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Filmes
Entrevista

Petra Costa confirma campanha para o Oscar com Apocalipse nos Trópicos

Omelete fala com a cineasta sobre religião na política e o grande momento do cinema brasileiro

Omelete
8 min de leitura
16.08.2025, às 06H00.
Petra Costa (Divulgação/Diego Bressani)

Créditos da imagem: Petra Costa (Divulgação/Diego Bressani)

Petra Costa está na torcida pelo cinema brasileiro no Oscar 2026. “É lindo ver tudo acontecendo de novo esse ano”, comenta ela sobre as perspectivas de estatueta para O Agente Secreto, O Último Azul e - é claro - o seu Apocalipse nos Trópicos.

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Em entrevista ao Omelete, a cineasta confirmou que a Netflix, responsável pela distribuição do seu longa ao redor do mundo, está montando uma campanha forte para o Oscar, visando repetir o sucesso alcançado com Democracia em Vertigem (2019): “Estou torcendo por todos os nossos filmes. E estou feliz que, apesar dos sucessivos golpes que o cinema brasileiro sofre na mão da direita e da extrema direita, ele continua tão vibrante”.

A seguir, Costa comenta sobre os temas políticos que permeiam seu documentário (especificamente, sobre o movimento religioso evangélico dentro das instituições do governo brasileiro), o grande momento do nosso cinema, e as reivindicações pelas quais os cineastas nacionais ainda lutam. Confira!

OMELETE: Oi, Petra, muito prazer! Bom falar contigo.

COSTA: Muito prazer, Caio.

OMELETE: Primeiro, eu queria saber como está sendo a divulgação desse filme - que deve estar a toda. Existe a vontade de impulsionar Apocalipse nos Trópicos para o Oscar, como aconteceu com o Democracia em Vertigem?

COSTA: Sim. A Netflix está fazendo um programa, uma timeline de campanha para o Oscar e para as outras premiações, que acontecem agora no segundo semestre.

OMELETE: Legal! E o Brasil tá vindo muito forte esse ano no Oscar, né? Tem o seu filme, tem O Agente Secreto, O Último Azul.... Eu queria saber como você tem visto esse período do cinema brasileiro ganhando mais prestígio internacional: Existe um aquecimento? Rola mais motivação para os artistas fazerem filmes?

COSTA: Bom, eu fiquei muito feliz com toda a repercussão fenomenal do Ainda Estou Aqui, tanto no Brasil quanto fora. A indicação ao Oscar, a premiação. E acho que tanto o público brasileiro ficou muito animado com essa possibilidade, de finalmente ganhar o Oscar, quanto grande parte do público americano e internacional ficou prestando atenção num filme brasileiro de ficção - algo que não acontecia com tanto impacto há muito tempo.

E é lindo ver isso acontecendo de novo esse ano. Eu tô curiosíssima para ver O Agente Secreto. Vi O Último Azul, porque eu estava no júri em Berlim, e gosto muito do Gabriel [Mascaro, diretor do longa]. Considero o Gabriel uma das vozes mais talentosas da minha geração. Então, estou torcendo por ambos os filmes. E estou feliz que, apesar dos sucessivos golpes que o cinema brasileiro sofre na mão da direita e da extrema direita, ele continua tão vibrante.

OMELETE: Bom, falando de Apocalipse nos Trópicos mais a fundo: o Silas Malafaia é meio que o personagem central do filme, né? Isso que eu notei ali. Para você, qual era a importância de revelar o papel dele dentro do movimento evangélico na polícia? E havia algum receio de talvez só estar abrindo mais um espaço para ele falar?

COSTA: Hmmm… bom, em nenhum momento do filme eu falo que o Silas Malafaia é a liderança mais importante do movimento evangélico na política. Ele é uma entre muitas lideranças evangélicas. E ele é, sem dúvida, o [pastor] mais próximo do [Jair] Bolsonaro, né, entre essas lideranças. A gente acabou escolhendo ele como protagonista tanto por isso quanto pelo fato de eu ter filmado ele meio sem querer ali durante o impeachment da Dilma [Rousseff], numa cena que aparece no começo desse filme. O material que tínhamos com ele era bom, porque a gente começou filmando com ele em 2020, e chegamos a abordar outras lideranças, mas ele foi se mostrando o mais relevante para a história que a gente queria contar.

Detalhe do pôster de Apocalipse nos Trópicos (Reprodução)
Detalhe do pôster de Apocalipse nos Trópicos (Reprodução)

O Apocalipse não é um tipo de filme enciclopédico, um filme com muitas vozes falantes, especialistas, que exaurem um tema. Se fosse assim, eu falaria de todas as lideranças evangélicas, do campo fundamentalista e do campo progressista. Mas é um filme que escolhe um recorte,foca em algumas pessoas. Foca no Malafaia, no Bolsonaro e no Lula. E foca nas movimentações, nas manifestações do povo brasileiro durante esses quatro anos. Então, necessariamente, a gente deixa de falar de muitas outras coisas. Mas o Malafaia é uma metonímia do que a gente queria explorar, que é esse casamento entre religião e política, e esse plano dominionista que vem tomando o Brasil de assalto através de uma ala do fundamentalismo evangélico. É um movimento que eu acho que é muito pouco estudado e apreciado para a relevância que ele tem.

