Perdoa-me (Délivrez-Moi, 2006) começa com um mistério: que crime hediondo teria colocado Annie (Céline Bonnier) na prisão a ponto de, quando solta, dez anos depois, ela ser má recebida pelas suas pessoas mais próximas?
perdoa-me
Enquanto dura o mistério, o drama do diretor canadense Denis Chouinard desperta algum interesse. Quando se esclarecem, depois do crime, as circunstâncias em que este ocorreu, tudo desmorona - de drama, Perdoa-me flerta até com suspense sobrenatural.
Falemos então das locações, que são belas.
Em suas áreas mais isoladas, satélites a Montréal, a província de Québec é de uma beleza melancólica, como o sol de céu limpo que não basta para esquentar a superfície dos rios e dos lagos que forram a região. Ali, na beira de um ramal de flora cabeluda onde só se chega a barco, uma casa de veraneio testemunhou há dez anos um crime passional. Annie paga por ele mesmo depois de sair da cadeia.
Céline Bonnier faz o que pode para dar conta do complexo sentimento de culpa da personagem. Não é pouca coisa. Quando foi condenada, Annie teve que deixar a sua filha pequena com a sogra, e nesse retorno ao convívio social ela precisa não só se reajustar com casa, emprego, etc., como se reaproximar da filha que no fundo nunca conheceu. Ter como sogra uma personagem cadavérica como Irène (Geneviève Bujold) não ajuda em nada.
E o que começa a vitimar Perdoa-me aos poucos é essa certeza do diretor Chouinard de que o sofrimento de Annie ainda não foi o bastante. Então tome ferro em um emprego na siderúrgica, advogada cocainômana, amante sádico, vida calhorda... Dá-se um crédito ao filme até mais ou menos a sua metade. Depois começa-se a achar que Annie deveria ter atirado é na própria cabeça.
Isso a pouparia, ao menos, da vergonha de comer salgadinho molhado no sorvete mole na frente da filha.
