Icone Chippu

Alguém disse desconto? Com o Chippu você tem ofertas imperdíveis de streamings e Gift cards! Corre!

Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Icone Conheça Chippu Ver ofertas
Icone Fechar
Filmes
Crítica

Mais inquisitivo, Apocalipse nos Trópicos amadurece cinema de Petra Costa

Diretora ainda demonstra os mesmos pontos cegos, mas faz trabalho mais honesto

Omelete
3 min de leitura
14.07.2025, às 14H49.
Lula em cena de Apocalipse dos Trópicos (Reprodução)

Créditos da imagem: Lula em cena de Apocalipse dos Trópicos (Reprodução)

Democracia em Vertigem era um documentário sem perguntas. Indicado ao Oscar da sua categoria em 2020, o filme de Petra Costa fazia um relato contundente de um período de convulsão democrática no Brasil - completo com as repetições revoltadas que todo um país dividiu, mas que o mundo fora dele mal conhecia. Faz sentido que a Academia tenha abraçado a produção como documento de uma revolução desconhecida, mas para o público que já estava aqui, vivendo no olho do furacão, faltava a Democracia em Vertigem a vontade de ir além. Era cinema-resumo, cinema-recibo, sabia de tudo e não fazia perguntas que o levariam a descobrir mais. 

Daí a sensação de oportunidade perdida quando Costa e sua equipe tiveram a oportunidade de entrevistar Dilma Rousseff ou Lula para aquele filme, por exemplo. Democracia não sabia o que fazer com eles, não sabia perguntá-los nada que já não estivéssemos carecas de saber. Compare essas entrevistas com as aparições de Lula em Apocalipse nos Trópicos, e a diferença é clara. Aqui, Costa se aproxima do presidente com uma missão e uma curiosidade. Ela usa o acesso ao personagem como forma de investigar, direto na fonte que mais interessa, a sua pauta: a relação entre a fé cristã e a política brasileira.

Omelete Recomenda

Lula, documentadamente cristão, mas defensor engajado do estado laico, apresenta à cineasta a visão desanuviada de quem joga esse jogo há muito tempo, mas viu as regras mudarem. Costa, por sua vez, responde mergulhando fundo no como essas regras mudaram, lançando mão de uma série de recursos que tornam Apocalipse nos Trópicos uma sessão de cinema imensamente mais esclarecedora do que o filme anterior da diretora. A começar pela seleção de seu “protagonista”: Silas Malafaia.

O pastor e ativista político é identificado corretamente pelo filme como o pára-raios dessa tempestade que colocou a cristandade novamente no centro da política brasileira - e dá um espaço surpreendente à Costa para pintar um perfil completo dele. O crescimento da bancada evangélica no Congresso, o interesse renovado nas crenças religiosas dos candidatos políticos, o reaparecimento desses candidatos em eventos evangélicos… Apocalipse nos Trópicos postula que tudo foi cinicamente articulado ou, no mínimo, oportunamente aproveitado por Malafaia para expandir um plano de poder baseado em interpretações exageradas da Bíblia, particularmente do livro do Apocalipse, o clímax das Escrituras.

Ajuda que Costa sinta a necessidade de pesquisar nesse sentido. Na onipresente narração em off - marca registrada de todos os seus filmes, que não é abandonada aqui -, ela admite que, devido a uma criação laica, leu a Bíblia essencialmente pela primeira vez enquanto preparava Apocalipse nos Trópicos. A diretora emerge dessa pesquisa com passagens importantes que lê para o público, e depois resgata as origens e pilares do pensamento politicamente ativo que dominou o cristianismo ocidental, pintando uma figura clara dos objetivos e impulsos do movimento, ainda que não se dedique tanto aos efeitos. Um procedimento documental correto, e executado com bom olho para o entretenimento.

É claro que o filme não passa incólume de certas miopias, consequência direta do cinema rigidamente autocentrado que Costa clamou para si desde o começo da filmografia. É assim que escapam pelas rachaduras de uma investigação sincera algumas presunções que só poderiam vir de alguém em certa posição social, cercada de certos elementos culturais - salta à mente o momento em que a narradora nos diz algo nas linhas de “não fazia ideia de que a religião era tão importante para tanta gente em pleno século XXI. Pode ser que certa parte do público se identifique com o sentimento, mas ele não deixa de sublinhar um afastamento de classes que faz de Apocalipse nos Trópicos, em última instância, um olhar de fora para dentro. 

Costa faz, enfim, um filme inquisitivo e honesto, mas que insiste em contar a sua história apenas a partir do “eu” - e, por isso, ainda fica pobre de outras visões.

Nota do Crítico

Apocalipse nos Trópicos

2024
110 min
País: Brasil, EUA, Dinamarca
Direção: Petra Costa
Roteiro: Petra Costa, Tina Baz, Nels Bangerter, Alessandra Orofino, Moara Passoni, David Barker
Onde assistir:
Oferecido por

Comentários (0)

Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.

Sucesso

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.