A cena de dança embalada por "Pega o Guanabara", hit de Alanzim Coreano, é um dos momentos mais emblemáticos e inesperados de Motel Destino. E, enquanto os protagonistas Nataly Rocha e Iago Xavier já haviam revelado ao Omelete que a cena foi coreografada para todos os atores - menos Fábio Assunção, vilão do filme -, o diretor Karim Aïnouz agora jogou um pouco mais de luz sobre o assunto.
“Eu acho que é importante que um ator seja surpreendido durante a cena. Às vezes eu puxo o tapete mesmo, porque sempre acontece alguma coisa interessante”, admitiu ele em conversa posterior com o Omelete. “E, nesse caso, era importante também que a gente entendesse a diferença entre esses personagens - eles não têm a mesma bagagem cultural, não vêm do mesmo contexto. Nada mais expressivo disso do que o jeito que você dança, né? E achei bonito ver o personagem do Elias tentando se encaixar ali num lugar que ele jamais vai se encaixar”.
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O próprio Assunção se lembrou das filmagens com um sorriso no rosto: “Eu amei não saber o passinho, e ficar tentando seguir o passinho mesmo assim! São nesses detalhes que a gente vê que ele é estrangeiro, sabe? Deu uma falta de sincronismo ali que serve muito ao personagem. Eu queria que as pessoas não identificassem o Elias como estrangeiro pelo visual, mas sim na diferença cultural, no comportamento superior que ele tem, um certo autoritarismo”.
“Queria que ele estivesse até bem inserido, visualmente falando, mas que aos poucos os detalhes fossem aparecendo para destacar esse cara do contexto em que ele estava”, continuou o ator. “Inclusive pela falta de talento na dança, na falta de talento de captar o que há de melhor naquela cultura. Aquela cena foi um momento alegre nesse sentido, porque é impossível não notar que ele não sabe nada ali, não tem gingado”.
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Aïnouz ainda revelou que o momento não estava no roteiro original, mas que ele estava determinado a usar a canção de Alanzim Coreano. “É uma mania minha, acho que nunca vou fazer um filme sem uma cena de dança. Essa é uma música que eu amo, adoro, acho super bonita - então, antes de começar as filmagens, falei: 'Temos que comprar os direitos dessa daqui'. Eu nem tinha uma cena pra ela! Fiquei até com medo de ter pedido para os produtores gastarem esse dinheiro e acabar não usando”.
“E essa coisa de não contar a coreografia para o Fábio também foi uma espécie de vingança, viu?”, completou. “Uma revanche contra aquele sulista que estava lá, no meio do Ceará, oprimindo os outros dois”.
Motel Destino, produzido pelo Cinema Inflamável e pela Gullane, já está em cartaz nos cinemas.
