Cena deletada de Batman

Créditos da imagem: Warner Bros./Reprodução

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Batman | Por que o Coringa de Barry Keoghan deveria ser mantido no Asilo Arkham

Dinâmica de O Silêncio dos Inocentes pode ser saída para não saturar vilão na nova saga

Omelete
5 min de leitura
25.03.2022, às 18H11.

As versões do Coringa em live-action são um ótimo exemplo de como filmes inspirados em quadrinhos cresceram exponencialmente, em demanda e oferta, nas últimas duas décadas. Entre Batman (1989) e Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008), passaram-se quase 20 anos sem que outro ator desafiasse o Palhaço Príncipe do Crime de Jack Nicholson no imaginário popular dos fãs de cinema. Enquanto isso, nos 14 anos que se seguiram ao trabalho genial de Heath Ledger como o “Joker”, somaram-se à lista de intérpretes do vilão os atores Jared Leto (em Esquadrão Suicida, de 2016), Joaquin Phoenix (em Coringa, de 2019) e, agora, Barry Keoghan (em Batman, de 2022).

É verdade que, segundo o diretor Matt Reeves, a mais nova versão do personagem ainda não o representa em seu estado absoluto. Ainda assim, o sorriso largo, as lacerações faciais que o desfiguram e os chumaços de cabelos verdes expostos na recém-revelada cena deletada dele em Batman não deixam dúvidas: o ensandecido palhaço da DC é uma realidade nesse novo universo cinematográfico. Terá sido uma introdução precipitada? Será que a franquia pode sofrer por conta de uma saturação do vilão, com tantos atores em tão pouco tempo abraçando o mesmo personagem? Considerando a reação bastante positiva dos fãs à revelação, parece que não. Mas há um caminho para garantir que essa estafa do público se torne ainda mais improvável: manter o Coringa no Asilo Arkham.

Se tem uma coisa que a cena deletada de Batman entre Robert Pattinson e Keoghan faz bem é emular as consultas tensas e sutilmente carregadas de tensões diversas que Jodie Foster e Anthony Hopkins protagonizam no clássico do horror O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme. Para a personagem da atriz, a necessidade de consultar um monstro na caçada por outro é um desafio sedutor e envolvente, pois se posiciona narrativamente como o observar de um precipício; uma atividade que, se estendida para além do que é objetivo, pode levar o observador a querer experimentar a queda. Não é à toa que, nos livros de Thomas Harris sobre o psicopata canibal Hannibal Lecter, Clarice Starling e seu perigoso objeto de estudo eventualmente se tornam amantes: há, desde o início, um delicado fio de empatia que liga ambos.

Um limiar que Batman e Coringa navegam há décadas nas HQs.

Da insistência em associar a relação dos dois a um casamento (“bodas de papel” é instrumentalizado pelo psicopata para incomodar o taciturno Homem-Morcego) à pergunta sobre excitação e violência, tudo que esse novo Coringa fala o posiciona como o oposto complementar ao Batman. Do lado do herói, a resistência em ceder aos gracejos do palhaço se equilibra com uma certa necessidade de agradá-lo, de emular seu pensamento para conseguir sua colaboração. E, de ambos os lados, parte a certeza que eles se conhecem e sentem entre eles uma força maior, que os puxa na mesma direção. Onde, no Homem-Morcego, há ordem, no Palhaço há caos. Onde, no Cruzado Encapuzado, há dor, no Príncipe há riso. E onde há ambos, há conflito, mas também confidência.

Essa dualidade bélica é um elemento muito forte e muito central para o Batman para ser deixada de lado em uma nova franquia que se propõe, desde o primeiro filme, a priorizar o desenvolvimento psicológico do personagem. Menos de três anos é, sim, pouco tempo para outro Coringa aparecer nos cinemas depois da marca deixada por Phoenix, mas você também há de concordar que não existe retrato completo da mente do Cavaleiro das Trevas sem seu eterno embate com o Príncipe Palhaço do Crime. O que resta é dosar bem isso, e o formato de interrogatórios apresentado aqui é perfeito para manter tudo sob controle.

Vinda a prometida série de TV do Asilo Arkham, na HBO Max, poderemos ver mais do Coringa de Keoghan no que tornou-se seu habitat natural, aparentemente, há ao menos um ano. Depois, com uma sequência para Batman, é de se esperar que o Cavaleiro das Trevas enfrente um inimigo que o desafie a ponto de mais uma vez fazê-lo sentir a pulsão de se reunir com o Palhaço para mais consultas. E, eventualmente, se Reeves realizar um terceiro filme, tudo pode culminar em um grande estudo das implicações dessas forças internas entre dois seres tão opostos; claro, trazendo uma conclusão que dê ao Coringa um maior destaque. Enquanto ainda for cedo demais para permiti-lo a posição de vilão, o maior inimigo do Homem-Morcego pode muito bem fazer as vezes de psicólogo, ao menos narrativamente falando.

Seria um caminho similar ao que fez o lendário roteirista Grant Morrison na HQ de 1989 Asilo Arkham: Uma Casa Séria em um Mundo Sério (imagem acima). Forçado a mergulhar nas entranhas do sanatório para resolver um caso, o Batman é recebido pelo Coringa com um aperto de bunda, galanteios baratos e uma série de provocações que servem para fortalecer a profundidade da relação tempestuosa entre os dois. Ainda assim, toda a conspiração da trama é muito maior e vai muito além do Palhaço Príncipe do Crime. Ele é o maior inimigo do Homem-Morcego, sim, mas ali ele é mais um abridor de portas para que outros inimigos tenham seu momento de brilhar, pontuando a tensão sem necessariamente monopolizar o andamento da narrativa. E é tudo, de fato, brilhante.

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