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A Vida e a História de Madam C.J. Walker: o que é fato e o que é ficção na série

Saiba quais são as principais divergências entre a série da Netflix e a vida real de C.J. Walker

31.03.2020, às 01H00.
Atualizada em 31.03.2020, ÀS 10H53

O lançamento de A vida e a História de Madam C.J. Walker na Netflix levou para o mundo todo a narrativa que revelava quem tinha sido a primeira mulher negra milionária dos EUA, numa época em que conseguir ter um vida apenas digna era uma tarefa árdua para qualquer afro-descendente. Nascida Sarah Breedlove, Madam Walker teve sua história biografada por uma de suas descendentes, A'Lelia Bundles; e foi ela quem adiantou muitos dos fatos e ficções que permeiam a produção da Netflix. Walker foi mesmo a primeira milionária? Qual era sua relação, de fato, com Addie? Ela roubou a fórmula ou apenas criou uma melhor? Essas são algumas perguntas levantadas pela minissérie e que podem mudar a nossa perspectiva sobre essa impressionante mulher.

Fato: Madam Walker está no Livro dos Recordes

Madam C. J. Walker (Octavia Spencer) está realmente no livro dos recordes como a primeira mulher negra a ficar milionária com o próprio trabalho. Sua fortuna, na época, chegava a um milhão de dólares e havia um grande reconhecimento quanto a seu histórico de trabalho. A questão é que esse título chegou a ser colocado em dúvida, já que Annie Malone (figura que inspirou a personagem Addie) teve uma carreira tão bem sucedida quanto a de Walker e exatamente na mesma época. Embora alguns acreditem que Malone merecia algum crédito histórico, A'Lelia Bundles garante que os registros são suportam a teoria de que a rival de Walker teria chegado ao título antes dela. Isso nos leva a uma grande controvérsia da minissérie.

Ficção: A rivalidade entre Madam Walker e “Addie”

A relação conturbada entre Walker e Addie (Carmen Ejogo) é o que sustenta a narrativa central da minissérie. Walker teria roubado a fórmula de Addie após trabalhar com ela durante um curto período e isso causou uma rivalidade que durou por muito tempo. De fato, na minissérie Addie é colocada numa posição de vilã, tendo inclusive promovido uma perseguição e uma mágoa constante e perigosa contra Walker. Ao final, o sucesso de Madam é correlacionado ao fracasso de Addie, o que foi muito criticado por quem conhecia a verdadeira história. Annie Malone, a figura real, empregou Walker (ainda como Sarah) durante algum tempo, como vendedora; e mais tarde ficou sabendo que a funcionária estava vendendo seu produto. O máximo de atrito entre elas acontecia através de declarações de Malone na imprensa, onde falava sobre as cópias que existiam no mercado. Malone nunca foi atrás de Walker em Indianápolis e muito menos fracassou em sua empreitada mercadológica. Outro fator importante: ao contrário do que a série faz parecer, não havia também uma diferença de tom de pele entra elas. A'Lelia, inclusive, disse que um dos pontos que ela menos gosta na minissérie é que Madam Walker não tem uma amizade sólida com outras mulheres e na vida real, ela foi positivamente influenciada por várias delas. A série mostra Walker admitindo que roubou a fórmula, mas que ela foi melhorada. Não existe nenhuma evidência de que isso aconteceu.

Fato: O discurso interrompido

Para garantir a existência de sua fábrica, Walker invade e interrompe o discurso de Booker T. Washington na National Negro Business. Isso realmente aconteceu, mas A'Lelia Bundles declarou para a Bustle que os roteiristas não incluíram partes importantes do discurso de Walker e que isso era crucial, já que Madam foi rejeitada sob o argumento de que “estava tentando fazer as negras parecerem mais brancas”. A biógrafa também comentou seu desapontamento em não haver uma parceria realmente sólida entre roteiristas e pesquisadores, para garantir que apesar de tratar-se de uma dramaturgia, tudo seja mais apurado.

