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Créditos da imagem: Warner Bros./Divulgação

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Legado de outros filmes e fidelidade à HQ: como Matt Reeves acertou no Batman

Origem do Cavaleiro das Trevas já está bem fixada no imaginário popular

Omelete
5 min de leitura
02.03.2022, às 17H18.
Atualizada em 02.03.2022, ÀS 23H42

[Spoilers de Batman à frente]

Com a publicação de mais e mais críticas de Batman em sites do mundo todo, há, até o momento, dois grandes consensos. O primeiro é que o longa de Matt Reeves corresponde às altas expectativas criadas desde o lançamento do teste de câmera que apresentou o Morcegão de Robert Pattinson, lá em 2020. O segundo é que, enfim, a faceta de “Melhor Detetive do Mundo” do Cavaleiro das Trevas foi mostrada explicitamente em um live-action. Quem já teve a chance de ver o novo filme, percebe rapidamente que 99% da construção desse lado investigativo do personagem é mérito do roteiro de Reeves e Peter Craig. O 1%, no entanto, pode ser creditado à sorte. No caso, a sorte de a história de origem do Batman já ter sido contada inúmeras vezes em diferentes mídias nas últimas três décadas.

Desde 1989, quando Tim Burton e Michael Keaton apresentaram sua versão do herói, até 2016, quando Zack Snyder escalou Ben Affleck como o Cavaleiro das Trevas, Thomas e Martha Wayne morreram quatro vezes só nos cinemas. Se incluirmos animações, séries e games, esse número dispara para a casa das dezenas, tamanha a presença do Cruzado Encapuzado na cultura pop. O fato de a tragédia da família Wayne e a ascensão do Batman estarem já marcados na memória do público permitiu que Reeves pulasse esses arcos e usasse as quase três horas de seu novo longa para explorar características do personagem que foram “ignoradas” em produções anteriores.

Em sequências até discretas, o diretor mostra o poder de investigação e dedução quase inigualáveis do Batman, que, mesmo quando não conta com a ajuda de apetrechos tecnológicos, decifra códigos, resolve charadas e capta detalhes que outros personagens ignoram ou perdem completamente. Essas capacidades investigativas de Bruce são alguns dos pilares de sua construção - e dos membros da bat-família em geral - e seu principal meio de combate ao crime nos quadrinhos, onde a porradaria costuma acontecer como parte de uma investigação meticulosa. Mesmo que todas as versões cinematográficas do Morcegão tenham seus méritos, a de 2022 é a primeira a realmente ir além dos bat-troços e do embate físico para explorar essa característica essencial do personagem.

Outro aspecto bem explorado por Reeves e Craig com o Batman de Pattinson é sua capacidade de pedir e receber ajuda quando se vê em um beco sem saída. Alfred (Andy Serkis), Selina (Zoë Kravitz), Gordon (Jeffrey Wright) e até mesmo um policial cujo nome nem ao menos é citado auxiliam o Cavaleiro das Trevas na solução de algumas pistas deixadas pelo Charada (Paul Dano) e a conectá-las aos crimes de Carmine Falcone (John Turturro) e seus capangas. Assim como nos quadrinhos, em que a grande bat-família apoia o Homem-Morcego quando ele é intelectualmente colocado contra a parede, a versão de Batman reconhece, mesmo que em silêncio, as próprias fraquezas e as virtudes dos aliados ele que tem à sua volta.

Todos podem ser salvos

Em determinado momento de Batman, Falcone relembra o dia que foi baleado no peito e salvo por Thomas Wayne (Luke Roberts) após pedir ajuda ao médico bilionário. A passagem, tirada diretamente de Batman: O Longo Dia das Bruxas, é importantíssima na formação de Bruce como herói, pois é quando ele ouve do pai que não se pode escolher quais vidas devem ser salvas. Indo na contramão de outras adaptações do Morcegão nas telonas, Batman mostra o personagem atraindo golpes, se jogando em fios elétricos expostos próximos à água e à frente de centenas de tiros para impedir mortes de civis, policiais e até capangas de vilões.

Por mais que esse ideal do Batman de colocar a vida humana acima de tudo pareça algo óbvio para se levar aos cinemas, é bom lembrar que Pattinson vive a primeira versão do herói sem sangue nas mãos. Depois de assistir Michael Keaton, Val Kilmer, George Clooney, Christian Bale e Ben Affleck matando ou deixando pessoas morrerem em seus filmes, o público vê, enfim, a regra máxima do Batman fazer sua estreia em uma adaptação cinematográfica, em mais uma tradução muito bem feita por Reeves.

Embora os filmes de Tim Burton, Joel Schumacher, Christopher Nolan e Zack Snyder sejam queridos pelo público, eles fizeram a decisão de retratar um Batman assassino e mais dependente de seus músculos e assessórios que de sua capacidade intelectual ímpar. Reeves, por outro lado, pôde usar seu primeiro filme com o herói para preencher lacunas deixadas por seus antecessores, criando assim o Batman mais próximo dos gibis até o momento.

O Batman do futuro

Produtor de Batman, Dylan Clark afirmou em entrevista recente que uma sequência do longa deve vir dentro de cinco anos. Caso mantenha o padrão deste reinício de franquia, Reeves pode muito bem aproveitar o desenvolvimento já bem estabelecido na mente e no coração dos fãs para trazer outras facetas do Batman que foram ou deixadas de lado ou mal aproveitadas no cinema até agora.

Mais do que um vigilante e um detetive, Bruce é pai, amante, filantropo e, mais importante, um guardião de Gotham. Novamente, Reeves conta aqui com a sorte de ter mais de 30 anos de exemplos do que fazer ou não fazer levar o universo do Cruzado Encapuzado para as telonas e deve, mais uma vez, se aproveitar desse legado para enriquecer sua Gotham.

Com o longa de 2022, o diretor deixou claro que sabe muito bem o que está fazendo ao levar o Batman para as telonas. Com a missão de entregar um dos melhores filmes do herói concluída, Reeves tem agora a faca e o queijo na mão para transformar seu Bruce Wayne na versão definitiva do Maior Detetive do Mundo.

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