Lúcia Murat (Divulgação/Taiga Filmes)

Créditos da imagem: Lúcia Murat (Divulgação/Taiga Filmes)

Filmes

Entrevista

Lúcia Murat: “Temos que conversar com os evangélicos e afastá-los da direita”

Novo filme da cineasta, O Mensageiro, resgata conflito na Igreja católica durante ditadura

Omelete
2 min de leitura
16.08.2024, às 06H00.

Em O Mensageiro, novo filme da diretora Lúcia Murat, a história da ativista Vera (Valentina Herszage), presa e torturada nos porões da ditadura militar brasileira no final dos anos 1960, se mistura com a da mãe, Maria (Georgette Fadel), uma mulher religiosa que encontra no padre João (Javier Drolas) a força para continuar lutando para encontrar a filha. Vocal contra o regime autoritário dos militares, o sacerdote é eventualmente sequestrado e humilhado pelo exército, o que leva ao seu exílio em uma casa de repouso da Igreja, que na época ainda não tinha se posicionado contra a ditadura.

Em entrevista ao Omelete, Murat - que inspirou grande parte da trama em sua própria experiência durante a ditadura -, disse que a ideia era mesmo destrinchar esse papel da fé como apoio ou resistência ao horror.

Dentro da história da ditadura, a gente teve uma divisão na Igreja católica no Brasil. Teve uma hierarquia alta da Igreja que, principalmente no início do regime, foi favorável à ditadura, mas tivemos também vários padres ligados à teologia da libertação que foram presos e torturados”, lembrou ela. “A cena do filme em que o padre é sequestrado, e os militares 'devolvem' ele nu, todo pintado de vermelho, aconteceu de verdade com o Bispo Dom Adriano Hipólito. Pode ser que o público não saiba disso, mas são fatos, histórias reais, que eu coloquei dentro do filme”.

A cineasta ainda apontou que, na fase final da ditadura, a Igreja “assumiu a liderança na questão dos direitos humanos”, e que essa transformação da hierarquia religiosa durante o período traz esperança para os tempos atuais.

Nos últimos anos, nós vimos o crescimento da igreja evangélica, que foi colocada em uma posição de referendar o conservadorismo, até porque os fiéis votam na extrema direita”, comentou Murat, aludindo a líderes religiosos e políticos como Silas Malafaia, Marco Feliciano e Eduardo Cunha. “Mas, da mesma forma como no passado, pode haver uma transformação ali. Temos que nos comunicar com essas pessoas, pensando que é possível interferir, discutir, dialogar. Hoje, eles são muito poderosos, e esse poder é usado para fortalecer a extrema direita”.

O Mensageiro já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.