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Supermax | Segundo episódio tem trama ansiosa e confusa

É um reality show, mas será que alguém está vendo?

28.09.2016, às 15H18.

O primeiro episódio de Supermax trouxe ao público um conceito novo de reality show. Ex-condenados foram confinados num presídio e durante uma dura rotina de convivência, passariam por jogos e eliminações, até que apenas um sobraria e faturaria o prêmio de 2 milhões. O problema todo do conceito está justamente na palavra “condenados”, que coloca sobre Supermax um tom de inverossimilhança que é bastante perigoso, afinal de contas, o público brasileiro realmente aceitaria a existência de uma competição que premia assassinos?

O reality show foi apresentado com eficiência na estreia. Contudo, nessa segunda semana, os questionamentos acerca da iniciativa desse programa aumentam justamente porque passamos a conhecer um pouco sobre os “prisioneiros”. Nossa flexibilidade de fé cênica é suficientemente forte para suportar os desdobramentos da ficção, desde que ela respeite diretrizes básicas que a tornem parceiras da realidade e não simples contestadoras. A escolha de Pedro Bial para apresentar Supermax remete a Globo imediatamente e isso traz consigo uma série de códigos de conduta e moral. Talvez, se o reality fosse apresentado por um desconhecido, o público aceitasse melhor a ideia de um grupo de condenados como candidatos a premiações.

Foi um episódio ligeiramente confuso, cheio de mini flashbacks ansiosos por nos tornar próximos dos “prisioneiros”. Para uma segunda semana é a coisa correta a se fazer, mas a desorganização desses “cortes do passado” bagunçou o resultado final e acabou sendo rasteira. São 12 personagens para abordar e eles não precisam ser apresentados todos de uma vez. Diálogos curtos demais, flashes do passado hiperpicotados, que  deixam uma sensação de que se fala pouco porque não se tem muito a dizer. As histórias daquelas pessoas estão sempre envolvidas por uma névoa que não sabemos ainda se é proposital.

A porção Lost dessa semana teria ganhado mais se tivesse focado especificamente em Sabrina (Cleo Pires) e Artur (Rui Ricardo Diaz), responsáveis pelos movimentos mais cabais da trama. Ele, depois que conseguiu manipular a regra da primeira prova e ganhou a liderança, tornou-se relevante para a narrativa. Fez o próprio jogo e aproveitou para usá-lo no intuito de atingir Timóteo (Mario César Camargo), seu inimigo maior, por razões que ainda desconhecemos completamente.

A forma dos realities preserva muito os atritos causados por privilégios segmentados. Porém, de todas as pequenas menções às histórias de vários deles, ficou marcado o momento em que Sabrina convence Artur a não deixar Timóteo comer. Logo depois disso, ela planta dúvidas sobre a relação de Sérgio (Erom Cordeiro) e Bruna (Mariana Ximenes). A interpretação monocórdia de Pires poderia ganhar muito se a personagem dela vestisse de verdade a carapuça da vilã típica dos realities de convivência. Porém, como vem parecendo semana a semana, Supermax mais propõe que executa.

Um desses outros “flertes” foi na cena em que Dante (Ravel Andrade) conta o porquê de ter um pentagrama tatuado no pescoço. Ele fala do pai ter se envolvido com magia negra e na mesma proporção em que a informação é dada de modo superficial, o flashback que a ilustra tem objetivos menos relevantes ainda. Ao invés de optar por deixar que o público conheça aquelas pessoas pouco a pouco, a série parece deveras ansiosa para que façamos as conexões logo de cara. O que acontece, mas não se tem muita certeza da eficiência desse processo: não seria muito cedo para que soubéssemos que Dante e seu pentagrama terão a ver com o mistério?

Ao que tudo indica, o reality show pode ter sido o começo, mas as dúvidas sobre se alguém o está assistindo são inúmeras. Até esse ponto, a ausência de apresentação, de interferências claras da produção, pode parecer só parte do jogo. O ganho que encerrou o episódio nos fez acreditar que Pedro Bial pode muito bem surgir novamente naquela TV, embora a maior possibilidade seja de que na semana que vem, os corredores da prisão se tornem cada vez mais sombrios e anárquicos.