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Entrevista

Série de Amanda Knox examina “a verdade em tempos de fake news”

Produção do Disney+ resgata história de estudante presa injustamente por assassinato

6 min de leitura
21.08.2025, às 06H00.

Créditos da imagem: Grace Van Patten em A História Distorcida de Amanda Knox (Reprodução)

O que falta revelar sobre Amanda Knox? Desde 2007, quando a jovem estadunidense foi presa na Itália, sob a acusação falsa de matar a colega de quarto Meredith Kercher, a impressão é que a história dela já foi contada de todos os ângulos possíveis. Knox escreveu sobre sua experiência, a cobertura jornalística do caso foi exaustiva, e o documentário Amanda Knox (2016) deu uma visão bastante integral dos acontecimentos.

E, ainda assim, A História Distorcida de Amanda Knox parece algo novo. Escalando Grace Van Patten (Me Conte Mentiras) na pele da personagem título, com Sharon Horgan (Mal de Família) como sua mãe Edda e John Hoogenakker (Jack Ryan) como o pai Curt, a série do Disney+ não só é a primeira dramatização do caso, como também conta com a própria Knox como produtora, o que garante uma visão de dentro para fora do calvário da personagem.

Ademais, como contou a showrunner KJ Steinberg (This is Us) ao Omelete, a história de Amanda é mais atual do que nunca. Confira a seguir a entrevista com a roteirista e com Hoogenakker - os primeiros episódios de A História Distorcida já estão disponíveis no Disney+, com capítulos seguintes previstos para estreia semanal, sempre às quartas-feiras.

OMELETE: Olá, John e KJ! Eu sou o Caio, do Omelete, no Brasil. Prazer em conhecê-los.

HOOGENAKKER: Prazer em conhecê-lo, Caio.

STEINBERG: Oi, Caio!

OMELETE: Bom, não faltam materiais na mídia sobre a história da Amanda - cobertura jornalística, livros, documentários. Então, para vocês, o que diferencia essa nova série das outras versões?

HOOGENAKKER: Esta série se esforça muito para dar uma ideia de quem é a jovem Amanda Knox, o que a leva para a Itália nesta fase de sua vida… Uma infância interrompida por forças fora de seu controle. É a história de um indivíduo que perde o controle de sua própria narrativa, e que então precisa trabalhar incansavelmente, por décadas, para se inocentar não apenas perante o sistema judicial italiano, mas também na mente de todas as pessoas que leram as informações iniciais sobre o caso, no mundo todo.

O que eu acho que é verdadeiramente especial nesta série é o esforço que ela faz para humanizar todas as partes envolvidas. A ideia de que todos, em cada faceta da história, chegam se vendo como o centro da narrativa, em sua própria perspectiva. Ninguém se vê como o vilão. E acho que isso resulta em uma série realmente fascinante e humanizadora.

STEINBERG: Obrigada pela pergunta, Caio. Eu acho que era um imperativo, para mim, examinar a verdade. Eu acho que estamos em um momento em que, como sociedade e cultura, estamos traficando muita desinformação. Em nosso discurso cultural e político, as pessoas parecem estar tão entrincheiradas em suas crenças que se tornam irredutíveis a fatos e novas evidências. E o que eu queria fazer com esta série é explorar, através de uma história que as pessoas pensam que conhecem, o tema da anatomia do preconceito.

A História Distorcida de Amanda Knox (Reprodução)

Esta não é uma série sobre ‘quem matou?’, é sobre ‘como aconteceu?’ e ‘por que aconteceu?’. O ‘como’ sendo: como uma garota inocente de 20 anos, de Seattle, foi parar na Itália, sendo presa e condenada por um crime que não cometeu? E o ‘por que’: por que, 15 anos depois daquele crime, e mesmo hoje em dia, ela ainda está em uma luta para se libertar? Na verdade, isso é muito diferente de qualquer coisa que eu já vi no gênero. E o fato é que temos acesso à própria Amanda Knox, que é produtora executiva e parceira criativa na série, o que já confere uma perspectiva diferente à história.

OMELETE: Você diz que esta não é uma série de ‘quem matou?’ - mas, de qualquer forma, esse tipo de série baseada em crimes reais é muito popular hoje em dia. O que você acha que faz um true crime ser verdadeiramente bom? Como se pode fazê-la de forma responsável, ao mesmo tempo em que se cria algo que seja envolvente?

STEINBERG: Honestamente, eu acho que o mais importante é se basear na verdade, e nunca tirar os olhos da sua Estrela do Norte - para nós, foi a anatomia do preconceito. O preconceito é inerentemente uma coisa muito humana. Para tornar esta série diferente, envolvente para um público mais inteligente, precisávamos dar dimensão aos personagens, dar a cada um deles um contexto do qual eles vieram, e através do qual pudéssemos entendê-los em qualquer cena em que estivessem envolvidos. Uma cena de crime, uma cena de tribunal ou uma cena familiar. 

Todo personagem tem esse contexto, certo? Uma base de crença, uma lente através da qual ele vê o mundo. Para criar o projeto mais envolvente e dimensional possível, tentamos garantir que todos os nossos personagens tivessem esse tipo de história e ponto de vista.

OMELETE: Bom, ao abordar este tipo de projeto, é claro que escalar Amanda é a primeira grande coisa a se fazer… Então, o que vocês estavam procurando nessa atriz, e de que forma decidiram que Grace Van Patten era a pessoa certa para o papel?

STEINBERG: Grace Van Patten é um talento extraordinário. Não há um único momento desonesto em nenhuma de suas performances. Ela traz profundidade, excentricidade e capricho, mas também traz seriedade quando necessário. Sua amplitude emocional é extraordinária - como você testemunha ao assistir a essa série, ela é simplesmente brilhante, desde os momentos de inocência no início até a mais profunda depressão que a personagem enfrenta na prisão, e a esperança do final. Ela navega essa onda de forma primorosa.

OMELETE: John, nas versões dessa história que tivemos no passado, o ponto de vista do Curt não foi frequentemente considerado - nós não sabemos muito sobre ele. O que você aprendeu sobre ele nesse projeto? E como você trouxe isso para a tela?

HOOGENAKKER: Nós todos tivemos muita sorte, obviamente, de ter acesso à pessoa em quem a história se foca. Particularmente, me senti muito sortudo por ter acesso à Amanda, e ela estava completamente aberta e disposta a compartilhar. Comecei com a autobiografia dela, de 2012, intitulada Waiting to Be Heard [ainda inédito no Brasil, título traduzido livremente como Esperando para Ser Ouvida], e de lá consegui extrair muitos traços de personalidade de Curt. Mas também consegui obter detalhes pessoais diretamente dela, e aprendi sobre como ele foi a força que começou a engajar a mídia de uma forma diferente.

Em vez de fugir de todas as coisas horríveis que estavam sendo ditas sobre sua filha, ele meio que parou, respirou e disse: ‘Essa não é a pessoa que ela é. Precisamos de fato mostrar ao mundo que a Amanda tem uma família que a ama, e que ela não é capaz das coisas das quais está sendo acusada de fazer’. Então, isso foi uma coisa enorme que o Curt trouxe para a discussão - ele foi parte importante daquela comunidade de pessoas que a ajudaram a passar por aquele momento horrível.

OMELETE: Certo! Bem, muito obrigado, pessoal, e parabéns pela série.

HOOGENAKKER: Muito obrigado, Caio. Prazer em conhecê-lo.

STEINBERG: Obrigada!

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