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Filmes
Entrevista

"Trauma à beira-mar": Satisfação expande gênero de A Filha Perdida e Aftersun

Diretora Alex Burunova, que veio à Mostra de SP com o filme, conversa com o Omelete

Omelete
6 min de leitura
22.10.2025, às 07H00.
Cena de Satisfação (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Satisfação (Reprodução)

Alex Burunova, a diretora que trouxe para a 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo o seu climático longa de estreia, Satisfaçãonão se improta nem um pouco de ser colocada no "mesmo balaio" que filmes como A Filha Perdida, AftersunHot Milk.

Satisfação acompanha o casal Lola (Emma Laird, de Extermínio: A Evoulção) e Phillip (Fionn Whitehead, de Dunkirk), enquanto eles passam férias em uma ilha paradisíaca na Grécia e enfrentam os fantasmas assombram a gênese do seu relacionamento.

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Se a sinopse parece familiar, é porque os outros filmes que citamos acima também usam um retiro praiano como cenário para o confronto de eventos traumáticos na vida dos protagonistas - um paralelo tênue, é verdade, mas que não deixa de ser fascinante por sua repetição nos últimos anos.

A seguir, o Omelete conversa com Burunova sobre a ascensão desse "subgênero", o caráter tremendamente pessoal da história de Satisfação, e muito mais. Confira!

OMELETE: Olá, Alex, bem-vinda ao Brasil! Gosto de pensar no seu filme como uma nova entrada em um subgênero em rápida expansão, que chamo de "trauma à beira-mar": A Filha Perdida, AftersunHot Milk e, agora, Satisfação. O que há nas férias tropicais que as tornam um cenário tão atraente para esse tipo de história?

BURUNOVA: [Risos] Trauma à beira-mar! Vou ter que pegar essa emprestada. Bom, eu amo muitos dos filmes que você mencionou, então é uma boa companhia para se estar. E acho que há algo em nossas vidas contemporâneas – estamos constantemente em movimento, constantemente estimulados pelo ritmo acelerado da vida cotidiana – que faz com que a quietude pareça quase estranha. Quando você finalmente se encontra em um lugar silencioso e calmo, todas as velhas feridas e pensamentos que você trabalhou tanto para suprimir começam a vir à tona. E, aí, aquilo torna-se o momento perfeito para confrontar as coisas que você deixou para lá.

OMELETE: Bom, escalar sua dupla principal para este filme, imagino, foi uma das decisões mais importantes que você teve que tomar como diretora. O que você procurava em seus protagonistas e como Emma e Fionn se encaixaram nesse perfil?

BURUNOVA: Sim, absolutamente. O filme realmente depende da capacidade dos dois protagonistas de entregar performances cruas, honestas e profundamente autênticas, nos fazer acreditar na química deles e, tão importante quanto, na ausência dela. Eles tinham que incorporar tanto o "antes" quanto o "depois" do evento que leva o relacionamento deles a uma espiral tóxica. Para Lola, eu estava procurando uma atriz com um tremendo alcance, alguém que pudesse expressar um amplo espectro de emoções, mas que também soubesse trazer sutilezas e nuances à personagem... alguém que pudesse revelar uma vida interior complexa através de microrreações, através de seus olhos. E, para Philip, eu procurava um ator capaz de retratar alguém profundamente complexo: de fala mansa, gentil e confiável, mas com o potencial silencioso de ferir. Levei três anos para encontrá-los, mas Emma e Fionn entregaram performances que me parecem profundamente verdadeiras e vivas.

OMELETE: Outra decisão interessante para mim é como você brinca com a ordem cronológica de sua história, às vezes de maneiras desorientadoras. Como você se decidiu por esse formato? Era importante, para você, manter a realidade desse relacionamento escondida do público?

