Tron: Ares | Criando cenários reais, Volume e o dia que andei em um Lightcycle
Na parte final da nossa série sobre a visita ao set do filme, vimos gravações e cenários impressionantes
[Terceira e parte final da série de artigos sobre a visita ao set de Tron: Ares]
Depois de vermos todas as artes e muito papo, finalmente chegou a hora de conhecermos os sets construídos para Tron: Ares. E não foram poucos. Além de filmar por cerca de 30 dias pelas ruas de Vancouver, algo que ocupa bastante tempo do filme, a produção no Mammoth Studios também criou muitos cenários práticos, incluindo as salas da infinity, a Grade controlada pela Dillinger Corporation, operada pelo neto de Edward Dillinger, Julian (Evan Peters).
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Entre uma grande área toda coberta com telas azuis, que mais tarde veríamos uma cena de ação ser gravada, e uma outra toda coberta por telas de LED, ali num cantinho escuro estava um dos cenários que qualquer fã de Tron reconheceria: o escritório de Kevin Flynn (Jeff Bridges), em Tron: O Legado, que fica embaixo do arcade com seu nome. Perfeitamente reconstruído, todos os detalhes estavam lá, inclusive o canhão laser que leva Kevin e Sam (Garrett Hedlund) para a grade.
Em seguida, fomos para alguns dos maiores sets construídos para a produção: a sala de comando da Grade da Dillinger e a Sala de Regeneração, onde Ares (Jared Leto) é reconstruído toda vez que volta do mundo real. As paredes vermelhas pareciam de um carro esportivo de luxo, com as luzes desenhando linhas diagonais por todo o cenário. Na Sala de Regeneração, vimos a cama onde Ares acorda e uma grande janela que dava para um fundo azul. O espaço seria, na pós-produção, substituído pela visão da Grade e uma enorme face digital de Julian Dillinger, com o qual ele se comunica com Ares - uma referência clara ao primeiro Tron. Na sala de controle, vários detritos estavam no chão e Darren Gilford, o Designer de Produção de Tron: O Legado e Ares, nos contou que uma cena havia sido filmada ali nos dias anteriores, com a janela principal tendo sido explodida - momento que já foi divulgado nos trailers.
Dali ainda passamos pelo escritório de Julian Dillinger, uma sala escura, com móveis e paredes pretas e cinzas, em um estilo bem industrial, como todo o design da Dillinger Corporation. A grande mesa do cômodo remete diretamente ao escritório do avô, Edward, que inclusive estava em um quadro na parede. Dava para ver que a Disney não poupou despesas na criação de tudo ali.
O set seguinte era um andar completo da Encom, lotado de fliperamas e máquinas de pinball, entre eles Tron e Space Paranoids. Vale dizer que os crachás que nos deram para identificação eram credenciais da Paranoid Con, evento que acontece durante o início do filme e iluminou o BC Place Stadium, casa dos times de futebol e futebol americano de Vancouver e palco da Copa do Mundo 2026. O objeto - felizmente - virou um souvenir que pudemos trazer para casa. O escritório da Encom foi o cenário que vimos mais cedo, todo coberto por telas de LED, que servem como janelas e a visão do lado de fora do local. Localizado no 64º andar de uma torre, o escritório tem outra referência para os fãs de Tron: o escritório de Kevin Flynn no filme de 1982, totalmente preservado e dentro de uma redoma, como se os personagens esperassem sua volta e o venerassem como um altar. O LED mostraria a paisagem de Vancouver do alto, podendo modular qualquer horário do dia e sem a necessidade de inserção digital.
Pela primeira vez em um set com Volume para Tron: Ares
A produção de Tron: Ares era tão grande que tivemos que pegar uma van para um outro prédio do complexo de estúdios. Foram cerca de cinco minutos até o outro lado e ali as filmagens estavam de fato acontecendo. Pela primeira vez pude ver de perto como funciona o cenário com extensão em LED chamado de Volume, que se popularizou em produções como The Mandalorian.
Em um espaço enorme, as grandes telas curvas mostravam um cenário gelado e com montanhas cobertas por neve. No meio do cenário estava o que parecia uma estação de pesquisa no alto de uma dessas montanhas. Realmente impressionava como, do ponto de vista de onde a câmera estava, a projeção se misturava com o cenário real. Ainda mais interessante era a mudança na luz do dia ou no clima - mais nuvens ou menos, foi o que vimos, mas também era possível deixar mais ensolarado ou não.
Perto de uma mesa com monitores, encontramos Greta Lee, a protagonista do filme ao lado de Jared Leto, e Arturo Castro, seu braço direito na história. Os dois estavam vestidos com roupas de neve e prontos para “encarar” o frio do cenário. Com eles, o diretor Joachim Rønning nos explicou a diferença maior para a produção usando Volume ou tela azul: a pré-produção. Com a nova tecnologia, tudo precisa ser preparado e pensado antes da filmagem, dando quase nenhum espaço para mudanças, já que isso afetaria diretamente o que está sendo exibido nas telas. Com o fundo azul ou verde é mais “fácil”, já que qualquer mudança pode ser consertada na pós-produção quando o cenário digital é inserido.