OMELETE: Uma parte do seu filme que ficou muito comigo é a parte em que você diz, e estou parafraseando, que ficou surpresa com a importância da religião na vida de tanta gente no Brasil, em pleno 2025. Não é uma impressão só sua, é de muita gente - mas daí, ao mesmo tempo, a gente vê pesquisas que apontam o Brasil como um dos países mais religiosos do mundo. Eu queria te perguntar por que você acha que existe essa desconexão? 

COSTA: Pois é. Eu acho que não é só no Brasil que isso existe, né? O fundamentalismo religioso está em ascensão em grande parte do mundo. O que eu achava, e algumas outras pessoas achavam - enfim, o próprio movimento iluminista achava - era que a religião ia acabar, e que nos tornaríamos seres mais ateus, racionais. E eu acho que foi um erro de diagnóstico imenso, porque a jornada desse filme me faz concluir o quanto a religião é importante na vida de tanta gente, pelos mais diversos motivos. E que não vai deixar de ser.

Então, esse filme trouxe duas apreciações que parecem contraditórias. A primeira é da importância integral que a religião tem na vida de grande parte das pessoas, e a segunda é o quão fundamental é assegurar a separação entre Igreja e Estado, que inclusive foi criada por cristãos para proteger cristãos de perseguição política. É isso que está em risco no Brasil. O filme não se pressupõe a falar sobre os fiéis, e sobre toda a diversidade que existe dentro do campo evangélico. O filme pressupõe a falar sobre um risco específico que a gente sofre, que é  o fim da separação entre Igreja e Estado. 

E no final, se isso acontecer, as principais vítimas vão ser as pessoas de fé. A gente vê no filme um outro pastor que também é uma metonímia, o pastor Paulo Marcelo, que fala que a partir do momento que ele declarou que não ia apoiar o Bolsonaro, que ia apoiar o Lula, foi expulso da própria Igreja e perseguido - e segue sendo perseguido até hoje. Como ele, tem muitos outros pastores, lideranças, cantores gospel que eu conheci que estão sofrendo a mesma coisa.

OMELETE: Outro ponto que eu gosto muito no filme são as suas entrevistas com o Lula, porque eu acho que, não é sempre que a gente o vê falando de religião. É um assunto que ele não toca o tempo todo. 2026 vai ser o último ano desse mandato dele, então queria saber: como você avalia o jeito que ele lidou com essa questão do movimento evangélico na política e no eleitorado durante esse mandato?

COSTA: Eu acho que ele lidou de uma forma muito diferente de como lidou em 2002, por exemplo. Na época ele buscou fazer alianças muito mais fortes nesse movimento, né? E dessa vez acho que houve poucos gestos dele para se aproximar das lideranças evangélicas que tinham apoiado ele no passado - até porque ele já tinha sido abandonado por eles na campanha. Muitos dos que apoiaram ele no passado começaram a satanizá-lo. E também porque o Bolsonaro deu para muitas dessas lideranças algo que ninguém tinha dado: uma entrada livre ali ao Palácio do Planalto, cargos em ministérios, isenção de imposto. E então, se o Lula quisesse refazer essas alianças, ele teria que dobrar a aposta. Uma aposta que já tinha sido falha, né, em vários aspectos.

Uma coisa que o filme não fala, até porque não dá para falar de tudo, foi que o Lula realmente fez alianças com esse campo durante os seus dois mandatos originais. Deu para as igrejas evangélicas acesso a rápido, TV, ajudou muitas delas a entrar na África, em outros países da América Latina. O número de evangélicos no país aumentou 125% durante os governos do PT. Mas esse tipo de filme que eu me proponho a fazer, que é um filme que de ensaio e de cinema direto, que acompanha personagens ao longo de um tempo e busca estruturar a história quase como um filme de ficção, não um filme de especialistas falando sobre temas. Então isso ficou no pano de fundo.

OMELETE: Perfeito. A minha última pergunta é sobre regulação do streaming. O seu nome estava na carta dos cineastas para o governo, pedindo para que se aprove essa medida - que já tem um PL circulando no Congresso há anos. Queria saber direto de você: O que você pensa sobre esse tema, e porque essa regulação é importante? 

COSTA: Bom, eu acho que o cinema nacional precisa de mecanismos para se proteger e para se fortificar. Os streamings no mundo inteiro sofrem regulações que no Brasil ainda não sofrem - na França isso já existe, por exemplo. Eu acho que o movimento do capitalismo é esse, né? Quando ele é desregulado, acaba servindo à acumulação ilimitada do capital em detrimento daqueles que criam - dos operários, sejam das diversas áreas. Nós, enquanto operários do cinema, se não exigirmos regulamentação das diferentes forças de produção, vamos continuar tendo menos direitos. Então, a gente já conseguiu coisas tão incríveis no Brasil, como a cota de telas, por exemplo. A regulação do streaming cai no mesmo lugar.

OMELETE: Legal, muito obrigado, Petra. Parabéns pelo filme.

COSTA: Obrigada!

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