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Artigo

Elite retorna com novos personagens, suspense e erotismo

Nova temporada começa apostando na mesma fórmula criminal e erótica

14.06.2021, às 16H34.
Atualizada em 14.06.2021, ÀS 17H11

dissemos isso aqui, mas vale uma reiteração: para que Elite seja como How to Get Away With Murder, só falta mesmo Viola Davis. Se na primeira e segunda temporada a série ainda tentava se manter no terreno das produções adolescentes, da terceira para cá não é mais possível enquadrá-la nessa categoria (e os quatro episódios da nova temporada que já assistimos deixam isso bastante evidente). A classificação etária já é de 18 anos, a escola existe, está lá, mas ninguém estuda; e os enredos são sexualizados até o limite do explícito, com um pequeno agravante: as tramas são construídas em torno de situações que possam ser exploradas eroticamente.

Manter esse erotismo como base de uma história é totalmente natural. De fato, Elite não pode mais se comunicar com um público REALMENTE adolescente, mas pode se manter no radar de quem já está acostumado com essa pitada afrodisíaca. Em títulos como Skins, por exemplo, não há uma preocupação em suavizar nada. Mesmo em Sex Education algumas coisas são bastante diretas, embora quase sempre ligadas à comédia. A diferença está na gênese do recurso. Nada numa boa dramaturgia pode ser usado para disfarçar problemas de roteiro; e isso, infelizmente, é o que Elite costuma fazer.

A outra ponta é a que sempre começa temporadas com um novo crime. Nada aproxima a série de How To Get Away With Murder mais que isso, sobretudo, porque, assim como na história de Viola Davis, os crimes são provocados por personagens ligados à trama central e a verdade sobre motivações é, também, obstruída por eles. Para chegar até esse ponto, pouco importa a virada rocambolesca que eles farão no caminho. Um personagem pode ter evoluído muito no decorrer da temporada e, de súbito, só para “surpreender”, ser eleito o assassino.

Juntando esse dois fatores --o crime e o sexo-- o que sobra é uma série que se cristalizou na sua forma. As pistas do que acontecerá no final da temporada são espalhadas em momentos específicos dos episódios e em torno disso estão as relações sexuais entre os personagens. E é importante deixar claro que elas são isso mesmo: relações sexuais. Os possíveis afetos entre eles são esmagados pela constante presença do erotismo e pela acachapante necessidade de sublinhar o drama, não dando espaço para alívios cômicos ou para a ternura. Todos são infelizes, todos vivem vidas miseráveis e não há luz no fim do túnel, porque você já sabe que alguém morre no final.

Frutas Podres

Embora todos os atores pareçam estar chegando aos 30 ainda no Ensino Médio, a produção da série conseguiu abrir mão de alguns personagens e precisou, com isso, preencher as lacunas. A escola, então, mudou de diretor e o severo Benjamin (Diego Martin) chegou até Las Encinas com seus três filhos, Ari (Carla Díaz), Mencia (Martina Cariddi) e Patrick (Manu Rios). Provavelmente, até o número de filhos foi calculado para dar motivação aos personagens que sobreviveram ao corte da temporada anterior. A trama de Ari está ligada a Guzman (Miguel Bernardeau) e Samuel (Itzan Escamilla); a trama de Mencia, ligada a Rebeka (Claudia Salas); e a de Patrick, ligada ao casal Omar (Omar Ayuso) e Ander (Áron Piper).

Além disso, existe a chegada do príncipe Phillipe (Pol Granch), que mesmo sendo um elemento que não escapa dessas dinâmicas já estabelecidas pela série, surge com uma narrativa potencial, que pode resgatar algum dos aspectos sócio-políticos da série, todos perdidos. Lembram dos problemas familiares de Omar? Lembram da questão das bolsas de estudo? Houve um tempo em que a série queria discutir pirâmides sociais e privilégios. Agora, tudo é uma questão de quem transa com quem ou quem matou quem. O contexto em que Phillipe está inserido é interessante, se desenvolve com certa segurança e pode ser um alívio para essa temporada.

Sim, porque Elite precisa de alívio. Mesmo num ambiente cercado de intrigas, drogas e luxúria, precisa existir algum tipo de ternura, de leveza, de encanto. A série, por enquanto, ainda te faz querer descobrir o que acontece no final da temporada, mas às custas de um miolo descartável, que não privilegia nenhum enredo que não possa gerar uma transa ao som de uma canção pop. Quem são esses personagens enquanto alunos? O que a escola tem mais a oferecer? Quem são eles enquanto amigos? Enquanto cidadãos?

Esperamos que no próximo dia 18, quando a série estrear na Netflix, alguma dessas abordagens seja presenteada com a atenção que merece.