Joachim Rønning aproveitou o tempo para nos mostrar diversas cenas que já haviam sido filmadas e um gigantesco spoiler do final do filme que deixou todos os jornalistas surpresos. “Ops… ainda bem que vocês assinaram um acordo de confidencialidade”, brincou o diretor. Entre cenas com Leto e Jodie Turner-Smith, como Ares e Athena, Rønning mostrou que filmou muitas das cenas com motion control e comentou o motivo pelo qual escolheu a técnica. “Vocês viram alguns desses sets aqui. Então vocês entendem... E isso é filmado com motion control. Eu tentei filmar muitas coisas com motion control porque eu gosto da ideia de um robô filmando uma IA, sabe, como conceito. Então, este é um braço robótico fazendo o trabalho”, contou.
Antes de voltar para as filmagens, o diretor ainda falou sobre o que seria uma das coisas mais interessantes que ainda veríamos: os veículos de Tron: Ares. Entre cenas de Leto no Lightcycle e outras dos Light-Skimmers - jet-skis flutuantes - ele contou um pouco do processo de filmar veículos tão rápidos. “Estou tentando tratar esses veículos colocando os suportes de câmera neles. Estamos filmando de um jeito que você sente a trepidação, a realidade da coisa”, contou o diretor. “Quero dizer, eles estão... no filme, eles vão atingir 150, 160 milhas por hora - cerca de 240-257 km/h - e lançar paredes de luz pelo centro de uma grande cidade. Mas ainda assim é legal que eles [Lightcycles] não possam subir escadas, por exemplo. Então, quando estão perseguindo a Eve, ela está em uma motocicleta Ducati DesertX e ela consegue subir degraus na cidade e atravessar obstáculos. Essas motos não conseguem. Então, nós nos demos um pouco de regras para seguir, e tem sido divertido.”
E não é que andei em um Lightcycle de Tron: Ares?
As portas do estúdio se fecharam, acompanhamos um pouco da filmagem, vimos dublês testando um Light-Skimmer, preso em uma engrenagem como um grande touro mecânico e, claro, era hora de falar sobre as queridinhas dos fãs de Tron: as motos. Ainda passamos pelo setor de figurinos e props, vimos os discos que os programas usam nas costas e o “disco triângulo” de Ares, ganhamos moedas do arcade de Flynn para guardar de lembrança e descemos várias escadas até chegar numa sala escondida onde estava o novo Lightcycle. Era realmente impressionante.
“Nós construímos isso do zero. Se não me engano, as únicas peças que compramos prontas são as porcas e os parafusos. Todo o resto é feito à mão. Fabricação personalizada, cada peça”, contou Darren Gilford. “Então, até mesmo todas essas lentes, todas as lentes iluminadas, todas são impressas em 3D. E então, toda a iluminação individual... Eu estava falando sobre toda a iluminação antes, como costumávamos ter que colar cada um desses LEDs. E agora eles estão todos embutidos no plástico e toda a fiação e a textura, tudo está incluído.”
Com mais pontas e formatos brutos do que os Lightcycles de Tron: O Legado, as novas motos são uma criação direta do mundo militar e violento da Dillinger Corporation. Uma equipe de cerca de quatro pessoas contribuiu para a modelagem da moto e imprimir as peças projetadas pelo departamento de arte. O veículo tem dois modos. O que vimos é o chamado “modo alto”, quando o veículo está parado ou o condutor está apenas sentado nele. Atrás fica o “capacete”, que vira o segundo modo, quando a moto se move. “É realmente sobre como a figura humana se mistura com a máquina e meio que se entrelaça nela quando está totalmente acionada. Então, quando vocês virem a posição baixa, toda esta peça se torna quase como uma carenagem de mochila que envolve o corpo e o condutor fica bem "sugado" para dentro da light cycle”, contou Gilford.
Ao contrário dos filmes anteriores, ao levar a moto para o mundo real, as paredes de luz que saem como uma cauda não são apenas retas, mas também se inclinam, produzindo possíveis rampas. Para filmar nas ruas, foram construídas “motos-proxy” utilizando Harley Davidsons com luzes acopladas. “Esta [o Lightcycle real], na rua, será conduzida atrás de um caminhão, e então a suspendemos pela parte de trás, de modo que fique bem baixa no chão. Podemos obter toda a filmagem como se eles estivessem pilotando. E então as motos proxy podem andar bem ao lado dela naquele ponto, porque ela é bem estreita. E assim você consegue toda aquela interação entre as pessoas que estão ali no nível da rua e consegue aquela velocidade no ambiente real”, disse o designer.
“As motos proxy podem ir como uma moto de rua de verdade. Elas podem chegar a 180, 200, 210 quilômetros por hora se precisarem. São motos de performance total. Fizemos alguns testes, alguns testes de filmagem com aquelas motos e ficou ótimo. E aquelas motos têm os mesmos proxies de iluminação. Então, quando elas estão na estrada, toda a luz que está refletindo em ruas molhadas e coisas assim vai combinar com esta. Então, temos aros iluminados e a grande faixa vertical.”
Claro, a visita não poderia terminar sem um pedido para subirmos na moto, que logo foi atendido. O momento, bom, você pode conferir abaixo!
Tron: Ares já está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil e os filmes anteriores estão disponíveis para streaming no Disney+.
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