BURUNOVA: Sim, com certeza, essa foi uma escolha muito intencional. A estrutura me parecia essencial para retratar como os relacionamentos tóxicos realmente funcionam. Em qualquer dinâmica não saudável, as boas memórias permanecem tão vívidas quanto as ruins, e se misturam com o presente, dificultando a percepção da realidade do que está acontecendo. Essa desorientação emocional é parte do que mantém as pessoas presas nesses relacionamentos. Então, eu queria que o público experimentasse o mesmo vai-e-vem: ser atraído pelo calor do passado enquanto lentamente percebe a escuridão por baixo dela. O filme se desenrola como a memória, fluida, um momento constantemente se misturando com o outro. Levei cerca de um ano para descobrir esse ritmo no roteiro, para encontrar o equilíbrio certo entre o que é lembrado e o que é presente. Eu não estava tentando esconder a verdade do público, mas sim deixá-los sentir o processo de lembrar, assim como os personagens.

OMELETE: Há um aviso de gatilho no início de Satisfação, indicando que temas sensíveis serão abordados na história. Por que você decidiu incluí-lo? Muitos cineastas são contra esse tipo de coisa, porque acham que estraga a experiência.

BURUNOVA: O meu filme explora temas difíceis, e profundamente pessoais. Então, achei importante dar ao público a chance de consentir com essa experiência. Para mim, fazer cinema não é emboscar o espectador - é criar espaço para a verdade emocional e, idealmente, para a cura. O objetivo nunca foi retraumatizar, mas examinar a dor com cuidado. Entendo que alguns cineastas sintam que um aviso de gatilho diminui a experiência, mas eu vejo de forma diferente: acho que ele reconhece a autonomia do espectador, e estabelece uma relação de confiança desde o início. A história ainda se desenrola com total impacto emocional. Para mim, resistir a esse gesto vem de uma espécie de insegurança, a crença de que adicionar um contexto à arte a enfraquece. Da minha parte, acredito que o contexto pode, de fato, aprofundá-la.

OMELETE: Há alguns meses, conversei com Chun Sun-young, uma cineasta sul-coreana que também estava apresentando um filme aqui no Brasil – e ela me disse que, embora haja mais mulheres dirigindo filmes hoje em dia, produtores e estúdios "sempre esperam que as mulheres façam o mesmo tipo de filme". Eu me pergunto, você concorda com essa avaliação?

BURUNOVA: Sim, acho que isso é verdade em muitos casos. Muitas vezes, há a expectativa de que as mulheres devem fazer um certo tipo de filme - e, se você sair dessas suposições, pode ser mais difícil encontrar apoio financeiro. Mas, para mim, essa não foi a minha experiência, porque eu fiz o filme que eu queria fazer. Foi muito intencional o ato de produzi-lo eu mesma, me cercar de pessoas que realmente acreditavam na história e na minha visão. Essa clareza me permitiu manter total controle criativo, e contar a história que eu queria contar. Claro, alguns produtores ou empresas sugeriram que a história era "muito feminina" ou "muito queer", ou que certas cenas deveriam ser suavizadas, mas eu simplesmente não fiz parceria com essas empresas. Acho que permanecer fiel à história e à sua perspectiva é essencial. Nem sempre é o caminho mais fácil, mas é a única maneira de fazer um trabalho que pareça autêntico.

OMELETE: Bem, como você disse antes da exibição, este é o seu primeiro longa-metragem, e é uma história muito pessoal para você. Como é compartilhar essa história com tantas pessoas, e que tipo de histórias você se vê contando daqui para frente?

BURUNOVA: Para ser honesta, por muito tempo eu fiquei tão focada em fazer o filme – arrecadar dinheiro, finalizá-lo, garantir que a história fosse autêntica – que eu não estava totalmente preparada para compartilhá-lo com um público amplo. Agora, estou me adaptando a isso. É uma experiência muito vulnerável, porque a história é profundamente pessoal e baseada em algo que me aconteceu na faculdade. Compartilhar isso, especialmente para alguém que é naturalmente reservada, como eu, é desafiador. Mas tenho ficado emocionada com as reações e as conversas que surgiram das exibições. É realmente por isso que fiz o filme, para gerar conversas sobre esse assunto, que eu não tinha visto explorado dessa forma antes. Ver essas conversas acontecerem é muito gratificante. Por isso, gostaria de continuar contando histórias pessoais e difíceis – o tipo de histórias que outros podem ter medo de tocar, mas que eu acredito que precisam ser contadas.

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