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Entrevista

Figurino de cangaceiro em Guerreiros do Sol pesava mais de 20 kg, conta ator

Kelner Macêdo falou ao Omelete sobre a novela e seu próximo projeto, Tremembé

9 min de leitura
07.07.2025, às 09H07.

Créditos da imagem: Kelner Macêdo em Guerreiros do Sol (Reprodução)

Kelner Macêdo sabe que vai guardar algumas memórias do set de Guerreiros do Sol pelo resto da vida. O ator, que interpreta Zé do Bode na novela do Globoplay, contou em entrevista exclusiva ao Omelete que as filmagens em Piranhas (Alagoas), às margens do rio São Francisco, foram um momento marcante: “A gente viveu ali em cenários que realmente os cangaceiros viveram, e isso foi muito especial, porque são paisagens deslumbrantes do Nordeste e lugares que eu particularmente nunca tinha ido”.

Na conversa a seguir, Macêdo fala também das dificuldades físicas de interpretar um cangaceiro - os figurinos elaborados da produção do Globoplay chegavam a pesar mais de 20 quilos -, revela um pouco de sua preparação para viver Christian Cravinhos na ainda inédita série Tremembé (do Prime Video), e muito mais. Confira!

OMELETE: Bom, queria começar dizendo que sou sou muito fã do seu trabalho em Corpo Elétrico, um filme que amo de paixão. Quando você olha para trás, como vê o tempo dessa produção? Acha que ela teve uma importância no nosso cinema LGBTQIAPN+?

MACÊDO: Primeiro, muito obrigado. É um filme que eu adoro também, tenho muito orgulho de ter começado no cinema brasileiro, de fato mesmo, com ele. É um personagem que tem muito de mim, um processo que partiu muito de uma aproximação de mim mesmo, muito mais até do que uma composição de personagem. O Marcelo [Caetano, diretor e roteirista de Corpo Elétrico] trabalhava comigo essa aproximação, então não tem muitas fronteiras entre eu mesmo e o Elias, pelo menos naquela época. Tem muita coisa da minha vida ali. E acho que sim, o filme abriu muitas portas para narrativas LGBTQIAPN+ brasileiras poderem vir depois.

O Marcelo tem um olhar muito sensível sobre os nossos corpos. Quando ele escolhe abolir os conflitos, escolhe também tratar esses personagens com muito carinho. Digo abolir os conflitos no sentido de não representar homofobia no filme, não representar violência… ele vai só no afeto. É um filme super importante para a minha história, foi o filme que me lançou, e um filme que eu vejo com cada vez mais carinho conforme o tempo passa. Ele é meio atemporal, não tá muito marcado no tempo em que foi feito, então acho que tem envelhecido bem também. Ano que vem vai fazer 10 anos já que a gente filmou, já. Corpo Elétrico foi um presente na minha vida, é um filme que eu realmente amo muito - sempre falo sobre, sempre indico. Quase 10 anos se passaram e eu continuo falando desse filme, me orgulhando dele, então tem uma importância muito grande para mim.

OMELETE: Agora, Guerreiros do Sol tem um aspecto que me parece raro na sua carreira: a ambientação de época. Como foi viver naqueles figurinos e cenários essa realidade do cangaço?

MACÊDO: Primeiro que foi um presente poder viajar pro sertão pra filmar, né? Acho que a gente viveu ali em cenários que realmente os cangaceiros viveram, e isso foi muito especial, porque são paisagens deslumbrantes do Nordeste e lugares que eu particularmente nunca tinha ido. Piranha [em Alagoas], por exemplo - eu nunca tinha diso, e foi muito lindo poder conhecer e filmar ali às margens do rio São Francisco, naquelas paisagens paradisíacas, imensas. Eu acho que isso traz muita verdade, organicidade para a obra, e acho que ajuda muito na nossa composição também, poder mergulhar nesses cenários reais. 

[Para viver um cangaceiro] tem um trabalho muito específico de, primeiro, condicionamento físico - porque são 12 horas por dia, seis dias por semana. O figurino, com as armas e tudo que a gente carregava, pesava uns 20 quilos ou mais. Então imagina, né, naquele sol escaldante do sertão, carregando 25 quilos durante 12 horas por dia. Isso também já dava uma corporeidade pra gente, né? Além de toda a composição do personagem, acho que esses elementos iam ajudando a gente encontrar o caminho desses personagens. Então foi muito especial. Acho que a parte gravada no Nordeste, no sertão mesmo, foi a que mais me marcou. Tenho imagens dessa viagem que eu não vou esquecer nunca.

OMELETE: Guerreiros também faz parte de uma tendência bem quente de agora, que é a novela no streaming. Como você acha que esse formato chega para complementar a nossa tradição de novela? É uma evolução natural?

MACÊDO: Novela é a nossa prata da casa, né? Ninguém faz novela como o Brasil faz. E acho que tem uma adaptação também, do tempo, das necessidades desse tempo de agora, que é mais rápido mesmo. As pessoas não estão mais tão acostumadas a acompanhar uma novela imensa, de 200 e não sei quantos capítulos, do início até o fim. Então, acho que foi tomada uma decisão de reduzir esse formato para menos episódios, o que também permite condensar a história ali mesmo, sem tanta encheção de linguiça também. Eu acho que, às vezes, quando uma obra é muito grande, tem muitos buracos ali no meio, e acho que o streaming soluciona isso, condensando as histórias em 45 capítulos e contando o que é realmente importante dessas histórias. Então sim, é uma evolução necessária, uma necessidade desse tempo. 

