Esme Creed-Miles em cena de Hanna (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

Hanna termina de forma tocante e inteligente sua história de amadurecimento

David Farr amarra todas as pontas temáticas de sua criação em temporada de seis episódios

26.11.2021, às 15H35.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H47

Está tudo no rosto de Esme Creed-Miles. Nos momentos finais de Hanna, que soltou a sua última temporada de seis episódios no Amazon Prime Video na quarta-feira (24), o roteirista David Farr e a diretora Anca Miruna Lazarescu trocam a verborragia pelo silêncio e simplesmente observam a sua protagonista - ali, na atuação delicada da britânica de 21 anos, é possível ler tudo o que essa jornada de amadurecimento significou, todo o alívio de chegar ao fim, mas também todo o arrependimento que ela acumulou pelo caminho. Se essa não é a marca de uma história bem contada, eu não sei qual é.

O carinho de Farr por Hanna, a personagem e a série, é óbvio e compreensível. Ele criou esse universo ficcional há mais de uma década, quando escreveu a primeira versão do que viria a se tornar o longa-metragem Hanna em 2011, dirigido por Joe Wright como uma mistura de conto de fadas e épico de ação. Foi ao ressuscitar a premissa para a TV, no entanto, que Farr conseguiu contar a história que Hanna nasceu para ser: um thriller de espionagem internacional estiloso na superfície, mas com coração de drama adolescente intimista cheio de ideias sobre como é crescer no século XXI.

Para quem não sabe, a série conta a história da personagem título (Creed-Miles), parte desde o nascimento de um programa secreto que injeta DNA de lobo em meninas e as treina para se tornarem assassinas letais a serviço do governo. Nesta última leva de episódios, ela se junta a Marissa Wiegler (Mireille Enos) e Carmichael (Dermot Mulroney), anteriormente seus rivais, para tentar derrubar o tal programa de dentro para fora.

A estrutura mais enxuta (as temporadas anteriores tiveram oito capítulos, ao invés de seis) deste último ano de Hanna faz bem a Farr e sua equipe de roteiristas. Nesse formato, eles podem trocar o suspense banho-maria meio alienante que caracterizou o miolo das duas primeiras temporadas pela brutalidade eficiente de cenas de ação que sempre estão levando a trama adiante, ao invés de parecerem concessões ao público que apertou play esperando adrenalina.

Enquanto isso, o trio de diretoras reunido aqui (Anca Lazarescu, Sacha Polak e Weronika Tofilska) reimagina o mundo de Hanna como um mundo esparso, inóspito para o desenvolvimento humano da protagonista ou daqueles à sua volta. Ambientada em apartamentos dilapidados, ruas desertas e prédios abandonados às margens da Europa turística que outras séries e filmes mostram, esta última temporada desenvolve uma sensibilidade observadora, quase poética, mesmo em meio à violência que por vezes irrompe na trama.

A tensão fundamental entre esse caráter contemplativo natural de Hanna e seu status como série de ação só a torna mais fascinante, ao invés de transformá-la em uma obra indecisa ou sem personalidade. Trazendo à tona as entrelinhas políticas de conflito geracional que sempre estiveram presentes na própria premissa da série, e elaborando com delicadeza os efeitos de uma vida mergulhada em violência e em sistemas de poder (e afeto) artificiais em cada um de seus personagens, a terceira temporada desvela o potencial gigantesco que Hanna sempre teve.

Esta é, sim, uma história que esperou mais de uma década para ser contada - mas parece que seu final não chegou nem um segundo atrasado.

Nota do Crítico
Excelente!