TGA 2025 | Expedition 33 é o GOTY mais óbvio (e justo) dos últimos anos
Jogo da Sandfall já nasceu grande, antes mesmo de financiamentos e escalações hollywoodianas
Com nove troféus, Clair Obscur: Expedition 33 se tornou o game mais premiado na história do The Game Awards, e é extremamente fácil dizer que todos os prêmios foram merecidos. A concorrência passava longe de ser fraca, com outros títulos independentes ameaçando o trono, mas sempre pareceu muito óbvio que o jogo era destinado à grandeza e ao reconhecimento. Mas como ele conquistou essa “aura” desde o seu lançamento?
Talvez ela se preste mais a títulos que se propõem desde a primeira cutscene a serem uma experiência épica, com uma estética mais agressiva e fotorrealista — não à toa, o GOTY mais criticado dos últimos anos foi um platformer de robôzinho. Hades 2 e Silksong são ambos belíssimos, mas é mais difícil encará-los, em um primeiro momento, como ambiciosos. Claro, os dois têm esse aspecto de sobra, mas de maneiras menos óbvias.
Dito isso, não são só os visuais que constroem um dos melhores jogos da última década. Expedition 33 entrega uma narrativa profunda, com personagens escritos meticulosamente para conquistar qualquer jogador e momentos dignos de desabar em choro. Uma trilha sonora magistral, que já convenceu absolutamente todos os espectadores nos minutos iniciais do TGA 2025, apenas endossa essa atmosfera.
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O game não é perfeito: seu design de fases tem alguns problemas e é fácil ficar perdido; e os controles nem sempre são dos melhores, especialmente na movimentação. Mas nada disso passa perto de ofuscar uma ideia totalmente nova e original — o que talvez seja outro ponto que endossa a particularidade do título. Algo inédito, que já é tão incrível logo de cara, inevitavelmente vai ter um impacto maior do que sequências de jogos já excelentes, mas que são nichados por natureza.
Claro, a tendência do público de preferir franquias consolidadas (ainda que boa parte sempre clame por algo diferente) era um fator a ser superado, mas Clair Obscur é familiar o suficiente para que isso não o afete. Death Stranding, em seu segundo jogo, ainda é esquisito demais para o grande público; Kingdom Come é um RPG extremamente denso; Hades e Hollow Knight são jogos difíceis em sua essência; Bananza é genial tecnicamente, mas não tem impacto tão grande em outros campos.
Enquanto isso, o jogo da Sandfall renova um gênero que já foi experimentado por quase todas as pessoas que já jogaram alguns games na vida. Ainda que RPGs de turno pareçam algo exclusivo de títulos mais complexos, nunca é demais relembrar que Pokémon é uma das maiores franquias do entretenimento, alimentada até hoje por esse gênero. A inspiração em Paris e seus cenários mundialmente conhecidos também ajuda a construir um ambiente mais confortável, consolidado pela história linear e com estrutura bem definida.
Em meio a tantos louros, a polêmica do que é um jogo indie ou não acaba se perdendo: depois de cada depoimento emocionado que foi dado pela equipe de desenvolvimento, é difícil sequer pensar nisso. Mais de um relato falou sobre o início humilde da Sandfall, em que Expedition era apenas um sonho maluco; Guillaume Broche, diretor que também é creditado em quase todas as áreas do game, agradeceu a YouTubers que fazem tutoriais de como criar jogos. A Sandfall é um estúdio independente que deu a sorte de encontrar um financiamento do tamanho de suas ideias — e a sorte não é nada mais do que o breve momento em que a oportunidade se encontra com o preparo.
Clair Obscur: Expedition 33 nasceu grande, mesmo antes de sua equipe crescer e de escalar Charlie Cox ou Andy Serkis. Um sucesso desse tamanho não vem para um jogo que se encontrou num mar de dinheiro e podia fazer o que quisesse com ele. É justamente o contrário: a Sandfall sabia exatamente o que queria, e encontrou uma forma de tirar suas ideias do papel.
Para quem realmente gosta de videogames, é animador encontrar histórias como essa, e impossível não torcer para ouvir várias outras no futuro. Como é dito ao longo do jogo, que esse prêmio também seja para aqueles que virão depois.
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