Superman 2025

Créditos da imagem: Warner Bros./Giovanna Motta (Omelete)

Filmes

Entrevista

Um Dia com Superman

Direto de Cleveland (EUA), entrevistamos David Corenswet, o novo Superman dos cinemas

Omelete
8 min de leitura
25.06.2025, às 10H00.
Atualizada em 25.06.2025, ÀS 16H41

David Corenswet havia saído da sala há, mais ou menos, 20 minutos. Era nosso último compromisso no dia 2 de julho, quando passamos algumas horas no set de Superman, em Cleveland, Ohio. Depois de assistir a algumas cenas da batalha contra o Kaiju (incluindo uma explosão), andar pelas ruas que eu já tinha visto em tantas fotos vazadas nas redes sociais, e entrevistar o diretor James Gunn e outras figuras-chave do filme, restava apenas falar com o homem que interpretará Clark Kent no reboot do herói nos cinemas.

Mas Corenswet, como você pode imaginar, não tinha muito tempo livre. Quando entramos no camarim improvisado, ele estava respirando entre takes depois de gravar essa cena, na qual ele protege uma garotinha da explosão supramencionada. Depois de apertar sua mão, fiz a primeira pergunta da mesa-redonda e ele respondeu de forma extensa. Então, antes que um dos outros jornalistas que visitava o set naquele dia tivesse chance de conversar com ele, uma assessora interrompeu tudo. O Superman precisava voltar para o set. 

Antes de sair, Corenswet nos garantiu: “Vamos achar o tempo. Não se preocupem.” Se há um personagem no mundo que pode fazer tal promessa, é este. Dito e feito. Depois do hiato, ele retornou e imediatamente me perguntou se ele havia terminado de me responder. Ficamos esses 20 minutos na tensão de saber se nossa conversa com o astro do filme continuaria e eu, em pensamento, celebrei por ter garantido minha pergunta  – se era mais fácil, ou mais difícil, interpretar um personagem que já passou pela mão de tantos atores.

Ótima pergunta. Acho que não vi todas as versões. Admito isso de cara. Não vi todas as iterações. Provavelmente já vi pedaços de cada iteração do Superman na tela, mas não assisti a cada minuto. Eu diria que isso facilita, não porque há tantas referências, mas porque é muito mais como continuar uma tradição e carregar uma tocha por um breve período, tentando contribuir com algo para a longa história de um grande personagem, em vez de sentir que é preciso defini-la ou estabelecê-la pela primeira vez,” explicou o ator, que estava maquiado com poeira e sujeira no rosto e no uniforme. “Dessa forma, parece que vou fazer uma peça, que é a maior parte do que eu fiz na minha vida. No teatro, quando você faz uma peça que já foi encenada dezenas de vezes antes e um personagem que já foi interpretado dezenas de vezes antes, você só espera dar a ela mais uma vida. Levar para outra geração, para outro teatro ou qualquer outro lugar, levar para outro grupo durante o período em que você a tem e depois passá-la para a próxima pessoa.”

Foi então que ouvimos “ele está voltando,” e Corenswet retornou ofegante à mesa. Sua primeira ação foi olhar para mim e perguntar se ele havia me respondido, ou se faltou algo. Respondi que estava satisfeito com a resposta e dei chance aos outros. Esse mesmo cuidado foi demonstrado pelo ator durante toda a entrevista que se seguiu, primeiro na franqueza de suas respostas e depois em sua cortesia de garantir que cada um dos jornalistas fizesse ao menos uma pergunta. Uma delas foi sobre quem é o Superman para ele, e acabou virando uma continuação de sua resposta a mim.

Superman David Corenswet
Warner Bros.

De volta à primeira pergunta: é algo legal sobre o personagem porque gera muitas discussões divertidas online sobre quem o Superman é ou deveria ser,” ele respondeu. “E a realidade é que ele é um personagem tão arquetípico que deveria ser tudo [que os fãs pensam que ele é], em momentos diferentes e em iterações diferentes. Ele teve tantas interpretações excelentes e que, às vezes, são o oposto de outras interpretações excelentes. O que realmente me atraiu nele foi a sensação de alegria e otimismo que ele tem em relação ao mundo e ao que ele faz, ao que ele consegue fazer, tanto salvando pessoas, quanto vendo o mundo da perspectiva que ele consegue ver.

David Corenswet

David Corenswet após gravar a cena que assistimos no set.

Warner Bros.

Em Grandes Astros Superman, você o vê na Lua olhando para a Terra, e ele simplesmente gosta de poder fazer isso sempre que quer. E então o lado dramático disso para o personagem é a solidão e a saudade que vem junto. Ele quer que todos possam ver o mundo da maneira como ele o vê. Ele quer que todos possam ser o herói que desejam ser. Ele quer que as pessoas saibam tudo o que ele sente, e elas não conseguem, porque não são como ele. E então há uma solidão e um anseio, um desejo de compartilhar isso e de ser um de nós, mas, no fim das contas, ele não é um de nós e realmente não pode ser um de nós. Então, acho que esse é o cerne do que estou tentando fazer aqui,” adicionou o ator.

