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Filmes
Crítica

A Noite do Dia 12 revela o ciclo perverso da violência que se torna rotina

Filme francês retrata crime sem resolução porque “qualquer um poderia tê-lo cometido”

Omelete
4 min de leitura
CC
13.07.2023, às 10H19.
Atualizada em 13.07.2023, ÀS 14H58
Cena de A Noite do Dia 12 (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de A Noite do Dia 12 (Reprodução)

O protagonista de A Noite do Dia 12, o capitão de polícia Yohan Vivès (Bastien Bouillon), tem um hobby: quase todas as noites, após o expediente, ele leva a sua bicicleta de corrida para uma pista oval afastada do centro urbano de Paris, onde pedala furiosamente em círculos, com a expressão compenetrada de alguém para quem o exercício é muito mais um escape para o estresse do dia a dia do que uma questão de prazer ou condicionamento físico. O diretor Dominik Moll, que também assina o roteiro do filme ao lado de Gilles Marchand, faz dessas corridas noturnas que levam a lugar nenhum uma das muitas representações visuais do caráter cíclico frustrante, quase desesperador, da história que tem para contar.

Inspirado no livro de Pauline Guéna, que passou um ano acompanhando policiais parisienses para escrever seu relato, A Noite do Dia 12 se foca em um único caso, mas foge do marasmo do procedural investigativo ao fazer deste caso uma representação de algo muito maior. Logo depois de Yohan assumir o cargo de capitão, ele e seus colegas são convocados a um vilarejo no interior, onde a jovem Clara (Lula Cotton-Frapier) foi queimada viva por um homem desconhecido enquanto voltava para casa tarde da noite, após uma reunião com algumas amigas.

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A crúcis da trama está nas entrevistas dos policiais com os muitos suspeitos que vão surgindo conforme eles destrincham a vida social e amorosa de Clara. Nas margens, a família da jovem e sua melhor amiga (Pauline Serieys, em performance de fragilidade comovente) dão testemunho relutante para uma investigação que, no ato de revirar os encontros e desencontros de Clara a fim de encontrar os motivos para seu assassinato, resvala perigosamente na culpabilização da vítima.

A Noite do Dia 12 escapa com habilidade do maniqueísmo ao retratar esse processo e suas derrocadas, verbalizadas no terceiro ato por uma policial do sexo feminino: homens, que cometem crimes contra mulheres, sendo investigados por outros homens. Não é que Yohan, ou seu colega veterano e desiludido Marceau (Bouli Lanners, convincentemente erudito), sejam sujeitos ruins - de fato, o filme faz um ponto de caracterizá-los na contramão disso, como exemplos de masculinidade solidária, comunicativa e cortês. Os olhos deles, no entanto, seguem irremediavelmente fechados para o cenário maior com o qual esbarram quando tentam trazer justiça para Clara.

A tragédia dela é mais cruel, nos diz o filme, porque é corriqueira. Este crime é impossível de resolver, verbaliza o próprio Yohan em uma cena do longa, porque qualquer um dos suspeitos (e qualquer um que os policiais tenham falhado ou se visto impossibilitados de identificar) pode tê-lo cometido. O roteiro chega a tocar explicitamente no que chama de “algo errado nas relações entre homens e mulheres”, mas nas entrelinhas mora uma distinção muito mais fina: não é só que a violência dá a tônica das interações entre os gêneros, mas que essa violência foi tão completamente naturalizada a ponto de se tornar indistinguível, impossível de identificar e isolar, e portanto impossível de punir.

É uma perspectiva difícil de conciliar, que A Noite do Dia 12 traduz em ideias filmadas com pragmatismo simbólico: o olhar enlouquecido de Bastien Bouillon em cima daquela bicicleta, correndo em círculos intermináveis, enquanto a câmera o acompanha de forma vertiginosa; a revolta quase ludita de Marceau, que sai de um carro e caminha para o coração de uma floresta, à beira de uma montanha aparentemente intransponível, para nunca mais ser visto novamente; o contraste entre o semblante adormecido do protagonista e os olhos alertas de sua colega sob a luz das primeiras horas da manhã, filtradas pelo vidro de uma van no final de uma tocaia que pode representar a última chance de encontrar o assassino de Clara.

Menos bombástico ou fundado em truques narrativos do que seus contemporâneos no gênero criminal (vide Sede Assassina), e menos lúdico do que os filmes que tentaram abordar a violência misógina nos últimos anos (vide Men), A Noite do Dia 12 faz um cinema que pode parecer trivial na superfície - mas que se revela profundamente refletido, e sistematicamente expressado, uma vez que absorve o espectador para a sua teia de mistérios dolorosamente reais.

Nota do Crítico

A Noite do Dia 12

La Nuit du 12

2022
115 min
País: França/Bélgica
Direção: Dominik Moll
Roteiro: Gilles Marchand, Dominik Moll
Elenco: Pauline Serieys, Bouli Lanners, Bastien Bouillon, Lula Cotton-Frapier
Onde assistir:
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