Legitimo Rei

Créditos da imagem: Netflix/Reprodução

Filmes

Crítica

Legítimo Rei

Repetindo a dobradinha de A Qualquer Custo, Chris Pine e David Mackenzie bebem da água de Coração Valente, mas não causam o mesmo impacto

16.12.2018, às 12H25.
Atualizada em 04.07.2019, ÀS 17H43

Mesmo após vinte e três anos, a sombra que Coração Valente impõe sobre qualquer filme medieval ainda é gritante. Esse fantasma se torna maior ainda quando uma produção é localizada no mesmo tempo e espaço do longa de Mel Gibson. A comparação é inevitável. E, embora não chegue aos pés do “antecessor”, Legítimo Rei cumpre o papel de aquecer o coração dos fãs mais ávidos por sangrentas histórias medievais.

Ambos os filmes retratam os acontecimentos da Primeira Guerra de Independência da Escócia, mas sob óticas diferentes - o que faz de Legítimo Rei quase uma sequência não oficial de Coração Valente. Embora os dois apresentem os lendários Robert the Bruce e William Wallace, no novo filme de David Mackenzie (A Qualquer Custo), o personagem vivido e dirigido por Gibson não tem quase nenhum espaço na trama. Como é dito no filme, Wallace não é mais um líder rebelde: ele se tornou uma ideia. Aqui, ele funciona como a força motriz para Robert romper seu acordo de paz com o Rei Eduardo I e retomar a guerra. É no momento que o lorde quebra sua palavra e decide pegar em armas novamente que, tanto o longa quanto o protagonista, acham sua força e entregam ao público batalhas tão nauseantes quanto gloriosas.

São nessas ocasiões que Chris Pine brilha. Entre discursos cheios de paixão e espadadas viscerais, não é  necessário nenhum esforço para notar como o ator está comprometido com o papel. Lembrando muito as descrições detalhadas e realistas de escritores como Bernard Cornwell, nas cenas de guerra de Legítimo Rei não existe cavaleiro com armadura cintilante. Os campos de batalha são sujos, nojentos e é quase possível sentir o cheiro de sangue misturado à lama em que os guerreiros estão imersos - muitos deles, inclusive, gorfando entre uma machadada e outra. Com uma violência tão gráfica e crua quanto Coração Valente, o filme transporta o espectador para o meio de toda aquela brutalidade, podendo deixar os mais sensíveis um tanto quanto perturbados.

É uma pena que a tensão criada nesses momentos não seja contínua. Tais cenas se alternam com inúmeras viagens pelas montanhas da Escócia; diálogos superficiais entre cavaleiros; e um relacionamento raso entre Robert e sua esposa Elizabeth (Florence Pugh). Após uma cerimônia arranjada pelas famílias, eles se casam e de uma hora para outra estão completamente apaixonados. Elizabeth chega a abdicar de sua vida para cumprir com seu “papel de esposa“, mesmo que não tenham sido dado argumentos suficientes para tal posicionamento. Aos olhos dos espectadores, eles mal se conheciam. - talvez o desenvolvimento desse núcleo tenha sido prejudicado pelo corte de vinte minutos que o filme sofreu desde sua primeira exibição, no Festival de Toronto. Independente da causa, foi entregue ao público final um romance morno. Outro ponto negativo do enredo está justamente no sonho de Robert. Ao mesmo tempo que nas cenas de batalha ele se mostra um rei empolgante, basta estar fora de ação para que o lorde perca seu brilho. Ele não soa como alguém que realmente tem como meta ser rei. Em muitos momentos, parece que está ali somente pela obrigação impelida a ele.

Por outro lado, quem tem um objetivo muito claro na trama e nunca deixa o espectador esquecer disso é Aaron Taylor Johnson e seu personagem Douglas Negro. Dando vida a um guerreiro em busca das terras usurpadas de sua família, o ator mostra todo seu talento aos berros. Literalmente. O personagem passa o filme inteiro gritando “DOUGLAS!” para seus inimigos enquanto os trucida. É sem dúvidas o coadjuvante mais carismático do filme, sendo inclusive quase mais aprofundado do que o próprio Robert - e ganhando, com certeza, mais carinho do público.

Escrito por cinco pessoas, o roteiro de Legítimo Rei é instável e luta bastante para encontrar o ritmo adequado, principalmente para seu protagonista. Pine não tem culpa, é o enredo que não o ajuda. Por outro lado, a direção de Mackenzie e o dom do diretor de fotografia Barry Ackroyd (Guerra o Terror) extraem cenas de tirar o fôlego nas belas paisagens da Escócia. Embora o filme não seja um divisor de águas no mundo dos longas medievais, é sem dúvida um ótimo entretenimento para quem não está em busca de grande compromisso, apenas banhos de sangue e pílulas históricas.

Nota do Crítico
Bom
Legítimo Rei
Outlaw King
Legítimo Rei
Outlaw King

Ano: 2018

País: Reino Unido/EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 2h1 min

Direção: David Mackenzie

Roteiro: David Mackenzie, Bathsheba Doran, James MacInnes, David Harrower, Mark Bomback

Elenco: Rebecca Robin, Billy Howle, Stephen Dillane, Aaron Taylor-Johnson, Sam Spruell, Chris Pine

Onde assistir:
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