Eu, particularmente, adoro esse formato, que é menor mesmo, e você vai ficando ansioso para os capítulos da próxima semana, me pega muito. É muito mais parecido com consumir série, né? E acho que hoje em dia é o que eu mais consumo também.

OMELETE: Um dos seus próximos projetos é Tremembé, onde você vai viver o Cristian Cravinhos. Como é a preparação para um papel assim, e você teve a possibilidade de conhecê-lo?

MACÊDO: Vamos começar com essa pergunta sobre a possibilidade de conhecê-lo. Não foi algo que fizemos, e foi uma escolha nossa também não encontrar essas pessoas - porque a gente tá fazendo uma obra ficcional, né? Ainda que ela seja baseada na realidade, em coisas que aconteceram, é uma obra ficcional. Então tem um espaço criativo aí que foi muito preservado durante o processo. Claro que tinha um trabalho de aproximação, já que são figuras reais, e figuras que estão muito no nosso imaginário por terem participado de crimes midiáticos no Brasil, muito fortes na nossa memória. Mas essa aproximação ocorreu tentando preservar o máximo possível do meu espaço criativo. E por isso também eu não vi os filmes sobre o caso Von Richthofen [A Menina que Matou os Pais, O Menino Que Matou Meus Pais e A Confissão], preferi não ver a composição do Allan [Souza Lima, que viveu Christian nos longas], para ficar num registro mais fresco e numa criação mais minha mesmo, sem sofrer influências de como que outros atores já fizeram esse personagem.

Foi um processo bem complexo, bem profundo para mim. Acho que o maior desafio inicial era conseguir não julgar, né? Porque já que é um crime conhecido, eu ouvi muito falar sobre isso na época, passei anos ouvindo falar sobre isso, então a gente tem realmente um pré-conceito estabelecido ali. Não dá para fugir, é um pensamento que existe. Então o trabalho inicial foi sair desse pré-conceito e mergulhar nessas camadas que a dramaturgia trazia. Porque, no caso da série, a gente vai acompanhar o dia a dia do Tremembé, que é a penitenciária que reúne esses criminosos de grandes casos midiáticos brasileiros. São figuras muito específicas e complexas convivendo ali dentro, e a gente não reduz a pessoa ao crime. Todo mundo que está preso ali cometeu um crime, mas está pagando por ele. A gente olha para a pessoa sem romantizar, é claro, mas indo além do crime. Quem são elas dentro daquele microcosmo, existindo, convivendo, quais as relações interpessoais entre esses personagens?

Foi uma preparação bem forte para mim. Primeiro, tive que treinar muito para chegar no corpo do Cristian na época, giz um trabalho intenso de preparação vocal com uma fonoaudióloga para poder desenvolver esse sotaque paulistano. Foi um trabalho complexo, mas que também me deu muito, muito repertório para o futuro. Foi um puta desafio, né? E a minha relação com o Felipe Simas, que faz o Daniel Cravinhos, me deu muita base para a criação desse personagem. Em breve a gente vai poder falar um pouco mais sobre isso, mas a relação deles é uma coisa que é muito forte ali dentro. Em um espaço de muita falta, muitos déficits, muita dureza, tem esse lugar desse afeto, dessa fraternidade, dessa irmandade. Eles ficaram presos juntos por 20 anos, dividindo a mesma cela. Então, era um espaço de fortaleza para os dois, também, um ajudava o outro a sobreviver dia a dia. O meu trabalho junto com o Felipe Simas me deu muito desse personagem.

OMELETE: De qualquer forma, essa coisa do true crime é muito forte no mundo todo. Qual é a sua relação com o gênero? E o que faz um bom true crime pra você?

MACÊDO: Olha, eu acho que o que faz um bom true crime é desenvolvimento de personagem, complexidade, fazer com que a gente se interesse em adentrar o universo dele, na cabeça dele - entender ali as motivações, os desejos, as angústias, as frustrações, se aproximar da pessoa mesmo. E eu adoro o gênero. Acho que esse sucesso que o true crime faz deve ser por conta do quanto a gente, enquanto humanos, temos impulsos violentos que a gente acaba guardando para poder conviver em sociedade, em harmonia ali. E assistir esse tipo de conteúdo é poder entrar em contato com essas energias também, que a gente às vezes não exerce… Mas os impulsos violentos continuam ali. Como a gente controla eles para viver em sociedade, acho que nos momentos que a gente assiste isso, a gente também tá lidando com eles. E acho que por isso as pessoas se interessam tanto, as pessoas querem ver, querem ouvir sobre isso, querem consumir. Eu também gosto, adoro.

OMELETE: Por falar em streaming, hoje se fala muito em regulação do streaming. Tem uma PL circulando no Congresso e a indústria tem se posicionado. Como ator inserido nesse ramo, você acha que é um passo importante?

MACÊDO: Eu acho que é um passo importante, sim. Acho que outros países já estão muito à frente da gente nesse quesito, já regulamentaram o streaming, e acho que fazer isso é um avanço também para toda uma cadeia de produção, que precisa também ser mais valorizada dentro do Brasil - principalmente com esses streamings que vêm de fora, se instalam aqui, produzem aqui, mas a gente não recebe, por exemplo, dinheiro por exibição e uso de imagem. Acho que é um avanço para toda uma categoria, e acho de extrema importância que isso seja regulamentado o quanto antes, porque acho que é uma valorização do nosso trabalho, enquanto indústria.