Cena de What If...?, da Marvel (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

Apesar de momentos de brilhantismo, What If…? termina como oportunidade perdida

Série de animação que prometia quebrar moldes do MCU acabou caindo em história previsível

06.10.2021, às 10H56.
Atualizada em 06.10.2021, ÀS 12H52

What If…? tinha tudo para ser um momento de quebra importante no MCU, por vários motivos. Primeiro, porque o Marvel Studios já tinha demonstrado disposição para subverter sutilmente a sua fórmula em WandaVision e Loki, se aproveitando de formatos televisivos (e da própria liberdade desta mídia) para trazer uma nova perspectiva temática para as histórias de heroísmo que estabeleceram o universo compartilhado como a maior franquia do planeta.

Segundo, porque What If…? é uma série de animação antológica que explora universos alternativos que, por definição, quebram com o esperado e conhecido do MCU - ou pelo menos foi isso que nos foi prometido. A ideia de explorar histórias contidas, isoladas, dentro de um grande universo narrativo costuma dar aos criadores envolvidos uma liberdade maior, e pode fazer nascer alguns dos capítulos mais fascinantes de qualquer franquia, como a recente Star Wars: Visions pode atestar.

Acontece que What If…?, na maior parte de sua primeira temporada,não poderia ter sido mais diferente do que o prometido. A evidência mais óbvia está nos créditos: a série é totalmente escrita por dois roteiristas (A.C. Bradley e Matthew Chauncey), e totalmente dirigida por só um cineasta (Bryan Andrews), o que significa que os episódios têm, com pequenas variações de tom, a mesma elaboração visual e narrativa, o mesmo ponto de vista sobre o universo Marvel.

Talvez por conta dessa concentração de decisões criativas nas mãos de uma única (e reduzida) equipe, o formato antológico de What If…? vai se esfarelando com o passar da temporada. Primeiro, episódios supostamente contidos terminam em ganchos para continuação, e depois dicas sutis de conexão entre as histórias começam a surgir, até explodirem em um combo de pré-finale e finale que repete a fórmula de Guerra Infinita e Ultimato, reunindo os heróis para lutar contra um vilão empoderado pelas Joias do Infinito.

Não há nada de inerentemente errado nessa fórmula, é claro. Ela existia antes do MCU e vai continuar existindo depois dele, porque funciona e traz reflexões perenemente oportunas sobre, por exemplo, o conflito entre pragmatismo e idealismo, e a comunalidade humana que transforma indivíduos díspares em um time. Bradley, responsável pelo finale, sabe disso, e costura com habilidade os arcos de suas duas protagonistas - a Capitã Carter e a Viúva Negra - para elevar a história que a temporada conta.

O que falta para What If…? empolgar mesmo é o senso de aventura, de transformação, que sua própria premissa presumia. Há momentos em que essa capacidade de variação brilha, especificamente nos episódios dedicados ao Doutor Estranho (1x04) e a T’Challa (1x02), que constróem novas versões críveis, interessantes, divertidas e (acima de tudo) tematicamente significativas dos personagens e mundos do MCU.

Nesses lampejos de liberdade e brilhantismo, a série animada do Disney+ faz jus aos talentos envolvidos nela (o episódio de Strange, especialmente, é um espetáculo do designer de produção Paul Lasaine), e se faz ouvir como uma voz importante dentro da franquia e do ambiente cultural liderado por ela. Na maior parte do tempo, no entanto, What If…? é só mais uma história previsível, que ganha ou perde o espectador pela força do carisma dos personagens em tela a cada cena.

Nota do Crítico
Regular