vários caminhos diferentes, com a liberdade de experimentar, e se não gostar, é possível reverter a digievolução e tentar outra (mas seus recursos gastos não voltam). Não tem punição permanente, o que incentiva o jogador a explorar e conhecer melhor cada criatura. E com mais de 450 Digimon disponíveis, essa liberdade vira um convite para mergulhar fundo.
Além disso, o jogo oferece fusão entre Digimon, sistemas de evolução baseados em coleta de recursos e progresso por level, e formas de conseguir novos Digimon vencendo-os várias vezes, nada de capturar com um item e pronto. Tem grind, sim, mas ele serve a múltiplos propósitos: recrutar, evoluir, transformar e fortalecer, o que dá significado e propósito a combate.
Chefes em Digimon Story trazem vida à narrativa
Um dos momentos que mais me marcou foi uma batalha contra chefe. Não pelo desafio técnico em si, mas pela forma como o jogo integrou narrativa, estratégia e surpresa num único combate. E aqui foi onde ficou nítido pra mim que Pokémon poderia tomar umas notas.
O primeiro impacto veio da estrutura da batalha em si: logo de cara, percebi que o chefe era absurdamente resistente. Aquela luta não era feita pra terminar rápido. Ela exigia atenção, leitura de padrões, adaptação constante, e claro, o que eu citei anteriormente: você pode trocar Digimon e usar itens sem perder seu turno. Isso é uma melhoria de qualdiade de vida muito bem-vinda, que contibui para um bom ritmo da batalha (adoraria ver isso em Pokémon!). Em vez de ficar preso a decisões punitivas, você tem espaço pra pensar, ajustar e tentar estratégias novas sem ser castigado por isso.
Mas foi no meio do combate que tudo mudou. Sem aviso, um Digimon aliado apareceu no campo de batalha, reagindo à confusão e entrando espontaneamente na luta, com diálogos e cutscenes. Esse Digimon era parte do contexto daquela região, um tipo de guardião local, e sua entrada não foi só uma ajuda mecânica, foi um evento narrativo dentro da própria batalha. Ele falou, interagiu com os personagens e mudou o rumo do confronto. De repente, aquela luta que já era intensa ganhou uma nova camada emocional.
Em vez de separar combate e história como blocos distintos, Time Stranger misturou os dois com naturalidade. A batalha contra o chefe não foi só um desafio, foi um ponto de virada na narrativa, como se eu estivesse jogando uma cutscene interativa onde cada decisão minha impactava o desfecho daquela cena.
Ainda assim, tudo é feito de forma intuitiva. Você entende rapidamente o que está acontecendo, mesmo com tantas variáveis no campo, elemento, natureza, posição, suporte passivo, entrada de aliados, eventos durante o turno. É muita coisa, mas o jogo te guia de forma orgânica.
Digimon Story: Time Stranger pode ser a evolução que eu esperava ver em Pokémon em muitos aspectos. Ele acerta na ambientação, oferece um combate profundo mas acessível, cria um mundo onde os Digimon são mais do que ferramentas de batalha, e tem uma narrativa com potencial para prender até quem nunca se interessou por esse universo.
Se a versão final entregar o que essa demo já mostrou, esse jogo tem tudo pra ser um dos jogos mais interessantes da série Digimon.
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