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Filmes
Crítica

Men faz intrigante terror de trauma sem medo da obviedade

Com premissa simples, Alex Garland aproveita o cenário para crescer na direção

Omelete
4 min de leitura
JS
08.09.2022, às 14H26.
Men faz intrigante terror de trauma sem medo da obviedade

É difícil não se render à empreitada de Alex Garland em Men: Faces do Medo, por mais petulante que ela possa parecer. Sim, existe um atrevimento em se propor a explorar a masculinidade tóxica - com uma protagonista feminina - em um longa escrito e dirigido por um homem. Mas é preciso tirar isso da frente logo de cara, porque a ideia de Garland não é explorar o sentimento feminino, nem tentar entender os efeitos das ações do homem em nossa heroína, Harper. A ideia de Men é brincar com arquétipos, explorar clichês, e Garland, um ótimo roteirista, parte desse aparente simplismo para se provar de vez como diretor. 

E existe coesão no trajeto de Garland até aqui. Para alguém que nunca realmente precisou convencer ninguém de sua força como contador de histórias - seus primeiros projetos, A Praia e Extermínio, foram acertos imediatos - Garland teve uma jornada diferente como diretor em seus dois longas anteriores: Ex-Machina foi um triunfo muito mais por sua trama, e Aniquilação foi uma adaptação de um sci-fi tão brisado que, por mais comando que o cineasta tenha tido sob sua obra, ela chamou mais atenção por suas limitações. Agora, Garland retorna com uma história sua, e contida, simples - quase superficial - que funciona perfeitamente ao seu propósito. 

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Aqui, acompanhamos a viagem de Harper (Jessie Buckley) a uma bucólica cidade isolada, em busca de se recuperar da recente e trágica morte de seu marido. Tudo na vila deserta parece um sonho: um casarão bem cuidado, um inquilino esquisito mas simpático, uma natureza vibrante. Não fosse pela trilha sonora sinistra de Ben Salisbury e Geoff Barrow - grandiosa, em absoluto contraponto ao estado pacato da pequena cidade - tudo apontaria para a tranquilidade. Isto é, até que Harper percebe-se cercada de sujeitos estranhos e invasivos - o policial, o padre, um estudante, todos os diferentes homens do local - sempre interpretados por Rory Kinnear.  

Sem essa escalação repetitiva para todas as figuras invasivas, talvez Men perdesse todo o seu brilho. Isso porque a recorrência de uma mesma figura não apenas está na alma do interesse de Garland aqui, mas porque ver, virar e rever uma mesma face, a todo momento, cria o clima fundamental de um lugar desesperançoso, inevitável. O desespero em ver uma criança bizarra com as feições de Kinnear é tão divertido quanto amedrontador, e o fato de que o ciclo nunca é realmente reconhecido pela personagem - que se mostra pasma em suas feições, mas nunca realmente manifesta o absurdo - coloca o espectador sempre em estado de dúvida, do que realmente estamos testemunhando. 

E desde o início, mesmo antes da primeira insistência masculina para cima da paz de Harper, a aliança entre Buckley e Garland para criar desconforto funciona admiravelmente bem. Colocando sua personagem em planos amplos, absolutamente vazios, Men cria um clima de constante suspeição, em que qualquer cenário aberto é uma oportunidade para paranoia, um recurso que até remete ao clima de Corrente do Mal. Os cenários de Men são perfeitamente contraditórios: de uma natureza belíssima, pacífica e incômoda. Quando não é a fotografia de Rob Hardy que chama atenção, Garland usa o semblante de Buckley para criar expectativa de medo, e a atriz flutua entre a serenidade e a tensão com tanta destreza que é um deleite de assistir. 

As constantes absurdidades dos homens são tão óbvias quanto familiares; e o fato de os abusos serem clichês não os torna menos impactantes. A briga de Harper com seu marido, inclusive, mostrada apenas em flashbacks (em cenas vividamente laranjas que vibram como um apocalipse), também nunca deixa o campo da superficialidade, mas é profundamente poderosa. A ideia de deixar os diálogos e avanços de Men neste plano faz sentido porque contribui ao sentimento de fábula que cerca a história, fazendo com que ela funcione de modo universal. 

Se Men pesa a mão em sua reta final, que concretiza o ciclo sem fim do abuso que cerca Harper, é porque Garland não resiste a um exagero - mas não há exatamente porque culpá-lo aqui. Ele cede à tentação de explicitar o símbolo em tela de uma vez por todas, porque se diverte com seu próprio universo, sua dinâmica absoluta e inescapável, sem sentir muito compromisso em entregar uma mensagem. Men é muito mais uma brincadeira com o terror, uma que sabe usar todos os recursos que tem em mãos maravilhosamente bem - e se o resultado final é algo enigmático, talvez seja porque realmente não há muito mais o que dizer sobre isso. 

Nota do Crítico

Men - Faces do Medo

Men

2022
Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Rory Kinnear, Jessie Buckley
Onde assistir:
Oferecido por

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