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Em Paris

Belo filme sobre casais e famílias não subestima a tristeza alheia

27.12.2007, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H31

Arrasado, Paul (Romain Duris) acaba de se separar da mulher, com quem morou durante um ano no interior da França, e retorna a Paris para perto do pai e do irmão. A certa altura, como que pedindo para que a família entenda sua depressão, diz: "Subestimamos a tristeza dos outros".

Em Paris (Dans Paris) não é um filme sobre a depressão da separação - pelo contrário, fala da alegria dos reencontros que surgem a partir da crise. Mas é um filme que, como pede Paul, sabe respeitar a tristeza das pessoas. A tristeza é uma espécie de dignidade, e os personagens do belíssimo filme de Christophe Honoré são, antes de mais nada, personagens dignos.

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Além de Paul há Jonathan (Louis Garrel), seu irmão, que na impossibilidade de ser o protagonista se contenta com a dignidade de ser o coadjuvante narrador. Falando diretamente para a câmera, Jonathan coloca a trama em movimento nos primeiros minutos com um gatilho de suspense que, se fosse contado com as imagens de um flashforward, pareceria forçado demais: "Que história de amor é capaz de fazer uma pessoa se jogar de uma ponte?".

No começo de Em Paris acompanhamos esse amor de futuro incerto, o amor sem meios termos de Paul e Anna (Joana Preiss). Com a separação, conhecemos então a família e a vida que Paul havia deixado para trás em Paris, família e vida essas para os quais ele agora está retornando. Afinal, o nome do filme é este, em Paris - e a cidade dos amantes dá lugar na história de Honoré à cidade dos mal-amados (que no fundo são muito mais poéticos do que os bem-amados).

A trilha sonora pop-jazzística conduzida quase como num musical, com os personagens frequentemente interagindo com a música incidental, ajuda a dar leveza e, principalmente, descompromisso a esse drama amoroso-familiar. Honoré honra a tradição do filme falado da Nouvelle Vague, mas areja Em Paris com uma montagem mais ágil. Ágil, no caso, não quer dizer irresponsável. Honoré domina a linguagem, como prova na única cena em que recorre a uma fusão, quando sobrepõe as imagens de Paul e o rio para dar ao momento uma dramaticidade que o corte seco não conseguiria.

Não é fácil, ademais, traduzir aqui com palavras como é essa leveza que marca Em Paris. Mas há cenas que, por emblemas, nos ajudam a traduzir, como o momento em que o pai de Paul lhe dá um tapa e o filho, surpreso, responde com uma risada. Não é um tapa de agressão, mas de afeto, uma espécie de afeto (digno) a que Paul reage com uma risada por considerar honesto - mais honesto do que todas as tentativas anteriores do pai de curar com afagos a dor da separação de Paul.

Que ótimo seria se Paris fosse retratada no cinema sempre com essa honestidade anti-paternalista.

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