Fato: Madam era uma filantropa

Apesar de só ter ficado conhecida como a primeria milionária dos EUA, Walker tem um imenso legado dentro da comunidade afroamericana em termos de apoio e doações para vários programas e instituições. Alguns anos antes de sua morte, Walker fez doações em dinheiro para universidades frequentadas apenas por negros e também escolas fundamentais. Ela também doou para organizações focadas nas melhoria para os negros americanos, como também para orfanatos e abrigos. Contudo, sua maior contribuição esteve na educação e contratação de trabalhadores afroamericanos durante o curso de seu negócio. Para a realidade restrita e segregada da comunidade negra, algumas oportunidades – como as que ela oferecia – serviam como arauto para as vindouras melhorias que precisariam ser feitas com relação ao mercado de trabalho.

Ficção: A sexualidade de A'Lelia

A'Lelia Walker, filha de Madam e A'Lelia Bundles, descendente e pesquisadora que escreveu a obra onde parte da minissérie se apoiou, compartilham o mesmo nome. Porém, Bundles tem muitas reservas quanto ao que a série fez com sua homônima. Na minissérie da Netflix, a filha de Madam Walker tem um romance com uma moça chamada Esther e embora haja alguns rumores sobre a sexualidade de A'Lelia, nenhum deles tem bases em fatos. A'Lelia Walker, inclusive, teve vários atritos com a mãe, mas todos por causa do triângulo amoroso que viveu com dois médicos. Wiley Wilson era um bad boy e James Arthur Kennedy era o bom moço. Como de praxe, A'Lelia se casou com o bad boy e apenas anos depois, quando a mãe estava no leito de morte, ela divorciou-se e casou-se com Kennedy.

Ficção: Madam Walker versus suas empregadas

Na minissérie da Netflix, há uma sequência que mostra a insatisfação das empregadas de Madam Walker através de um protesto em frente a sua mansão. O motivo do protesto era a venda do produto capilar de Walker nas farmácias, o que tornaria o trabalho das vendedoras obsoleto. Isso, de fato, não aconteceu dessa maneira. Na vida real, as vendedoras tiveram as mesmas preocupações, mas apenas demonstraram-na para Madam em forma de petição. No fim, tanto na série quanto na vida real, as relações entre todos foram resolvidas.

Fato: Madam Walker careca

Logo no começo da minissérie da Netflix, conhecemos uma Sarah Breedlove (antes de se tornar a Madame) vivendo um terror capilar. Por causa de alergias e estresse, ela começou a perder o cabelo e apesar de ter irmão barbeiros, não conseguia encontrar nada que ajudasse. Na ficção, Addie bate à sua porta oferecendo o milagre. Mas, de fato, Sarah conheceu Annie Malone/Addie numa feira de produtos perto de casa. Após usar a fórmula de Malone, os cabelos voltaram a crescer e Sarah passou a trabalhar para a mulher como vendedora.

Fato e Ficção: A vida pessoal de Madam Walker

No que diz respeito a vida pessoal de Madam C.J. Walker, a minissérie é certeira em quase tudo, com algumas exceções. Madam casou-se pela primeira vez aos 14 anos, apenas para fugir de um lar destrutivo e opressor. Foi com esse marido, Moses McWilliams, que ela teve sua filha. Logo depois, Walker se casou novamente, com John Davis e ficou com ele por quase dez anos. O casamento, contudo, revelou-se tão destrutivo e opressor quanto sua vida antes do primeiro e ela se separou. Foi então que conheceu C.J. Walker e passou a usar o nome dele em seus produtos. Mas, diferente do que acontece na minissérie, ela se separou dele antes de começar a ter sucesso. O Sr. Walker começou uma relação com uma das funcionárias de Madam e após o divórcio, ele tentou começar uma empresa, vendendo os produtos. Após o fracasso no próprio casamento e na empresa, o Sr. Walker chegou ao fundo do poço e pediu desculpas públicas por ter deixado – segundo ele – que “uma mulher terrível destruísse sua vida”. Ele alegava que a amante o seduziu apenas para roubar a fórmula dos produtos.