As perguntas seguiram. As últimas duas ele respondeu em pé, novamente sendo chamado para continuar filmando com Gunn mas demorando o máximo que podia para falar conosco. A sua resposta mais marcante veio logo após a fala acima. “Como você mudou como pessoa depois de receber o papel?", meu colega perguntou. Eu já estive na presença de atores algumas vezes e, normalmente, suas respostas para esse tipo de levantamento são educadas, porém rasas.

Corenswet, não. Ele passou, sem exageros, um minuto calado, em pensamento. Seus olhos, um azul que parece ter vindo direto das páginas da DC Comics, revelavam uma mente ocupada e em busca de algo verdadeiro. A pausa deixou todos tensos, já que o tempo com ele era curto, mas sugeria honestidade. Foi o que recebemos. “Não mudei tanto... até agora,” admitiu o ator. “Acho que... o que esse papel fez foi me dar poder e a posição – e isso não quer dizer nada no mundo lá fora, mas é verdade aqui dentro do set, onde interpreto o Superman – para reforçar todas as coisas que sempre foram importantes para mim quando eu estava trabalhando, que eram principalmente o fato de que fazer filmes não é a coisa mais importante do mundo.”

E então é melhor nos divertirmos fazendo isso, e podemos trabalhar muito duro, prestar muita atenção ao que está acontecendo e cuidar bem um do outro ao mesmo tempo. E essa foi, na verdade, a primeira coisa que James [Gunn] me disse quando me ligou para dizer que eu tinha conseguido o papel: ‘Trabalhei com Chris Pratt [em Guardiões da Galáxia]  e John Cena a [em O Esquadrão Suicida e Pacificador] mais vezes do que com qualquer outro ator na minha carreira, e eles são dois dos caras mais decentes que você vai conhecer. E isso é extremamente importante para mim, é que nós dois’, ele e eu, ‘vamos dar o tom no set de que este é um bom lugar para trabalhar.’”

Que resposta mais Superman,” eu pensei.

Visitas a sets são, na prática, uma olhadinha por trás da cortina. Em dias como aquele, vamos até os bastidores de Oz para ver como é o Mágico sem toda a fumaça e espelhos. Não deixa de ser legal. Para quem ama cinema, estar naquele ambiente é algo inesquecível, mas também um lembrete constante de que tudo que vemos na telona é falso. Cenas de ação frenéticas como a batalha que Gunn estava rodando naquela semana são divididas em inúmeros pedacinhos, e toda a empolgação que o público terá em julho de 2025 no cinema ainda estava em construção em julho de 2024, quando cheguei em Cleveland. 

Menciono tudo isso, caro leitor, porque naquela hora foi difícil distinguir realidade e fantasia. Logo antes da conversa, entre um take e outro da cena onde ele salvava a menina, pude enxergá-lo conversando com a atriz-mirim, que o observava com o sorriso de quem mal podia acreditar estar vivendo aquele momento. Já que ele devia protegê-la de uma explosão, Corenswet estava com uma maquiagem que sugeria esforço, dor e sacrifício, em especial na testa, onde podíamos enxergar o tradicional cachinho do cabelo do Superman.

Era um dia quente de verão nos Estados Unidos, e para que a maquiagem não derretesse com o suor, seu camarim, onde a entrevista aconteceu, estava bem gelado, e ele usava uma manta por cima do traje do personagem para se aquecer. As botas estavam visíveis e, quando ele gesticulava, o cinto e a icônica cueca (um elemento que ele diz ter defendido ferrenhamente) apareciam.

Mas não o “S.” Então, depois de sua última resposta, enquanto ele já caminhava para a porta, pedi que ele mostrasse o emblema e gesticulei com os braços o que Clark faz, os botões da camisa. David Corenswet sorriu como uma criança. Alguém ama fazer aquilo dia após dia, e reproduziu o movimento. A sala entrou em erupção, e Superman foi salvar o dia novamente.

Superman é um personagem que existia bem antes de eu nascer, e existirá bem depois que eu estiver morto, então ele é mais real que eu, ele faz mais parte do mundo do que eu poderia sonhar em fazer,” disse Grant Morrison, autor de Grandes Astros Superman, HQ que Corenswet citou e que James Gunn descreve como principal influência, em tom e caracterização, de seu novo filme. Naquele dia, quando o homem de capa vermelha deixou a sala onde ele apertou minha mão e revelou seu caráter respondendo perguntas, a fala de Morrison se tornou verdade pra mim. Quando minhas memórias voam de volta a Cleveland (ou, devo dizer, Metrópolis), eu penso: 

Eu conheci o Superman.”

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