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Entrevista

Omelete Entrevista: Roland Emmerich, diretor de 10.000 a.C.

Cineasta alemão fala de seu filme pré-histórico e o próximo projeto de destruir o mundo, 2012

07.03.2008, às 20H00.
Atualizada em 25.11.2016, ÀS 22H06

A entrevista que você vai ler a seguir foi feito pelo nosso amigo Steve Weintraub, editor do Collider, site parceiro do Omelete lá em Los Angeles. Frosty, como ele assina os seus textos por lá, participou das entrevistas dedicadas à imprensa internacional no nosso lugar e arrancou do cineasta alemão detalhes do seu próximo trabalho, o filme-catástrofe 2012.

Como foi trabalhar nestas locações tão diferentes? Vocês tinham medo de que algo acontecesse? Na Namíbia, por exemplo, vocês não tinham medo de que um animal selvagem saísse da floresta?

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Roland Emmerich: Não. Quando há uma grande equipe de filmagem como essa você sabe que os animais não vão ficar por ali. Até as cobras, você sabe que elas são sensíveis ao excesso de barulho produzido por tantas pessoas e por isso vão fugir. A parte mais divertida é achar todas estas locações, sabe? Mas eu também devo dizer que as filmagens não foram nada divertidas, porque você nunca, nunca mesmo, deve contar que vai ter ao seu lado uma coisa chamada clima. Foi como se rolasse um tipo de vingança por causa de O Dia Depois de Amanhã. Nós tivemos o maior azar do mundo com o clima. Por exemplo, quando estávamos na Nova Zelândia, nós perguntamos: "Então, como é a neve por aqui? Chega a nevar por aqui em maio?" E eles nos disseram: "Não muito. Nos últimos 10 anos nós praticamente não vimos neve alguma, no máximo - de vez em quando - uma coisa rápida. Temos até um ditado: Neve de maio é mais rápido que o raio. Até mesmo em junho ainda é cedo para nevar." Eu disse "Ótimo!" E no primeiro dia de filmagens tivemos meio metro de neve.

Mas você precisava da neve...

Roland: Não. Eu não tinha planejado uma seqüência na neve - mas foi uma bênção disfarçada. Nós nos desdobramos para tirar o melhor daquela situação. Eu não ousaria fazer cenas na neve porque nós tivemos muitos problemas, mas no final ficou lindo no filme. Dá um visual de fim da Era do Gelo e é realmente muito frio e há um grande contraste com a Namíbia. Na Namíbia nós tivemos outro problema: um enorme nevoeiro durante a manhã, que nos deixava parados, esperando passar. Era como se o sol tivesse que queimar toda aquela névoa. E quando você está filmando no inverno, quando o dia tem apenas 7-8 horas, isso é péssimo.

Quando o senhor está dirigindo, é do tipo que tem tudo desenhado no storyboard ou que vai desenhando os planos na hora?

Roland: Quer saber? Eu sempre faço todo o storyboard, e desta vez fui ainda mais detalhista com o pre-vis [versões animadas dos storyboards], mas quando vou filmar jogo tudo fora. Se não for assim, tudo se torna muito mecânico e acaba não funcionando. É bom também para que os atores possam entender melhor como a cena vai se desenvolver. Mas quando você trabalha com atores, eles trazem suas idéias. Você tem idéias e tem que se adaptar.

Sobre a parte histórica, como foi a pesquisa que o senhor fez?

Roland: Bom, essa foi uma longa jornada que começou 15 anos atrás. Eu vi um documentário sobre uma caçada de mamutes que me interessou muito e pensei que era uma idéia muito legal para um filme. Daí comecei a trabalhar no roteiro com Harald [Kloser] e percebemos que estava muito unidimensional. Foi quando descobri esta teoria de uma civilação perdida que pensei "Meu Deus, agora eu tenho uma boa história". Foi como viajar no tempo, sabe? Acho que este filme é mais conceitual do que histórico, mas tudo o que fizemos com os animais e figurinos foi pesquisado à exaustão. E claro que a trama tem todo um elemento de fantasia.

Qual foi o aspecto mais desafiador em termos de efeitos visuais?

Roland: Eu tentei fazer este filme uns 7-8 anos atrás. Rolaram algumas pesquisas e vimos que naquele momento era impossível. Então, o que fizemos foi esperar até agora e posso dizer que estou muito orgulhoso dos efeitos visuais que conseguimos, porque consegui convencer o estúdio a nos dar muito tempo para trabalhar. Para o estúdio é um risco enorme porque é um custo muito alto e eles querem ver o retorno depois de dois anos e meio. Mas estou muito feliz que conseguimos. Só para construir um mamute em computação gráfica demoramos um ano. Um ano! Quando terminamos o primeiro tínhamos uma notícia boa e uma má. A boa era que estava pronto. A má é que para renderizar cada frame demorava 12 horas! Perguntei se tinha alguém bom de matemática por ali e começamos a fazer as contas. Vimos que não íamos conseguir terminar o filme a tempo e tínhamos que fazer algo. Era até engraçado porque ficávamos nos perguntando "e agora?" Foi quando alguém teve a idéia de tentarmos usar menos pêlos. Começamos diminuindo em 10%, passamos para 20% e quando chegamos a 40% percebemos que era muito. 35% foi o número que chegamos, mas mesmo assim eram de 6 a 8 horas de renderização por frame. Nós tínhamos que prestar muita atenção no que mandávamos renderizar, para não ter que refazer depois. Depois disso ainda tínhamos que filmar. E levava mais um ano para juntar o que havia sido filmado com o que havíamos criado em computação gráfica.

