Caçadores de Emoção, o Velozes e Furiosos que deu certo, faz 30 anos

Créditos da imagem: 20th Century Fox/Divulgação

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Caçadores de Emoção, o Velozes e Furiosos que deu certo, faz 30 anos

As muitas semelhanças do filme de Kathryn Bigelow e Rob Cohen refletem suas diferenças

12.07.2021, às 10H00.
Atualizada em 12.07.2021, ÀS 11H52

Hoje, não é novidade, Velozes e Furiosos é praticamete uma saga de super-heróis. Mas lá em 2001, quando deu as caras nas telonas pela primeira vez, a franquia era muito mais simples. A ideia era colocar um jovem policial idealista dentro de uma gangue enraizada em um esporte radical, liderada por uma figura carismática, desenvolvendo o conflito ético e moral que surgiria com o comprometimento emocional do personagem para com aquelas pessoas. Exatamente a mesma estrutura que havia guiado Caçadores de Emoção (1991), duas décadas antes.

As semelhanças entre o filme de Rob Cohen e o de Kathryn Bigelow, que completa nesta segunda-feira (12) 30 anos de seu lançamento, não param por aí. Há o relacionamento amoroso proibido com uma testemunha, a descoberta do disfarce, a coerção a se tornar um criminoso e, claro, a falha em prender uma figura que se tornou tão querida, mesmo que a lei diga que isso deve ser feito. Tanto no primeiro Velozes e Furiosos, quanto em Caçadores de Emoção, as corridas ou o surfe são apenas pano de fundo para uma reflexão sobre os conceitos de bom e mal perante a ciência da lei, bem como a exatidão do sistema que usamos para separar criminosos de “pessoas de bem”.

A grande diferença entre os dois, entretanto, é que Caçadores de Emoção fez tudo que Velozes e Furiosos fez, e muito mais, muito antes. Bigelow, uma das maiores diretoras da história de Hollywood, construiu um filme icônico visualmente, com os assaltos a banco com máscaras de presidentes norte-americanos, as cenas de surfe douradas por um sol poente em contraluz e a crua representação da ação e violência protagonizadas igualmente por policiais e criminosos. Em tom, ela navegou do sonho adolescente de escritório na praia ao despertar para a realidade de um mundo duro, repleteo de injustiça e tons de cinza nos quais devemos navegar. E, tematicamente, transcendeu a premissa básica de equilíbrio entre certo e errado para abrir espaço para o filme propor discussões sobre gênero e sexualidade.

Não é que a relação entre Bryan O’Conner (Paul Walker) e Dominic Toretto (Vin Diesel) não tenha também o seu subtexto homoerótico, mas sim que Bigelow, diferente de Cohen, consegue usá-lo sem qualquer receio de alienar a parcela mais conservadora de seu público (ou simplesmente aquela que não quer buscar maiores interpretações além do entretenimento claro). Johnny Utah (Keanu Reeves) e Bhodi (Patrick Swayze) incendeiam a tela desde sua primeira interação, com a lente da cineasta captando cada parcela de admiração, cumplicidade, rivalidade e, por que não, ciúmes que flui entre os dois.

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20th Century Fox/Divulgação

Um uso tão bom da sexualidade como ferramenta narrativa, para forçar os limites de uma codependência entre personagens canonicamente heterossexuais, talvez só tenha sido visto novamente em Hannibal (2013-2015). Na série de TV, Bryan Fuller lançou mão de uma linguagem assumidamente romântica para ilustrar a ligação entre Will Graham (Hugh Dancy) e o psicopata canibal (Mads Mikkelsen), indo até além do que Bigelow fez em Caçadores graças aos claros paralelos entre literalmente comer alguém e a noção de posse e desejo que são despertadas por uma paixão. É uma arte delicada em tom e execução, que não caberia dentro da estética e proposta de Velozes, mas que, em sua ausência, mina a profundidade do filme.

O que mais depõe a favor de Caçadores de Emoção enquanto o filme maior entre os dois, entretanto, é sua resistência ao teste do tempo. Enquanto Velozes e Furiosos parece uma cápsula de referências bregas ao início dos anos 2000, com sua flagrante objetificação feminina, luzes neon e fetichização do gás NOS (que à época virou até adesivo de capa de caderno e porta de quarto de adolescentes), o filme de Bigelow é um raro exemplo de obra que retrata culturas e hábitos próprios a uma época, os anos 1990, sem nunca parecer datado. Hoje, mesmo depois de três décadas, não há grandes mudanças na cultura do surfe, na execução de roubos a bancos ou na contraposição entre uma vida segundo o "sistema" e uma à margem dele.

Nessas questões filosóficas sobre certo e errado, luta contra o sistema e não conformismo em meio aos rumos repetitivos da sociedade, o discurso de Bhodi também se faz muito mais memorável que o mantra familiar de Toretto. No final das contas, dá para entender porque um filme tornou-se um clássico solitário, impossível de ser recriado (o remake de 2015 passa longe de ser, em qualquer aspecto, memorável) e o outro teve de ser reinventado como uma fantasia bem-humorada de absurdos, para se manter relevante. No que diz respeito à trama e às pretensões do primeiro Velozes e Furiosos, foi Caçadores de Emoção que fez tudo certo.

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