Quando o senhor estava escalando o elenco, procurava uma atriz com olhos azuis?

Roland: Eu tinha em mente que íamos usar lentes de contato, pois eu era inspirado naquela famosa foto da menina afegã [da National Geographic] e queria aquele tipo de visual quase irreal, sabe?

Foram muitos testes até escolhar a Camilla?

Roland: Eu já tinha visto algumas meninas, mas quando vi Camilla sabia que era ela. Eu já tinha visto uns dois ou três filmes dela quando era mais nova. Mas quando aquela linha mulher entrou na sala eu disse "uau". Ela cresceu! Eu a testei com Steven e a química entre eles foi imediata, por isso contratamos os dois.

Neste início de século, estão sendo feitos vários filmes com tecnologia 3D, Chris Nolan fez uma parte de Batman - O Cavaleiro das Trevas exclusivamente para o IMAX... Como diretor, o senhor está ansioso por utilizar alguma dessas inovações em seus próximos filmes?

Roland: Eu sempre tento estar na dianteira em termos de inovações. Acho que 10.000 a.C. tem os mais realistas animais peludos que você já viu. Me perguntaram se eu gostaria de de fazê-lo em 3D e eu disse que não, porque eu olhei o sistema desenvolvido por [James] Cameron para Avatar e para mim o problema com 3D é que você tem que usar aqueles óculos, e eles me dão dores de cabeça depois de 1h45 de filme. E acho que aquilo não remonta a realidade. Tudo fica muito parecido e tenho a impressão que os grandes objetos ficam ficam parecendo modelos. Por exemplo, no Exterminador do Futuro 3 tem um caminhão gigante vindo na nossa direção e mesmo sabendo que era de verdade, para mim parece uma miniatura. Por isso digo que ainda sou muito cético sobre o assunto. Sem contar que o 3D existe desde os anos 50, a diferença é que agora é feito digitalmente. Já o IMAX eu adoro porque é um formato maior. Além disso, quando você grava digitalmente você consegue eliminar a granulação, algo que eu gosto muito. Adoro a projeção digital. Acho bárbaro!

Então o senhor consideraria fazer seu próximo filme em digital e para IMAX - ou até mesmo inteiro para IMAX?

Roland: Sim, claro! Porque você consegue fazer isso agora com o digital. Tenho um pouco o pé atrás de gravar em digital só faria isso para um projeto inteiramente rodado em estúdio. Para o 10.000 a.C. seria praticamente impossível. E eles ainda têm que desenvolver algo para filmar em câmera lenta.

O senhor já fez vários filmes-catástrofe. É até famoso por explodir as coisas. Como pretende elevar isso a um próximo patamar em 2012?

Roland: Bem, eu não vou sair explodindo as coisas lá...

Tá, é que eu ouvi dizer que era um filme-catástrofe...

Roland: E é!

Então como vai ser?

Roland: Vai ser um desastre natural.

Sei.

Roland: Não vou sair explodindo as coisas. É algo mais. Desta vez não teremos explosões. Na verdade é tipo... Eu não posso dizer! Estou dando muitas informações.

Então pelo menos fale mais sobre esta investigação história sobre a cultura Maia.

Roland: Bom, é sobre o fato de que o calendário Maia termina em 21 de dezembro de 2012, mas isso é só uma parte do todo. Há muitos outros povos que dizem que tudo vai acabar em 2012, tipo o I-ching, Nostradamus, várias pessoas, aliás, até a Bíblia, de alguma forma.

Este filme tem cara de que vai ser gigante em termos de orçamento. Estou curioso, qual o tamanho real disso?

Roland: É meio difícil dizer. Vai ser, sim, muito caro, mas acho que a um preço justo porque as pessoas que leram o roteiro disseram que ele era impossível de ser filmado. E eu disse "bom, mas nós vamos fazê-lo!" Essas pessoas acham que é impossível porque vai mostrar o mundo todo sendo destruído, mas quando estou escrevendo, não fico pensando se dá para fazer ou não. Só escrevo. Vamos criando a história, para só depois pensar em como fazê-la dar certo. Acho que é válido fazer isso porque é nessas horas que bate a adrenalina, aquele nervosismo que faz bem, sabe?

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